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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Comentário ao Evangelho – Solenidade da Ascensão do Senhor – Lc 24, 46-53 – Ano C - 2013


Comentário ao Evangelho – Solenidade da Ascensão do Senhor –  Lc 24, 46-53 – Ano C - 2013

Os frutos da Ascensão nos beneficiam a cada instante, tal como a última bênção de Jesus aos Apóstolos, no Monte das Oliveiras, se prolonga através da História até cada um de nós.
46 E disse-lhes: “Assim está escrito que o Cristo devia padecer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, 47 e que em seu nome havia de ser pregado o arrependimento e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48 Vós sois as testemunhas destas coisas. 49 Eu vou mandar sobre vós o Prometido por meu Pai. Entretanto, permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do Alto”.
50 Depois, levou-os até junto de Betânia e, levantando as suas mãos, abençoou-os. 51 E enquanto os abençoava, separou-Se deles e era levado para o Céu. 52 Eles, depois de O adorarem, voltaram para Jerusalém com grande alegria, 53 e estavam continuamente no Templo louvando a Deus (Lc 24, 46-53).
Suprema glorificação de Cristo
Às vezes, a perfuração produzida por uma agulha é mais danosa do que o golpe de um martelo, sobretudo quando ela atinge pontos vitais. Essa comparação talvez ainda ganhe em substância e expressividade se revertida para o campo da polêmica doutrinária, como se verificou na refutação de São Bernardo ao judeu que, no alto do Calvário, desafiou a Cristo em sua agonia: “Se és o Filho de Deus, desce da Cruz” (cf. Mt 27, 42; Mc 15, 32). Segundo o Fundador de Claraval, é mal concebida essa proposta para comprovar a origem divina de Jesus, pois a realeza, e mais ainda a divindade de um ser, não se torna patente pelo ato de descer, mas muito ao contrário, pelo de subir. E foi exatamente o que sucedeu com Jesus, quarenta dias após sua triunfante Ressurreição. Por isso, debaixo de certo ângulo, a Ascensão do Senhor ao Céu constitui a festa de maior importância ao representar a glorificação suprema de Cristo Jesus. Ele próprio a havia pedido ao Pai: “Glorifica-Me junto de Ti mesmo, com aquela glória que tive em Ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17, 5); “Pai, chegou a hora, glorifica o teu Filho, para que teu Filho glorifique a Ti” (ibid. v. 1). Daí ser compreensível a manifestação de alegria dos Santos Padres ao comentarem essa glorificação do Cordeiro de Deus. “A glória de Nosso Senhor Jesus Cristo se completa com sua Ressurreição e Ascensão. (...) Temos, pois, o Senhor, nosso Salvador, Jesus Cristo, primeiro pendente de um madeiro e agora sentado no Céu. Pendendo no madeiro, pagava o preço de nosso resgate; sentado no Céu, recolhe o que comprou” (1).
A morte não sepultou Jesus no esquecimento
De fato, esse júbilo a propósito da Ascensão, que pervade a alma dos santos e se manifesta tão patente no texto do Ofício Divino e na própria Liturgia de hoje, tem sólido fundamento, pois jamais se ouviu dizer de alguém que, ao deixar este mundo, se elevasse aos olhos de centenas de testemunhas e, por seu próprio poder penetrasse nos Céus.
Bem ao contrário, após a morte, nossos corpos gélidos e inertes descem ao seio da terra e, na maioria dos casos, até a nossa lembrança se apaga na mente dos que aqui permanecem. A propósito de Cristo, deu-se exatamente o inverso, pois não só a recordação de seus ensinamentos, de seus atos e até de sua história se prolongou através dos séculos, como também suas testemunhas, dotadas de um poder sobre-humano, fizeram ecoar seus relatos em meio aos povos e através das gerações. Para tal, contribuíram os quarenta dias de permanência de Jesus ressurrecto entre os discípulos. A debilidade destes certamente exigia esse poderoso remédio, pois os episódios em torno da Paixão do Senhor abalaram a sensibilidade psicológica e até a própria virtude da fé de todos eles.
As perspectivas humanas dos Apóstolos dificultavam sua visão sobrenatural do Messias
As primeiras notícias sobre a Ressurreição encontraram um vácuo de incredulidade em cada um deles, a ponto de Tomé só ter-se convencido ao tocar-Lhe as chagas. Compreende-se a lógica dessas reações, pois, humanos como eram, formados na perspectiva de um Messias com fortes traços políticos, acostumados ao longo de três anos a um convívio todo feito de paternal e penetrante afeto, só poderiam assim se sentir protegidos, assumidos e transformados. E por isso desejavam perpetuar aquele relacionamento a partir de onde se havia interrompido com aquela morte tão ignominiosa.
