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domingo, 26 de março de 2017

Evangelho V Domingo da Quaresma – Ano A

Comentários ao Evangelho V Domingo da Quaresma – Ano A
Naquele tempo, 3as irmãs de Lázaro mandaram dizer a Jesus: “Senhor, aquele que amas está doente”.
4Ouvindo isto, Jesus disse: “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”.
5Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. 6Quando ouviu que este estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava. 7Então, disse aos discípulos: “Vamos de novo à Judeia”.
17Quando Jesus chegou, encontrou Lázaro sepultado havia quatro dias. 20Quando Marta soube que Jesus tinha chegado, foi ao encontro dele. Maria ficou sentada em casa. 21Então Marta disse a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. 22Mas mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele te concederá”.
23Respondeu-lhe Jesus: “Teu irmão ressuscitará”.
24Disse Marta: “Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia”.
25Então Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. 26E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?”
27Respondeu ela: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”
33bJesus ficou profundamente comovido 34e perguntou: “Onde o colocastes?”
Responderam: “Vem ver, Senhor”. 35E Jesus chorou. 36Então os judeus disseram: “Vede como ele o amava!”
37Alguns deles, porém, diziam: “Este, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito com que Lázaro não morresse?”
38De novo, Jesus ficou interiormente comovido. Chegou ao túmulo. Era uma caverna, fechada com uma pedra. 39Disse Jesus: “Tirai a pedra!”
Marta, a irmã do morto, interveio: “Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias”.
40Jesus lhe respondeu: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?”
41Tiraram então a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: “Pai, eu te dou graças porque me ouviste. 42Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste”.
43Tendo dito isso, exclamou com voz forte: “Lázaro, vem para fora!”
44O morto saiu, atado de mãos e pés com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano. Então Jesus lhes disse: “Desatai-o e deixai-o caminhar!”
45Então, muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele (Jo 11, 1-45).
O grande amor de Jesus àquela família de Betânia tornava incompreensível sua aparente indiferença perante a enfermidade de Lázaro. Mas quando Deus tarda em intervir é por razões mais altas e porque certamente nos dará com superabundância.
I - PRESSUPOSTOS
O porquê dos milagres
Ao conceder a um taumaturgo a faculdade de realizar milagres - explica São Tomás - Deus tem por objetivo "confirmar a verdade por este ensinada" (1). O motivo principal se encontra na fé, pois a razão humana não tem suficiente altura para acompanhar os horizontes dessa virtude, e por isso muitas vezes é necessário serem as afirmações de caráter sobrenatural confirmadas pelo poder de Deus. Esses atos que excedem as forças da natureza propiciam uma acrescida facilidade em crer na procedência divina de tudo quanto é transmitido a respeito de Deus.
Ademais, através dos milagres, torna- se patente a presença de Deus no taumaturgo.
Ora, era indispensável ficar claro aos olhos de todos que a doutrina proclamada por Jesus procedia do próprio Deus e, muito mais ainda, proporcionar a cada um boas provas para crerem na união hipostática das duas naturezas, divina e humana, numa só Pessoa. Justamente em face dessa luminosa, magna e fundamental impostação se projeta a narração do Evangelho de hoje.
Prova da divindade de Jesus
São João escreveu seus vinte e um capítulos com a preocupação de tornar demonstradas pelos fatos tanto a origem divina da doutrina de Jesus quanto a onipotência de sua Pessoa. E, conforme nos explica São Tomás, os milagres operados pelo Redentor são prova de sua divindade:
“Em primeiro lugar, por sua espécie. De fato, transcendiam todo o poder criado e não poderiam ser feitos senão por um poder divino. […] Em segundo lugar, pelo modo como foram feitos. Cristo fazia os milagres por um poder próprio, não orando, como outros fizeram”. (2).
Além de encontrarmos elevados aspectos sobrenaturais através dos quais melhor conhecemos o Salvador em suas duas naturezas, e, assim, mais podemos amá-Lo, nesta narração de São João se confirma seu estro literário. Ela é bela, atraente e comovedora, constituindo-se como única em seu gênero. Consagra historicamente os preciosos detalhes do mais importante milagre de Jesus, que Lhe conferiu uma grande glória - levando à crença um bom número de judeus - e, ao mesmo tempo, produziu o máximo grau de ódio nos seus inimigos, a ponto de apressá-los em seus intentos deicidas. Este episódio tão pervadido de pulcritude divina e humana será a causa imediata da fúria do Sinédrio e conseqüente determinação da morte de Jesus.
