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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Meditação para o Primeiro Sábado

Mons. João S. Clá Dias
Segundo Mistério Glorioso: Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo

 Primeiro Ponto
E comendo com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem, aí,  o cumprimento da promessa de seu Pai, “que ouvistes”, disse ele, “da minha boca; porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui a poucos dias”. (At. 1, 4-5).

“Comendo”... Nosso Senhor quando estava em sua vida mortal, jejuou durante quarenta dias para nos mostrar que precisamos tomar os alimentos com critério e com cuidado, mas ao ressuscitar, Ele passou ainda quarenta dias neste mundo, e nas várias aparições Ele comia com os Apóstolos.
A comida deve ser para nós um elemento de santificação, ela deve ser mais do que um alimento para o corpo, um alimento para a alma. Devemos aí tomar a comida em sua função primordial, pois foi o que Jesus fez: “E comendo com eles...” Era a última vez em que Nosso Senhor estaria com eles, é o último ato antes da despedida, em breve Ele subirá aos céus e para celebrar este derradeiro ato de sua presença entre os Apóstolos, escolheu uma refeição.
Nosso Senhor quer nos mostrar neste trecho dos Atos dos Apóstolos, o quanto nós devemos tomar a comida como sendo um elemento e um alimento para a nossa vida espiritual. Ora o mundo ateu de nossos dias toma os alimentos como a mera busca de vitaminas, com a preocupação das calorias, com a preocupação das gorduras, dos açucares e etc. Não é que não se deva ter preocupação com isso, mas é que não se deve fazer disso a principal preocupação ao comer. A principal preocupação ao usar dos alimentos, é subir até Deus.
Está dito, “ordenou-lhes”, Nosso Senhor não convida nesta ocasião, não orienta, não aconselha; Ele ordena. E por quê? Ele já passou pela crucifixão, já passou pela morte e ressurreição e está preste a subir aos céus e por isso Ele não mais convida, ordena. Estava claro que não bastava aconselhar, era preciso que fosse uma norma bem clara e precisa e por isso, ordenou.
Muitas vezes assim nos trata Nosso Senhor em nossa vida sobrenatural; vamos progredindo, progredindo, em certo momento aquilo que era para nós um convite, se torna uma obrigação, eu me sinto obrigado.
Contudo, quantas e quantas vezes vou estabelecendo uma amizade, um negócio, vou frequentando um determinado lugar sem me dar conta do perigo que significa aquele negócio, aquela amizade, aquele lugar e o mau que podem vir a fazer a minha alma. Mas em determinado momento, depois de Nosso Senhor ter trabalhado minha consciência e ter me mostrado que eu devo abandonar esta amizade, este convívio, aquele ambiente; em determinado momento se põe com clareza que de fato devemos abandonar.
Eu nesta meditação me pergunto: Quando Jesus ordena e eu vejo com clareza que devo de fato obedecer, eu tenho obedecido? Tenho deixado essa amizade, esse ambiente, aquele negócio? Ou pelo contrário corro atrás ávido...
Nosso Senhor ordenou o que? “Que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem, aí, o cumprimento da promessa de seu Pai.”
A espera dói, a espera angustia a alma; ter que esperar ainda mais quando se trata de uma promessa divina a ser realizada em nossa pessoa.
Voltemos os nossos olhos para o Paraíso terrestre, ali estão os nossos primeiros pais e a serpente. Adão e Eva depois de terem sido recriminados por Deus devem ser postos fora do Paraíso. Contudo, o Senhor lhes faz uma promessa: Que uma Virgem esmagará a cabeça da serpente.
Eles viveram 900 anos e depois deles ainda houve milênios e milênios pela frente, até aparecesse esta Virgem.
Às vezes rezamos , e queremos ser atendidos imediatamente, entretanto é preciso esperar com paciência. Os Apóstolos deveriam esperar, pois o que Nosso Senhor quererá deles é que atuem e atuem muito, mas com muito pensamento e muita calma.
...esperassem, aí, o cumprimento da promessa de seu Pai, “que  ouvistes”, disse ele, “da minha boca”; porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui a poucos dias.
O batismo de São João de fato não era sacramental, era um batismo simbólico e os Apóstolos não eram ainda batizados e eram eles que deviam batizar os povos. Como seriam eles batizados? Seria segundo a promessa que lhes tinha sido feita: no Espírito Santo.
*   *   * 
Terminado este primeiro ponto da meditação, vamos nos voltar a Maria Santíssima e pedir graças especialíssimas para saber esperar, para saber cumprir as ordens que Nosso Senhor nos dá, para saber usar dos alimentos e de tantos outros atos sociais como meios de chegarmos até Deus, como meio de elevarmos nossas almas às grandezas do céu.
Oh! Minha Mãe, dai-me a graça de ao comer, comer como Vós, dai-me a graça de tudo que esperar da Divina Providência, esperar como Vós e como esperou também o Vosso Divino Filho. Dai-me também a graça de, ao receber uma ordem interior de Jesus, segui-la como Vós.
Dai-me, oh Mãe, a graça dessa obediência que tiveram os Apóstolos de esperar o momento preciso da vinda do Espírito Santo, na própria cidade de Jerusalém e não saindo para essa ou aquela  atividade, como talvez eles gostariam de ter feito.
Sabemos que consolados como estavam e cheios de desejos de realizações, eles ouviram este conselho de Nosso Senhor com humildade, obediência e flexibilidade e não se lançaram na ação  entes que fosse cumprido o que Jesus lhes havia prometido.
Que nós assim também sejamos, oh nossa Mãe!