Contudo, os véus da carne mortal lhes obumbravam a real visão da divindade do Salvador. Era indispensável substituírem a experiência um tanto humana por outra mais elevada na qual apalpassem, por assim dizer, os reflexos da Alma gloriosa de Jesus sobre seu sagrado Corpo. Para poder cumprir sua missão redentora, Ele havia feito um milagre em detrimento de suas próprias qualidades, rompendo leis por Ele criadas. Desde o primeiro instante de sua Concepção, no seio da Virgem Mãe, sua santíssima Alma gozava da visão beatífica e, em conseqüência, seu adorável Corpo deveria ter sido glorioso. Se assim fosse, porém, não poderia Ele padecer. Ora, por essa razão, os discípulos acabaram por se habituar a uma interpretação a respeito do Filho de Deus muito distante daquela que se terá no Céu. Essa situação chegou ao extremo de terem sido os Apóstolos os únicos a comungar o Corpo padecente de Jesus na Eucaristia, distribuída na Santa Ceia.
Por que Jesus conviveu quarenta dias com os Apóstolos, em Corpo glorioso
Por aí se pode compreender o quanto, após a Paixão de Jesus, as saudades dos Apóstolos e discípulos giravam em torno de um relacionamento de certa forma equivocado. Entende-se melhor também a necessidade do Redentor conviver com eles quarenta dias em Corpo glorioso, pois Jesus “não quis que permanecessem sempre carnais nem amando-O com amor terreno. Queriam que estivesse sempre com eles, carnalmente, movidos pelo mesmo afeto pelo qual Pedro temia vê-Lo padecer. Consideravam-No seu mestre, consolador e protetor, homem, afinal, como eles próprios; e se não vissem algo diferente julgá-Lo-iam ausente, sendo que Ele estava presente em todos os lugares com sua majestade”.
Por outro lado, em face da lembrança traumatizante dos dias da Paixão, “convinha agora levantar-lhes o ânimo para começarem a pensar n’Ele espiritualmente, como o Verbo do Pai, Deus de Deus, pelo qual todas as coisas foram feitas; esse pensamento lhes era vedado pela carne que viam. Convinha, sim, confirmá-los na fé, vivendo com eles quarenta dias, mas era ainda mais conveniente separar-Se de suas vistas para que Quem na terra os estava acompanhando como irmão os socorresse desde o Céu como Senhor, e eles aprendessem a pensar n’Ele como em Deus” (2).
“Não vos deixarei órfãos”
O próprio Jesus havia afirmado: “É melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, Eu vo-Lo enviarei. (...) Eu vou para o Pai, e já não Me vereis” (Jo 16, 7.10). E, de fato, os Apóstolos nunca mais O encontraram, pois, ao penetrar no Céu, deixou de estar presente na terra de modo natural.
Em contrapartida, Ele mesmo prometera: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20). E realmente Ele está entre nós, na Eucaristia, debaixo dos véus das Sagradas Espécies. Ademais, nunca deixa de nos acompanhar: “Subindo aos Céus, Ele não abandona de modo algum aqueles que adotou” (3). Estas belas palavras de São Leão Magno fazem eco às de Nosso Senhor: “Não vos deixarei órfãos” (Jo 14, 18).
Consola-nos constatar o quanto se tem cumprido essa promessa ao longo destes vinte e um séculos, dia após dia, das mais variadas maneiras. Não poderia ser que sua Ascensão constituísse um abandono daqueles por quem Ele se Encarnou e morreu no Calvário. Seu retorno ao Pai só pode ter-se dado na seqüência desse amor incomensurável d’Ele a cada um de nós. A Ascensão deu-se por uma conveniência sua, mas também para benefício nosso. São Tomás nos ensina: “O lugar deve ter proporção com quem nele está. Ora, Cristo, após a Ressurreição, deu início a uma vida imortal e incorruptível, e o lugar no qual habitamos é lugar de geração e de corrupção, ao passo que o lugar celeste é um lugar de incorrupção. Logo, não era conveniente que Cristo, após a Ressurreição, permanecesse na terra e, sim, que subisse ao Céu” (4). E ao ocupar um lugar no Céu, proporcionado à sua Ressurreição, “algo se Lhe acrescentou no que diz respeito ao decoro do lugar, o que redunda em bem da glória”. E citando o Salmo 15, 11: “À tua destra delícias eternas até o fim”, São Tomás aplica a este versículo o comentário da glosa: “Terei prazer e alegria quando estiver sentado a teu lado, após ter sido tirado da vista humana” (5).
Benefícios da Ascensão