A pluma do Evangelista percorre o pergaminho, confirmando em cada versículo o agudo senso de observação do escritor, como também tornando patente ter sido ele uma exímia testemunha ocular, digna de fé, de todo o ocorrido. Quem poderia compor ou imaginar os minuciosos pormenores de veracidade transparente, como, por exemplo, as palavras, a emoção e as próprias lágrimas do Filho de Deus feito Homem, que fluem com leveza da escrita do Autor Sagrado? É escrupulosa sua fidelidade na transmissão da realidade que pode ser dividida em três partes distintas: o retorno de Jesus a Betânia, o encontro e a conversa com Marta e Maria, e a ressurreição de Lázaro.
II - ANÁLISE DO EVANGELHO
O retorno de Jesus a Betânia
Naquele tempo, 1 havia um doente, Lázaro, que era de Betânia, o povoado de Maria e de Marta, sua irmã. 2 Maria era aquela que ungira o Senhor com perfume e enxugara os pés com seus cabelos. O irmão dela, Lázaro, é que estava doente. 3 As irmãs mandaram então dizer a Jesus: “Senhor, aquele que amas está doente”. 4 Ouvindo isto, Jesus disse: “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”. 5 Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. 6 Quando ouviu que este estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde Se encontrava. 7 Então, disse aos discípulos: “Vamos de novo à Judeia”. 8 Os discípulos disseram-Lhe: “Mestre, ainda há pouco os judeus queriam apedrejar-Te, e agora vais outra vez para lá?” 9 Jesus respondeu: “O dia não tem doze horas? Se alguém caminha de dia, não tropeça, porque vê a luz deste
mundo. 10 Mas se alguém caminha de noite, tropeça, porque lhe falta a luz”.
Para tornar bem claro quem era o enfermo em questão, São João o apresenta como sendo o irmão de Marta e Maria. Ressalta a figura desta última por se tratar de uma pessoa muito conhecida e comentada em toda Israel, devido à sua impressionante conversão e seu belíssimo ato de arrependimento em casa de Simão, o fariseu (3). É interessante notar o acerto do nome "Lázaro" que significa: "ajudado", ou, "Deus socorreu".
Fazia muito que Jesus pregava na região da Peréia, à distância de uma jornada de Betânia. Com enorme solicitude e carinho por Lázaro, tal qual costumam ser as irmãs quando de boa índole, Marta e Maria enviam um mensageiro para avisá-lo do estado de saúde do irmão.
Transparece na atitude de ambas um profundo espírito de fé na onipotência do Salvador e, ao mesmo tempo, uma nobre e fraternal dedicação. Tanto mais que a mensagem não era só informativa mas, com enorme polidez, ela continha uma súplica. A fórmula empregada nada tem a ver com a lógica argumentação do centurião romano para obter a cura de seu servo; mais se aproxima ela, em sua essência, da atitude da Virgem Maria nas Bodas de Caná: "Senhor, aquele que amas está doente" (v. 3). Segundo Santo Agostinho, esta simples frase contém uma profunda verdade de fé: Deus jamais abandona aquele a quem ama. Elas não imploram nem pedem explicitamente a cura, quer pudesse ser ela operada de perto, ou de longe; era-Lhe suficiente conhecer o estado de seu amado para, por um simples desejo seu, tornar efetivo o milagre.
E, de fato, é o que teria acontecido se  Jesus não tivesse querido se aproveitar do pretexto da morte de seu amigo “para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”, conforme Ele próprio o afirma.
Grande perplexidade devem ter tido ambas, ao receberem a resposta do Senhor, dois dias depois do falecimento de Lázaro devem ter tido ambas, ao receberem a resposta do Senhor, dois dias depois do falecimento de Lázaro: "Esta doença não leva à morte..." . Maior aflição ainda deveu-se ao fato de Jesus não se ter movido para se encontrar com o amigo nem com suas irmãs.
