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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

“Por que Jesus, sendo o próprio Deus e, portanto, tendo conhecimento de tudo, perguntou três vezes a Pedro: ‘Tu me amas?’”


Jesus manifestou-se aos seus discípulos e, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo.” Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”. E disse de novo a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro disse: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas”. Pela terceira vez, perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, tudo me amas?” Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: “Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”.[1]



Assim nos responde o Mons. João Clá, em sua homilia de 2 de junho de 2006, para um auditório de jovens Arautos do Evangelho:


[2]Por que razão Nosso Senhor está perguntando? Ele sabe isso desde toda a eternidade enquanto Segunda Pessoa da Santíssima Trindade! Ele viu São Pedro desde todo o sempre e viu São Pedro nesta hora, nesta fase de vida espiritual. Nosso Senhor sabia perfeitamente que São Pedro teria essa disposição de alma, Ele sabia que São Pedro amava a Ele mais do que todos os outros. Por que pergunta? E pergunta três vezes!
Todos os comentaristas dizem que era para reparar as três negações que São Pedro faria. Portanto, Jesus perguntava três vezes para dar oportunidade a São Pedro de reafirmar o amor que tinha a Nosso Senhor e, com isso, reparar as três negações.




Mas há ainda outra razão. Por que outro motivo Nosso Senhor pergunta? Para Ele saber, não é. Se Ele pergunta, é para benefício dos outros, para benefício da História e para benefício de Pedro.


Ora, o amor precisa ser explicitado. Para que o amor possa deitar raízes, para que tenha valor e seja autêntico, ele precisa ser explícito, não basta ficar no fundo do coração, precisa manifestar-se. Quando o amor é autêntico, quando o amor é forte, quando o amor é firme, ele se manifesta.



Nesse trecho do Evangelho, Nosso Senhor já está em corpo glorioso. Isso criava um ambiente de um respeito único, e esse amor não se manifestava exteriormente. O amor podia até crescer interiormente, mas não se punha em termos. Era preciso, então, que Nosso Senhor desse essa chance a São Pedro e deixasse claro diante dos outros que Pedro era o que mais amava. E o próprio São Pedro também tinha que tomar consciência de que ele era o que mais amava.


Por que foi dado a Pedro mais amor? Não imaginemos que foi um esforço de São Pedro: “Bom, eu agora vou fazer um exercício e vou ultrapassar todo mundo em matéria de amor!” Não, o amor é um dom de Deus, o amor é o Espírito Santo! Para quê São Pedro tinha recebido mais amor? Não era para se deliciar e se fechar em si mesmo, porque Nosso Senhor vai dizer: “Apascenta as minhas ovelhas”. Por que foi dado a este mais amor que aos outros? Para apascentar e apoiar os demais.


Portanto, estes dons que a Providência dá a estas e àquelas pessoas, são dados com objetivo de servir, são dados com objetivo de apoiar, com objetivo de fazer apostolado. É por isso que Nosso Senhor recomenda a Pedro que apascente as ovelhas, porque ele amava mais. Quanto mais amor se tem, mais capacidade se tem de apascentar.


E nós vemos uma correlação que existe entre o amor e o apostolado. É preciso amar para fazer apostolado, pois há uma correlação enorme entre amar a Deus e fazer bem aos outros.


Apostolado não é um método. Se fosse um puro método, fazia-se uma escola: “Escola de Apostolado”, e a pessoa podia levar uma vida relativista em matéria moral e depois aplicar os métodos. Não é assim! O próprio Pe. Garrigou-Lagrange, falando sobre apostolado, cita o livro “A alma de todo apostolado”, de Dom Chautard, e mostra que há uma inteira correlação entre o apostolado e a vida interior. Sem vida interior, não há apostolado! Essa é uma tese não só de Dom Chautard, é uma tese da Igreja.


E aqui está a prova: primeiro é preciso crescer no amor, como está dito aqui por Nosso Senhor a São Pedro, para depois, então, dar aos outros. Quem mais ama, mais cuida; quem mais ama, mais faz apostolado. Antes de tudo, é preciso crescer no amor. Apostolado sem amor não existe!

[1] Liturgia Diária, Paulus, junho de 2006.
[2] Trecho adaptado para a linguagem escrita, sem revisão e conhecimento do autor.