Segundo Ponto

Assim reunidos, eles o interrogaram: “Senhor, é por ventura agora que ides instaurar os reino de Israel?” Respondeu-lhes ele: “Não pertence a vós saber os tempos nem o memento que o Pai fixou em seu poder, mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, e em toda a Judéia  e Samaria e até os confins do mundo” (At. 1, 6-8).

Estavam os Apóstolos muito tocados por graças sensíveis, estavam com muito entusiasmo, fruto daquele convívio com o Homem-Deus que tinha morrido na cruz e tinha se alto-ressuscitado e que estava à mesa com eles comendo. Neste momento, certamente, consideravam todos os milagres que Jesus tinha feito: cura de leprosos, de cochos, cegos, surdos e mudos, ressurreições... Ele tinha multiplicado os pães duas vezes, tinha caminhado sobre as águas, mas sobretudo Ele tinha se alto-ressuscitado. Que esperança extraordinária tinha eles neste momento, como homens de uma visão inteiramente humana e pouco sobrenaturalizada, que tinha chegado à hora da restauração do reino de Israel. Estavam ávidos  de que o seu país se tornasse  o primeiro entre todas os outros, e a tendência pela falta da vinda do Espírito Santo, era julgar que Jesus então e afinal, transformaria Israel na primeira potência de sua época.
Era uma visão completamente naturalista de Jesus. Mas, o que respondeu Ele? “Não pertence a vós saber os tempos...”
Nós mesmos, quando somos tomados por graças especiais que nos consolam e nos afagam interiormente, que nos trazem paz, alegria e contentamento, não materializamos essas graças, exatamente como fizeram os Apóstolos?
(Teremos hoje aqui, a alegria de vermos recebendo a Eucaristia por primeira vez, duas jovenzinhas, o que é uma graça incalculável, receber o próprio Nosso Senhor, com corpo, sangue, alma e divindade, este é um dom insuperável, inimaginável. Por isso é bom que elas venham vestidas de branco, com o véu, a coroa de rosas na cabeça. Porquê? Porque vão receber a Deus Nosso Senhor em seu interior. Mas, quão fácil e perigoso é estar neste momento mais preocupada  com o vestido e com a repercussão junto aos outros, do que com as preocupações próprias do grande ato que aqui se realizará. Devemos, portanto ter em vista, o exemplo dos Apóstolos e ter todo o cuidado para não estar com as atenções em coisas secundárias).
Não devemos nunca tomar a Jesus para a nossa projeção social, pois, foi isso que fizeram os Apóstolos quando perguntaram se tinha chegado a hora de restaurar o reino se Israel.
O Divino Mestre disse que os Apóstolos seriam suas testemunhas. Nós também queremos ser testemunhas como eles foram, e para isso é indispensável sermos santos como santos foram os Apóstolos.
Dai-nos, ó Mãe, a graça dessa santidade.