Essa é bem a provação pela qual passam as almas aflitas que imploram a intervenção de Deus e julgam não serem atendidas, devido à demora ou a uma aparente inércia da parte do Céu. Quão benfazeja é esta passagem para nos convencer a jamais descrermos da onipotência da oração perfeita! Quando Deus tarda em intervir é por razões mais altas e porque certamente nos dará com superabundância. E aí está o procedimento de Jesus para com aqueles aos quais ama: “Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro”. O grande amor de Jesus àquela família tornava ainda mais incompreensível sua como que indiferença, pois, "tendo ouvido que Lázaro estava doente, ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava".
Que grande voo de espírito era necessário para seguir o Divino Mestre diante da incompreensibilidade de suas atitudes! Nenhum dos dois lados chegava a atinar com o alcance da meta política do Salvador. As irmãs deviam estar desmontadas em suas esperanças, acompanhando do lado de fora do sepulcro a lenta mas progressiva decomposição do corpo de seu irmão. Os Apóstolos, por sua vez, não podiam entender o porquê da ida de Nosso Senhor à Judéia. Já havia curado tantos necessitados à distância, qual a razão de penetrar numa terra onde era perseguido de morte? E só por causa de um enfermo? " “Mestre, ainda há pouco os judeus queriam apedrejar-Te, e agora vais outra vez para lá?”, diziam eles. Não seria melhor operar o milagre à distância?
A perspectiva psicossocial na qual os discípulos procuravam delinear a figura do Messias era essencialmente diferente da realidade que se desenrolava diante dos olhos de todos. Neles se encontrava uma constante do espírito humano, a de querer reduzir as ações de Deus às proporções de nossa mentalidade e até mesmo de nossos desejos, sentimentos e emoções. Ora, os princípios pelos quais Deus se move sempre são infinitamente superiores aos atinentes às meras criaturas, por isso nada melhor do que nos abandonarmos aos desígnios e ao beneplácito de sua vontade, nunc et semper.
Segundo nossos critérios, talvez fosse preferível que Jesus expusesse seu plano com total clareza aos Apóstolos para assim retornarem à Judéia com maior confiança, paz e decisão. Pelo contrário, Jesus lhes responde com uma parábola: durante as doze horas do dia, pode-se caminhar sem tropeço, diz Nosso Senhor, bem ao contrário das outras doze da noite. Tratava-se de uma afirmação óbvia, mas trazendo em suas entrelinhas algum significado mais profundo, ou seja, não havia chegado ainda o momento de sua Paixão, portanto não era de se temer nenhum mal. Assim, de forma didática e suave, ia instruindo os Apóstolos sobre os passos a serem dados, exercitando- os na plena confiança que deveriam devotar a seu Divino Mestre.
11 Depois acrescentou: “O nosso amigo Lázaro dorme. Mas
Eu vou acordá-lo”. 12 Os discípulos disseram: “Senhor, se ele
dorme, vai ficar bom”. 13 Jesus falava da morte de Lázaro, mas os
discípulos pensaram que falasse do sono mesmo. 14 Então Jesus
disse abertamente: “Lázaro está morto. 15 Mas por causa de vós,
alegro-Me por não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos para
junto dele”. 16 Então Tomé, cujo nome significa Gêmeo, disse aos
companheiros: “Vamos nós também para morrermos com Ele”.
Porém, ao acrescentar: "Nosso amigo, Lázaro, dorme; mas vou despertá-lo" (v. 11), deu aos Apóstolos nova esperança de não ser necessário retornar à Judéia pois, segundo a forte experiência da época, a retomada do sono ao longo de uma enfermidade grave era indício de boa convalescença, e por isso exclamam: "Senhor, se ele dorme, vai ficar bom".
Diante dessa situação era indispensável falar-lhes às claras, revelando-lhes a morte de Lázaro. Só este particular já seria suficiente para melhor crerem nas propostas de Jesus, pois até aquele instante, ninguém ali sabia do falecimento de Lázaro, que Ele lhes comunica com toda segurança. E ademais, aproveita para estimular a confiança dos Apóstolos, manifestando sua alegria pelo fato de eles não terem estado em Betânia durante a enfermidade de Lázaro, pois, nesse caso, Jesus se veria na contingência de curá-lo antes de sua morte, diminuindo, assim, a grandeza do milagre da ressurreição que iria operar.