Também nós fomos beneficiados por incontáveis dons com a Ascensão. Segundo São Leão Magno, passamos a conhecer melhor Jesus a partir do momento em que Ele retornou às glórias do Pai. Nossa fé, “mais esclarecida, aprendeu a elevar-se pelo pensamento, sem necessidade do contato com a substância corporal de Cristo, na qual Ele é menor que o Pai, dado que, embora permanecendo a mesma substância do corpo glorificado, a fé dos fiéis é convidada a tocar, não com a mão terrena, mas com o entendimento espiritual, o Unigênito, igual Àquele que O engendrou. É este o motivo pelo qual o Senhor, após a Ressurreição, disse a Madalena — que representava a pessoa da Igreja —, ao aproximarse para tocá-Lo: ‘Não me toques, pois ainda não subi ao meu Pai’ (Jo 20, 17). Quer dizer, não quero que procures minha presença corporal nem que me reconheças com os sentidos carnais; chamo-te para coisas mais elevadas, destino-te a bens superiores. Quando subir a meu Pai, Me tocarás de forma mais real e verdadeira, tocando no que não apalpas e crendo no que não vês” (6).

Fortalecimento da fé

Demonstra-nos São Tomás de Aquino que, privando-nos de sua presença corporal, ao penetrar na glória eterna, Jesus Cristo tornou-se ainda mais útil para nossa vida espiritual.

Primeiro, “para aumento da fé, que é sobre o que não se vê. Por isso, o próprio Senhor diz no Evangelho de João que o Espírito Santo, ao vir, ‘argüirá o mundo a respeito da justiça’, ou seja, da justiça ‘dos que crêem’, como diz Santo Agostinho: ‘A própria comparação dos fiéis com os infiéis é uma censura’. Por isso, acrescenta: ‘Porque Eu vou para o Pai e não Me vereis mais, pois são bem-aventurados os que não vêem e crêem. Será nossa a justiça, de que o mundo será argüido, porque credes em Mim, a Quem não vedes’” (7).

A esse propósito, São Gregório Magno externa sua convicção: “Com sua facilidade em crer, Maria Madalena nos aproveita menos do que Tomé duvidando por muito tempo, porque este, em meio a suas dúvidas, exigiu tocar as cicatrizes dessas chagas, e com isso nos tirou todo pretexto para vacilação” (8).

Aumento da esperança

Em segundo lugar, “para reerguer a esperança”, pois, “pelo fato de Cristo ter elevado ao Céu sua natureza humana assumida, deu-nos a esperança de lá chegarmos, porque ‘onde quer que esteja o corpo, ali se reunirão as águias’, como diz Mateus. Por isso, diz também o livro de Miquéias: ‘Já subiu, diante deles, Aquele que abre o caminho’” (9).

Abrasamento da caridade

Uma terceira razão, ainda segundo São Tomás, torna a Ascensão mais benéfica a nós do que a própria presença física de Nosso Senhor, e esta se refere à caridade. Na seqüência dessa mesma questão da Suma, o Doutor Angélico, a fim de nos mostrar as vantagens para essa virtude, cita São Paulo: “Por isso, diz o Apóstolo: ‘Procurai o que está no alto, lá onde Se encontra Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas de cima, não às da terra’, pois, como foi dito, ‘onde estiver o teu tesouro, ali também estará o teu coração’” (10). E, após discorrer sobre o amor enquanto propriedade do Espírito Santo e a respeito da grande necessidade que dele tinham os Apóstolos, termina com esta citação de Santo Agostinho: “Não podeis receber o Espírito enquanto persistirdes em conhecer a Cristo segundo a carne. Pois quando Cristo Se afastou corporalmente, não só o Espírito Santo, mas também o Pai e o Filho estavam espiritualmente em presença deles” (11).

A narração de São lucas

Ser-nos-á mais fácil, depois das antecedentes considerações, analisarmos o próprio texto do Evangelho de hoje.

Continua no próximo no post.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

EVANGELHO DO VI DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C – 2013 Jo 14, 23-29


CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO 6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C – 2013   Jo 14, 23-29


Presença íntima de Deus, como Pai e como Amigo

Com muita clareza e precisão teológica, o grande teólogo Pe. Antonio Royo Marin, OP, resume a essência dessa inabitação da Santíssima Trindade na alma do justo, afirmada por Jesus neste versículo: “Presença íntima de Deus, uno e trino, como Pai e como Amigo. Este é o fato colossal que constitui a própria essência da inabitação da Santíssima Trindade na alma justificada pela graça santificante e pela caridade sobrenatural.