Terceiro Ponto

Dizendo isso elevou-se da terra  à vista deles e uma nuvem o ocultou aos seus olhos. Enquanto o acompanhavam com seus olhares, vendo-o afastar-se para o céu, eis que lhes apareceram  dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: “Homens da Galiléia, por que ficastes aí a olhar para o céu? Esse Jesus que acaba de vos ser arrebatado para o céu voltará do mesmo modo que o viste subir para o céu”. (At. 1, 9-11)

Jesus sobe ao céu e antigamente se dava muita importância a este fato, pois era a termino da vida Dele nesta terra. Assim como à meia-noite do dia 24 de dezembro se celebra  o seu nascimento e às 3 horas da tarde da sexta-feira santa se celebra a morte de Nosso Senhor, havia também uma grande procissão  ao meio-dia na festa da ascensão  do Senhor. Infelizmente o mundo moderno, todo feito das loucuras da técnica e anseios naturalistas e materialistas, perdeu esse senso da beleza da ascensão de Jesus.
Por que sobe ao céu? Porque o seu corpo está tomado pela glória e assim como nosso corpo, concebido no pecado, quando o soltamos ele cai, havendo uma série de razões que o fazem pesado. Agora, quando a alma está na visão beatífica e o corpo no estado glorioso, a sua tendência  é subir e é exatamente por isso que Ele subiu céu. Não somente pela força divina, mas também porque sua alma está vendo Deus face a face e o seu corpo já é glorioso e portanto sobe  ao céu, por sua própria força  e a isso se dá o nome de ascensão.
Ele saiu de nossa vista física, deixando de estar presente aos nossos olhos, porque Ele queria que com isso nossa fé crescesse, mesmo sem vê-Lo e sem poder encontrar a sua figura corporal.
No momento em que o sacerdote eleva a sagrada Hóstia ou eleva o sagrado Cálice durante a Santa Missa, nós não veremos a Jesus diretamente, veremos as aparências do pão e do vinho, mas não veremos aquele Jesus com seu corpo, sangue, alma de divindade. Então todos aqueles que hoje comungarem não verão Nosso Senhor fisicamente, contudo terão sua fé robustecida, porque Ele disse a São Tomé: Bem-aventurados os que não vêem mas creem. Nós seremos bem-aventurados na missa, pois, embora não vejamos corporalmente a Jesus, O veremos com os olhos de nossa fé, crendo que ele está realmente presente nas Sagradas Espécies.
Ele subindo ao céu alimentou a nossa fé, nossa esperança, porque nós temos a esperança de um dia estar lá, pois Ele disse: Subirei ao Pai e lá prepararei a vossa morada. Ele subiu ao céu a nossa entrada nos céus. Ele subiu para aumentar o nosso amor a Deus, pois de lá Ele passa a ser o nosso intercessor maior, de lá Ele passa a advogar por nós. Do céu a sua ação é mais intensa, para que lá também possamos chegar.
Quando temos um parente que morre assistido pelo sacramento da Extrema-Unção e em inteira consonância com os mandamentos de Deus, nós choramos, porque corporalmente ele desapareceu do nosso convívio, mas ele entrou para o céu, o que significa a posse da felicidade eterna. Desse modo o nosso Redentor foi preparar a nossa felicidade eterna.
A subida de Nosso Senhor ao céu, fez com que tirássemos os nossos olhos das coisas dessa terra, fazendo nos esquecer das bagatelas que muitas vezes nos atormentam. No momento em que Jesus sobe ao céu, devemos esquecer de tudo aquilo que é obstáculo para vivermos, já nesta terra, participando das alegrias do céu.
Estarmos aqui com a atenção posta na ascensão de Nosso Senhor, é algo extraordinariamente benfazejo e estimulante à nossa perseverança.
Mons João Clá Dias - Meditação, Catedral da Sé, 7 agosto 2004

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A caridade é paciente, é benigna