Vê-se pela narração o quanto os próprios Apóstolos estavam sendo formados na fé, passo a passo, através dos milagres, conforme Ele mesmo afirma: "para que acrediteis" (v. 15). Jesus iria selar o término de sua vida pública - os últimos momentos das doze horas do dia - com o mais portentoso milagre. Ele a iniciara com a transformação da água no melhor dos vinhos, em Caná, e agora, antes do anoitecer, traria à vida um morto já em franca decomposição. Nessa ocasião, o mais débil - São Tomé - solta o gemido que estava no fundo da alma de todos: "Vamos nós também, para morrer com Ele" (v. 16). O Espírito Santo ainda não os confirmara na vocação e o instinto de conservação disputava com as virtudes no interior de cada um.
Encontro com Marta e Maria (vv. 17-37)
17 Quando Jesus chegou, encontrou Lázaro sepultado havia
quatro dias. 18 Betânia ficava a uns três quilômetros de Jerusalém.
19 Muitos judeus tinham vindo à casa de Marta e Maria para as
consolar por causa do irmão. 20 Quando Marta soube que Jesus
tinha chegado, foi ao encontro d’Ele. Maria ficou sentada em
casa. 21 Então Marta disse a Jesus: “Senhor, se tivesses estado
aqui, meu irmão não teria morrido. 22 Mas mesmo assim eu sei
que o que pedires a Deus, Ele To concederá”.
Betânia, segundo a própria narração (v. 18), ficava a menos de 3 km de distância de Jerusalém. Essa propriedade pertencente à família de Lázaro havia sido utilizada por Jesus com freqüência, quase todas as vezes que devia ir a Jerusalém, não só por sua proximidade, mas até mesmo pelo conforto. Essa é também a razão de ali se encontrarem muitos judeus (v. 19). O luto era observado ao longo de sete dias, sendo os três primeiros reservados para o pranto e os quatro outros para receber as visitas de pêsames. O costume rabínico era estrito e rigoroso, comportando até mesmo o jejum (I Sam 31, 13), em meio às lágrimas (Gen 50, 10). Em essência, ao retornar do enterro - que, aliás, devia ser no próprio dia do falecimento - o ritual ordenava cobrir a cabeça e sentar-se ao chão com os pés descalços. As visitas não pronunciavam nenhuma palavra, pois essa iniciativa cabia somente aos parentes dos falecidos. O convívio, nessas circunstâncias, era silencioso.
Assim permaneceu Maria, por não ter ideia da chegada de Jesus à aldeia, enquanto Marta foi ao seu encontro (v. 20) a fim de Lhe noticiar todo o ocorrido. Uma vez mais os fatos nos revelam as características próprias a cada uma das duas irmãs. Marta é mais dada à administração, às relações sociais, etc., e Maria mais ao fervor amoroso. Por isso Marta não avisa sua irmã, pois seria impossível retê-la junto às visitas enquanto se desenrolasse seu diálogo com o Mestre. Aliás, esse diálogo não poderia ter transcorrido com maior ternura e delicadeza. Não há a menor sombra de queixa da parte de Marta ao afirmar: "Senhor, se estivesses cá, meu irmão não teria morrido" (v. 21), pelo contrário, trata-se da manifestação de um pesaroso sentimento feito de confiança no poder de Jesus.
Maria, por sua vez, repetirá exatamente essa mesma frase (v. 32), permitindo- nos perceber o teor das conversas havidas entre ambas naqueles últimos dias.
Entretanto, a fé de uma e outra ainda não havia atingido sua plenitude, pois não podiam imaginar o grande milagre que iria ser operado por Jesus. Marta não tem noção do poder absoluto de Jesus, e daí o condicionar as ações do Divino Mestre aos pedidos que Ele faça a Deus (v. 22): "Tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá".
23 Respondeu-lhe Jesus: “Teu irmão ressuscitará”. 24 Disse Marta:
“Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia”.
25 Então Jesus disse: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê
em Mim, mesmo que morra, viverá. 26 E todo aquele que vive e
crê em Mim, não morrerá jamais. Crês isto?” 27 Respondeu ela:
“Sim, Senhor, eu creio firmemente que Tu és o Messias, o Filho
de Deus, que devia vir ao mundo”.