No cristão, a inabitação equivale à união hipostática na pessoa de Cristo, se bem que não seja ela, mas sim a graça santificante, a que nos constitui formalmente filhos adotivos de Deus. A graça santificante penetra e embebe formalmente nossa alma, divinizando-a. Mas a divina inabitação é como a encarnação em nossas almas do absolutamente divino: do próprio ser de Deus tal como é em si mesmo, uno em essência e trino em pessoas” (9).

Estas são as maravilhas do universo sobrenatural que nos fazem, através das virtudes teologais, acompanhar frutuosamente as revelações trazidas à terra pelo Verbo Encarnado: “para que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que também eles, sejam um em Nós (...) Eu neles e Tu em mim, para que a sua unidade seja perfeita.” (Jo 17, 21 e 23).

Depois de haver ensinado a grande importância do amor a Deus, ou seja, da perfeita caridade, nos versículos posteriores, Jesus estimula os discípulos à prática das duas outras virtudes teologais: a da Fé e a da Esperança.

CONCLUSÃO

A essa impostação de espírito nos convida o Evangelho de hoje. Jesus não está visível entre nós, pois, há dois milênios, subiu ao Céu. Entretanto, pelo sacramento do Batismo e pela ação do Espírito Santo, sua figura se encontra delineada em nossas almas, convidando-nos a amá-Lo com exclusividade. As graças nos amparam nesse caminho. Toda a nossa existência gira em torno de dois únicos amores, pois não há um terceiro: o amor a Deus levado até o esquecimento de si mesmo, ou o amor a si próprio levado ao esquecimento de Deus.

Qual desses amores é praticado por nossa era histórica, e quais as conseqüências correspondentes? Eis uma boa questão para se considerar com toda seriedade por ocasião da Ascensão do Senhor ao Céu, de onde virá julgar os vivos e os mortos, ou seja, os que amaram e os que se recusaram a amar.

1) Obras de San Agustín, BAC, t. VII, p. 568 2) Idem, t. XIV, p. 509 3) Suma Teológica III, q 1, a 1; Contra Gentes: I. III, c XI, n. 1. 4) São Tomás nos ensina ser tão eficaz o amor de Deus que chega a infundir o bem na criatura por Ele amada: “O amor de Deus cria e infunde o bem” (Suma Teológica I, q. 20, a. 2). 5) Veja-se, por exemplo, Mt, 28, 19; 2Cor 13,13; ou IPe 1,2. 6) Suma Teológica I, q 8, a 1 7) Suma Teológica I, q 8, a 3 8) Santo Agostinho, apud Catena Áurea. 9) Somos hijos de Dios, BAC — Madri, 1977, pp. 47 e 48.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

EVANGELHO DO VI DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C – 2013 Jo 14, 23-29


CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO 6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C – 2013   Jo 14, 23-29


“... e Nós viremos a ele, e faremos nele a nossa morada.”
No Antigo Testamento não se havia chegado a uma clara noção da existência e da atuação das três Pessoas Divinas. De forma transparente e sem margem de dúvidas, esse mistério nos é revelado por Nosso Senhor Jesus Cristo e reafirmado em formulações distintas pelos Apóstolos (5).
No evangelho deste VI domingo da Páscoa, o Redentor faz menção mais uma vez a este admirável mistério ao utilizar a palavra “Nós”. E promete, ao mesmo tempo, estar presente na alma daquele que O ama e cumpre seus preceitos. Assim, dirá São João em sua primeira Epístola: “Deus é caridade, e o que vive na caridade permanece em Deus, e Deus nele” (1Jo 4, 16); e São Paulo aos Coríntios: “Vós sois o templo de Deus vivo” (2Cor 6, 16).
Como pôde Jesus prometer essa vinda sobre aqueles que O amam e guardam a sua palavra, quando na realidade Deus já se encontra presente em todas as suas criaturas?
O Criador, explica-nos São Tomás, “está presente em todas as coisas e no mais íntimo delas (et intime)” (6). Ou mais especificamente: “Deus está presente em todas as coisas por potência, porque tudo está submetido ao seu poder. Está por presença, porque tudo está patente e descoberto a seus olhos. E está por essência, porque atua em todos como causa de seu ser” (7). Em face disso, como entender essa promessa de Jesus?
Nada difícil!
A dependência de todos os seres criados em relação a Deus é absoluta, pois, além de receberem d’Ele a existência, nela são constantemente sustentados em sua natureza. Deus cria e conserva tudo quanto existe, inclusive o demônio, assim como o próprio inferno. Ora, onde age um puro espírito, ali está ele presente. Portanto, Deus está presente em toda parte.
Não é, porém, a essa presença que Jesus faz referência neste versículo, mas sim a uma outra muito superior, exclusiva aos filhos de Deus, e que supõe sempre a graça santificante (estado de graça).
Note-se bem tratar-se aqui de uma presença permanente, pois Jesus fala em estabelecer a morada da Santíssima Trindade na alma que O ama e guarda sua palavra. É uma vinda do Pai e do Filho — e, inseparáveis que são do Espírito Santo, também d’Este — espiritual e íntima, como nos ensina Santo Agostinho: “Vem com seu auxílio, nós com a obediência; vem iluminando-nos, nós contemplando-O; vem enchendo-nos de graças, nós recebendo-as, para que sua visão não seja para nós algo exterior, mas interno, e o tempo de sua morada em nós não seja transitório, mas eterno” (8).
Continua no próximo post.

