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sexta-feira, 20 de maio de 2011

O fermento farisáico

Gostam de ter os primeiros lugares nos banquetes, e as primeiras  cadeiras nas sinagogas,
Jesus ama e deseja a existência de uma hierarquia, quer seja na esfera civil, quer na eclesiástica. Não é a ela, portanto, que Ele dirige sua crítica, mas sim ao gosto vaidoso e nada feito de amor a Deus em busca de boas posições. No fundo, condena o mundanismo, defeito característico daqueles que fazem consistir nos bens desta terra o fim último de suas próprias ações.

Novamente não condena Jesus as saudações públicas e nem sequer o título de “mestre”, mas tão-somente o vício de querer colocar-se no centro das atenções de todos. Jesus denunciava também a presunção no modo de rezar do fariseu, como na parábola narrada por Lucas (8), na qual o faz figurar ao lado do publicano.
Mas vós não vos façais chamar  rabis, porque um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos.
Um só Homem poderia dizer de si próprio: “Eu sou a Verdade”, porque só Ele é Deus. Todo outro que ensina, age por participação. Ora, os escribas e fariseus julgavam-se a fonte de toda verdade. Ademais, adoravam-se a si próprios, por se considerarem geradores de outros nas vias da perfeição, segundo o equivocado conceito de auto-estima de que estavam embebidos. Ora, nossa procedência sobrenatural é única; temos um só Pai e por isso somos todos irmãos. Daí continuar Jesus:
A ninguém chameis pai sobre a  terra, porque um só é o vosso Pai,  O que está nos Céus. 10 Nem façais  que vos chamem mestres, porque  um só é o vosso Mestre, Cristo. Quem entre vós for o maior, seja  vosso servo.
A essa virtude nos convida o Eclesiástico: “Quanto maior fores, mais te humilhes e encontrarás graça diante de Deus” (Eclo 3, 20). Os santos nos dão maravilhosos exemplos dessa virtude e por isso conseguem magistralmente aliar uma extraordinária humildade a seu extremo oposto, a magnanimidade. Seguem eles o conselho de Tiago: “Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele vos exaltará” (Tg 4, 10)
Por isso comentam os santos Doutores que Jesus, nessa passagem, não só anatematiza o desejo egoísta de ocupar os primeiros postos, mas incentiva a se buscarem os últimos lugares. E assim se exprime São Remígio a este propósito: “Todo aquele que se exalta por seus próprios méritos, será humilhado diante de Deus; mas o que se exalta em virtude dos benefícios recebidos de Deus, será exaltado diante d’Ele” (9). Tal qual diz o último versículo do Evangelho de hoje:
Aquele que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será  exaltado.
Exemplo nesse particular, insuperável, é o próprio Cristo, que de Si mesmo pôde afirmar: “Eu não procuro a minha glória” (Jo 8, 50). “Se Eu Me glorifico a Mim mesmo, a minha glória não é nada; meu Pai é que Me glorifica, Aquele que vós dizeis que é vosso Deus” (Jo 8, 54).
O farisaísmo: mal de todas as eras
O início do capítulo 23 de São Mateus é um mero preâmbulo da grande e grave condenação que se estende pelos versículos subseqüentes. Para quem não viveu aqueles dias, uma interrogação se levanta: por que tanta incompatibilidade entre Jesus e os fariseus? Além do mais, chama fortemente a atenção o fato de terem os Evangelistas dedicado bons trechos de suas narrações a essa contenda, apesar de a síntese ser o costume da escrita de então. Sabemos por experiência e pela História que um partido político-religioso é fadado a desaparecer com o tempo; portanto, o farisaísmo tinha seus dias contados. Por isso, mais ainda se acentua a pergunta: por que essa implacabilidade de ambas as partes?
Basta-nos afirmar, por ora, que o farisaísmo é um mal de todas as eras. Jesus, o Divino Profeta, discerniu quanto seria funesta a presença atuante e dinâmica do fermento farisaico junto aos seus fiéis batizados. Falemos em “fermento” porque, embora o fariseu clássico de há dois mil anos não mais exista, Jesus nos aconselha: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus” (Mt 16,6). Disse isto dirigindo-se aos Apóstolos, para preveni-los do risco desse perigoso contágio.
Em se tratando de um mal de todas as eras, surge uma outra pergunta: como caracterizar o fermento farisaico em nossos dias? Haverá atualmente católicos que demonstram uma acurada e escrupulosa consciência a propósito de um determinado Mandamento e, de outra parte, um grande relativismo em matérias mais graves? Haverá ainda hoje aqueles que facilmente se escandalizam com banalidades e logo emitem um juízo temerário e malicioso, descuidando-se “da justiça, da misericórdia e da fidelidade”? (Mt 23, 23) Haverá os que manifestam desprezo pelos outros, como se fossem piores do que eles próprios? Haverá o mesmo mundanismo de outrora, tão vituperado pelo Divino Mestre?
Quantas outras perguntas poderíamos fazer para melhor analisar nossa atual quadra histórica e assim sabermos onde se concentra o fermento farisaico!
Em síntese, o farisaísmo poderia ser definido como a soma de todos os pecados, pois, assim como a santidade é a verdade e contém todas as virtudes, a mentira e o vazio farisaicos contêm todos os vícios, e a eles conduzem.