Marta externa sua firme crença na ressurreição final e nessa ocasião espera rever seu irmão em corpo e alma (v. 24), sem jamais imaginar a possibilidade de reencontrá-lo naquele mesmo dia. Jesus, o Divino Didata, vê chegado o momento de proferir uma das mais belas afirmações do Evangelho. Em outros trechos Ele terá revelado: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14, 6); "Eu sou a luz do mundo" (Jo 8, 12); "Eu sou o pão da vida" (Jo 6, 35), mas nenhuma atinge a altura teológica desta, em questão: "Eu sou a Ressurreição e a Vida; aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá; 26 e todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá eternamente" (vv. 25-26). E com uma paternalidade comovedora pergunta a Marta: "Crês nisto?", para movê-la a um ato explícito de fé e fazê-la crescer em méritos.
28 Depois de ter dito isto, ela foi chamar a sua irmã, Maria, dizendo baixinho: “O Mestre está aí e te chama”. 29 Quando Maria ouviu isso, levantou-se depressa e foi ao encontro de Jesus. 30 Jesus estava ainda fora do povoado, no mesmo lugar onde Marta se tinha encontrado com Ele. 31 Os judeus que estavam em casa consolando-a, quando a viram levantar-se depressa e sair, foram atrás dela, pensando que fosse ao túmulo para ali chorar. 32 Indo para o lugar onde estava Jesus, quando O viu, caiu de joelhos diante d’Ele e disse-Lhe: “Senhor, se tivesses estado aqui, o meu
irmão não teria morrido”. 33 Quando Jesus a viu chorar, e também os que estavam com ela, estremeceu interiormente, ficou profundamente comovido, 34 e perguntou: “Onde o colocastes?” Responderam: “Vem ver, Senhor”. 35 E Jesus chorou. 36 Então os judeus disseram: “Vede como Ele o amava!” 37 Alguns deles, porém, diziam: “Este, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito com que Lázaro não morresse?”
O diálogo dera seus melhores frutos, era necessário consolar a outra irmã. Marta a avisa "em segredo" (v. 28) que o Mestre chegara. Conforme seu temperamento arrojado, saiu a toda pressa para encontrá-Lo. Seu gesto levou todos os visitantes a imitá-la; imaginando que ela iria chorar junto ao túmulo, seguiram-na (vv. 29-31).
Especialmente digna de nota é a cena de seu encontro com Jesus. Marta era mais controlada em suas emoções, determinada em seus objetivos e, portanto, capaz de expor em palavras todos os seus sentimentos. Maria, bem diferente de sua irmã, tem arroubos de fervor sensível pelo Mestre, seu amor não conhece fronteiras e nem permite ser freado em suas manifestações, sua alma realmente seráfica a leva a lançar-se aos pés de Jesus, e o máximo que consegue exprimir é sua dor, em breves termos. De resto era chorar, soluçar, e com tal substância que todos se viram tocados por sua reação, acompanhando- a no pranto (vv. 32-33).
Maria era tão carismática em sua fé, no ardor de seus desejos e na comunicação de sua benquerença por Jesus, que Ele próprio "comoveu-Se profundamente e perturbou-Se" (v. 33). Bem dizia Lacordaire: "L´intelligence ne fait que parler; c´est l´amour qui chante!" Nossas palavras podem convencer, mas nosso amor poderá até mesmo tocar o Sagrado Coração de Jesus. Quão humano, sem deixar de ser divino, Ele se mostra nessa ocasião, sobretudo ao derramar, também Ele, suas preciosíssimas lágrimas, santificando, assim, as lágrimas roladas de todos os corações sofredores por amor a Deus, ou arrependidos de suas faltas.
Era essa a maior prova de amor externada pelo Salvador, até aquele instante, em relação ao seu amigo Lázaro.
Sempre "pedra de escândalo", os campos se dividem em vista de suas lágrimas. Alguns são tomados de admiração, outros O recriminam por ter deixado morrer Lázaro. Hipocrisia pura, segundo autores clássicos, pois se põem a julgar Jesus antes mesmo de qualquer ação sua. Esse é o efeito de uma antipatia preconcebida, radicada, talvez, no vício da inveja (vv.