domingo, 28 de abril de 2013

EVANGELHO DO VI DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C – 2013 Jo 14, 23-29


CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO VI DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C – 2013   Jo 14, 23-29


“... e meu Pai o amará ...”
Entretanto, esse amor a Jesus não confere a quem o possui somente a fidelidade aos divinos ensinamentos. Dele se origina um fruto muito mais precioso: “e meu Pai o amará”.
Se o amor a Deus nos traz tão grande benefício, que se poderá dizer do fato de ser alguém objeto de seu amor? São Tomás explica-nos, como sempre com magistral lucidez, quão grande é a capacidade de difusão do bem, por sua própria natureza (3). Quanto maior é a perfeição, mais tende ela a comunicar-se plenamente. Desde os seres mais simples, como os minerais, até o sobrenatural, há uma verdadeira sinfonia do dar-se em toda a ordem da criação.
Correm caudalosos os rios em busca dos oceanos, fertilizando a terra por onde passam. E tanto as águas doces dos lagos e rios, quanto as salgadas do mar, fornecem ao homem alimento em profusão. O sol não cessa de fazer incidir seus calorosos e essenciais raios sobre todo o orbe, dando brilho e vitalidade a tudo quanto diante dele se apresenta. Os vegetais com suas substâncias, folhas, flores e frutos, embelezam os panoramas, perfumam os bosques e jardins, oferecem-nos seu oxigênio e nos agradam com seus sabores. As laboriosas abelhas produzem seu mel para alimento e alegria dos homens. Os animais se multiplicam e tornam aprazíveis nossas refeições e nossos entretenimentos. E a nota predominante dessa grande sinfonia é sempre a superabundância.
No plano da humanidade, o grau de comunicatividade do bem é ainda maior. Os pensadores, ou os artistas, desejam invariavelmente dar amplo conhecimento de tudo que surge de suas mentes ou de suas mãos. Uma alma, quanto mais se eleva nas vias da virtude, mais cresce no empenho em fazer bem aos outros.
Ora, Deus é o Bem por excelência, o Bem substancial, e por isso convém a Ele o comunicar-Se às criaturas em grau também excelente e pleno (4). Eis o mais elevado aspecto do mistério da Encarnação, ou seja, em Jesus, sua privilegiada e santíssima alma e seu sagrado corpo constituem uma só Pessoa com o Verbo Eterno. N’Ele estão as propriedades humanas e toda a essência divina. N’Ele, o amor do Pai chegou aos limites infinitos. E, através da fé, colocou ao alcance dos homens a plenitude do Bem, que é o próprio Deus, conforme os ensinamentos de Jesus a Nicodemos: “De fato, Aquele a Quem Deus enviou fala palavras de Deus, porque Deus lhe dá o espírito sem medida. O pai ama o Filho e pôs todas as coisas em sua mão. Quem acredita no Filho tem a vida eterna” (Jo 3, 34-36). Mais tarde Jesus acrescentará: “A vontade de meu Pai que me enviou é que todo o que vê o Filho e crê n’Ele, tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 40).
E logo após Jesus, na ordem do ser, e juntamente com Ele no plano divino e eterno da criação, encontra-se no mais alto grau de santidade, enquanto objeto desse amor eficaz de Deus, a Virgem Maria. Ela foi eleita para ser a Mãe do Verbo Encarnado, por estar penetrada do mais excelente amor a Deus na ordem das puras criaturas e por ser a mais amada pela Trindade Divina.
Continua no próximo post.