Comentários de Mons João Clá Dias
A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não é vaidosa, não se ensoberbece; 5 não faz nada de inconveniente, não é interesseira, não se encoleriza, não guarda rancor; 6 não se alegra com a iniquidade, mas regozija-se com a verdade. 7 Suporta tudo, crê tudo, espera tudo, desculpa tudo. (1 Cor 13, 4-7)
Vamos fazer um exame de consciência.
Como é que está minha paciência? Eu suporto? Eu tolero? Quando me fazem alguma qualquer eu tomo com tranquilidade?
Eu não sou paciente se não tenho caridade. Não tendo caridade, por mais que eu tenha fé, dinheiro, faça atos extraordinários, não adiantou nada, não adiantou absolutamente nada. Não sou nada. Não adiantou nada.
Eu sou benigno? Eu vejo com bondade alguém que vem me pedir um auxílio? Ou eu sou vingativo: “Esse aqui está me pedindo este auxílio, mas antes ele fez tal coisa, tal outra, e agora é a hora de eu pegar o pescoço dele e esmagar, apertar o pescoço dele até ele pedir perdão”?
Se eu não sou benigno, eu não tenho caridade. E não tendo caridade, por maior que seja minha fé, não adiantou de nada.
Um vai, faz um ato extraordinário, eu olho e digo: “ Uh! Até que enfim! Este foi mais longe do que eu incomparavelmente. Era o que eu queria, que alguém me passasse para que a glória de Deus. Está ótimo”. E fico contente.
Se eu os tenho isso, quer dizer, se eu tenho essa reação, é porque eu possuo a caridade. Está ótimo.
Mas se eu vejo outro que fez algo melhor do que eu, entristeço-me e tenho vontade de eu fazer no lugar dele, eu não tenho caridade.
— Ah, mas eu tenho fé!
— Não adianta de nada.
— Mas eu creio!
— Não adianta de nada, porque não é nada. São Paulo é quem diz.
Temeridade aqui é no sentido de fazer um juízo: “Fulano me olhou assim agora, porque não sei quanto, porque não sei o quê...”.
Ainda que ele tenha olhado com más intenções ou coisa que o valha e é meu irmão, nem percebi, passo por cima, esqueço.
Dizer: “Eu hoje trabalhei como um mouro. Fiz isto, fiz aquilo, fiz aquilo outro. Sento-me na cama, mas um homem realizado porque eu fiz mesmo”. Perdeu tudo o que fez. Tudo o que ele fez foi perdido.
Parece que é um buraquinho assim. Ele fez um universo, e o que aconteceu? Esse universo passou por esse buraquinho e foi tudo embora. Satanás levou embora para o Inferno, chegou no Inferno e disse:  “Hahahaha! Aquele tonto trabalhou como um demônio, como um de nós, e, entretanto, agora perdeu tudo!”.
Perdeu tudo, mas continua com fé. Não adianta de nada, porque faltou o amor.
Toda a capacidade de amor que ele deveria pôr em Deus, aplicou para si, perdeu tudo!

Texto extraído de uma conferência de 4/3/2000, sem revisão do autor.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Evangelho XXXII Domingo do Tempo Comum – Ano B - Mc 12, 38-44

Comentário ao Evangelho – XXXII Domingo do Tempo Comum – Ano B
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
“Naquele tempo, 38 Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: ‘Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; 39 gostam das primeiras cadeiras nas Sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. 40 Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação’.
41 Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. 42 Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. 43 Jesus chamou os discípulos e disse: ‘Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. 44 Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver’” (Mc 12, 38-44).
Dar, dar de si, dar-se por inteiro!
Em face das mentirosas aparências derivadas do orgulho, manifestadas na hipocrisia dos doutores da Lei, Nosso Senhor nos exorta a sermos sinceramente generosos como a pobre viúva, dando tudo de nós mesmos por amor a Ele.
I – A alegria de dar
Ao analisarmos a natureza, encontramos um fenômeno difundido por toda a criação, desde o reino mineral até o mundo dos seres angélicos. O Sol está sempre espalhando sua luz e seu calor sobre a Terra, beneficiando todos os seres que precisam dessa irradiação. As águas, no seu constante movimento, se evaporam e constituem nuvens que, depois de carregadas, despejam sobre o solo elementos indispensáveis para a vida. Constatamos a extraordinária variedade e a superabundância de peixes que povoam os mares e os rios para alimentar o homem, ou a riqueza de frutos que a terra lhe oferece ao longo de todo o ano. Vemos por aí como a natureza, por assim dizer, procura dar de si. Se seus elementos fossem passíveis de felicidade, a árvore frutífera, por exemplo, teria um júbilo enorme pelo fato de produzir frutas e ofertá-las ao homem; o mar se sentiria feliz em entregar-lhe os peixes; e a alegria do Sol consistiria em estar constantemente iluminando e aquecendo a Terra e os que nela habitam. Pois bem, essa generosidade que se verifica no universo inteiro é o princípio sobre o qual se funda a Liturgia de hoje: dar, dar de si, dar-se por inteiro!
CONTRASTE ENTRE EGOÍSMO E GENEROSIDADE