36-37).
Ressurreição de Lázaro
38 De novo, Jesus ficou interiormente comovido. Chegou ao
túmulo. Era uma caverna, fechada com uma pedra. 39 Disse Jesus:
“Tirai a pedra!” Marta, a irmã do morto, interveio: “Senhor, já
cheira mal. Está morto há quatro dias”. 40 Jesus lhe respondeu:
“Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” 41 Tiraram
então a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: “Pai,
Eu Te dou graças porque Me ouviste. 42 Eu sei que sempre Me
escutas. Mas digo isto por causa do povo que Me rodeia, para
que creia que Tu Me enviaste”. 43 Tendo dito isso, exclamou com
voz forte: “Lázaro, vem para fora!” 44 O morto saiu, atado de
mãos e pés com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um
pano. Então Jesus lhes disse: “Desatai-o e deixai-o caminhar”. 45 Então, muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram n’Ele.
Diferentemente de outros túmulos, este de Lázaro era escavado em rocha não no sentido horizontal, mas sim, no chão e verticalmente. Para se chegar ao local onde haviam depositado o corpo de Lázaro, precisava-se descer um bom número de degraus. Ao redor do sepulcro, estavam todos em forte expectativa, pois os antecedentes prognosticavam um portentoso acontecimento.
Com magna autoridade, Jesus ordena, para espanto dos circunstantes: "Tirai a pedra" . Marta, sempre criteriosa, não resiste em ponderar que o cadáver já estaria em decomposição depois de quatro dias. "Senhor, ele já cheira mal..." (v. 39). Magistral a resposta de Jesus: "Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?" (v. 40).
Belíssima oração de Nosso Senhor, com o túmulo já aberto, o mau odor ferindo as narinas dos presentes, a atenção não poderia ser mais intensa. Ele reza não por necessidade, "mas falei assim por causa do povo que está em volta de Mim, para que acreditem que Tu me enviaste".
Por um simples desejo seu, a lápide teria voltado ao nada e Lázaro surgiria à porta do sepulcro, rejuvenescido, limpíssimo e perfumado. Era, porém, conveniente constar aos olhos de todos a potência de suas ordens: "bradou em voz forte: "Lázaro, sai para fora!"
Dois portentosos milagres se operam, não só o da pura ressurreição. Lázaro estava atado da cabeça aos pés, impedido de caminhar; entretanto, subiu pela escada que dava acesso à entrada do túmulo, estando até mesmo com um sudário ao rosto. Imaginemos a impressionante cena de um defunto subindo degrau por degrau, sem liberdade de movimentos e sem enxergar, mas já respirando com visíveis sinais de vida.
“Desatai-o e deixai-o caminhar” é a última voz de comando do Divino Taumaturgo.
Nada mais relata o Evangelista; nenhuma palavra a respeito de Lázaro ou das manifestações de alegria de suas irmãs; somente a conversão de "muitos dos judeus que tinham ido visitar Maria e Marta" (v. 45).
Escapa à Liturgia de hoje a traição de alguns que, certamente indignados, "foram ter com os fariseus" (v. 46) levando o Sinédrio a decretar sua morte (v. 53), matéria esta considerada com quanta profundidade ao longo da Semana Santa.
III - CONCLUSÃO: UM CONVITE À CONFIANÇA
Aí está o poder de Cristo manifestado em pleno esplendor para alimentar-nos em nossa fé. Esta Liturgia nos convida a uma confiança maior que a do centurião romano; ou seja, é preciso crer em Jesus com um ardor Marial. Se a Santíssima Virgem estivesse ao lado das irmãs, certamente - além de lhes aconselhar a aguardarem com paz de alma a chegada de seu Divino Filho - recomendaria a ambas que procurassem fazer "tudo o que Ele vos disser" (Jo 2, 5). Por maior que sejam os dramas ou aflições em nossa existência, sigamos o exemplo e a orientação de Maria, crendo na onipotência de Jesus, compenetrados das palavras de São Paulo: “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios” (Rm 8, 28).
1 ) Suma Teológica III, q 43 a 1.
2 ) Suma Teológica, III q 43, a 4.

3 ) Cf. Lc 7, 37-50.

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