Os judeus esperavam um Messias político, que os colocasse acima de todos os povos da Terra. No entanto, esta visão meramente humana a respeito do Salvador atingiu também os apóstolos, segundo narra o Evangelho de São Mateus, 20, 17-28. Nesta passagem do Evangelho, Nosso Senhor fala claramente aos apóstolos dos sofrimentos pelos quais teria de passar, faz a promessa de Sua ressurreição e deixa-nos uma das mais belas definições da finalidade da Encarnação: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”.
O Mons. João Clá Dias, na homilia de 15 de março de 2006, explica este trecho, que é contemplado a cada ano na quarta-feira da segunda semana da Quaresma.
"Nosso Senhor, já quando menino, dava idéia de uma capacidade única, de alguém que ia conquistar o mundo. Por exemplo, na discussão d’Ele com os doutores, no Templo, mas, sobretudo, quando começou a vida pública, Ele deve ter causado um verdadeiro estupor, uma verdadeira admiração. Nosso Senhor era um homem que tinha poder sobre o vento, sobre os mares, sobre a doença, sobre o pão, sobre o peixe, sobre os demônios, etc. Portanto, era um homem feito para tomar conta de tudo. E os judeus pensavam: “Este homem, em certo momento, com os poderes que tem, levanta um exército e dá um golpe! Primeiro, nos separamos dos romanos e, depois, nos tornamos o primeiro povo da Terra.”
"Nosso Senhor, já quando menino, dava idéia de uma capacidade única, de alguém que ia conquistar o mundo. Por exemplo, na discussão d’Ele com os doutores, no Templo, mas, sobretudo, quando começou a vida pública, Ele deve ter causado um verdadeiro estupor, uma verdadeira admiração. Nosso Senhor era um homem que tinha poder sobre o vento, sobre os mares, sobre a doença, sobre o pão, sobre o peixe, sobre os demônios, etc. Portanto, era um homem feito para tomar conta de tudo. E os judeus pensavam: “Este homem, em certo momento, com os poderes que tem, levanta um exército e dá um golpe! Primeiro, nos separamos dos romanos e, depois, nos tornamos o primeiro povo da Terra.”
Alguém diria: “Bom, com todos os milagres que fazia, Ele já tinha conquistado tudo e já tinha se realizado.” Não! A realização que o povo judeu queria era, de fato, uma realização política, uma realização na linha da carreira e Ele não tinha nada disso. Para as pessoas que governavam, para as pessoas que tinham influência — não para o povinho miúdo — Nosso Senhor aparecia como um grande curandeiro. E, portanto, um homem que não tinha realizado a carreira que parecia que ia realizar quando menino, e quando havia começado sua vida pública. O que os judeus queriam era um homem que tomasse conta do poder, um homem que fosse político e que alcançasse o que para eles era o mais importante: a supremacia de Israel sobre todos os outros povos. Isto não estava se dando, e não se deu. Nosso Senhor foi um fracassado de dentro dos olhos dos judeus amis influêntes, porque Ele passou por uma traição, foi preso, julgado, condenado e morto.
Então, humanamente falando, não se deu o que queriam Tiago, João e a mãe de ambos, nem o que os apóstolos queriam, quando ficaram irritados com os dois irmãos e começaram a discutir entre si. Quer dizer, de dentro dos olhos dos fariseus, dos escribas, dos supremos sacerdotes e dos príncipes dos sacerdotes, Jesus foi um fracassado. Humanamente falando, Ele fracassou, de acordo com os critérios daquele tempo e segundo o conceito judaico.
É por isso que o Evangelho de hoje narra:
Naquele tempo, enquanto Jesus subia para Jerusalém, ele tomou os doze discípulos à parte e, durante a caminhada, disse-lhes:18”Eis que estamos subindo para Jerusalém,…”[i]
Eles imaginavam que estavam indo para Jerusalém naquele momento para ser dado o golpe que seria um grande passo para a restauração política de Israel. A tal ponto que é nesta hora que a mãe de Tiago e João pede a colocação de seus filhos no reino.
“…e o Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei. Eles o condenarão à morte, 19e o entregarão aos pagãos para zombarem dele, para flagelá-lo e crucificá-lo. Mas no terceiro dia ressuscitará".
Quer dizer, do ponto de vista sobrenatural, toda a vitória; do ponto de vista humano, toda a derrota.
E nós, que estamos nesta via, devemos nos lembrar desse sinal tão extraordinário que está diante de nós: a cruz. E não é só a cruz no que diz respeito ao sofrimento físico, mas é a cruz no que diz respeito à rejeição dos outros. E mais: é a rejeição dos bons, a rejeição dos iguais, a rejeição dos que são irmãos. Se Nosso Senhor Jesus Cristo tivesse sido crucificado como o foi, mas com o apoio inteiro da opinião pública, tendo sido morto por alguns bandidos, Ele teria morrido consolado. O grande drama d’Ele, o grande cálice foi a rejeição de toda a opinião pública. É terrível, custa sangue, mas é o que prepara depois a glória da ressurreição.
A mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com seus filhos e ajoelhou-se com a intenção de fazer um pedido. Jesus perguntou: “O que tu queres?” Ela respondeu: manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu reio, um à tua direita e outro à tua esquerda”. Jesus, então, respondeu-lhes: “Não sabeis o que estais pedindo. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?" Eles responderam: “Podemos”.
É o que Nosso Senhor nos pergunta na liturgia de hoje: “Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?” E nós devemos responder o que São João e São Tiago não responderam: “Desde que vós nos assistais com vossas forças, podemos, porque sem essas forças nós não conseguimos nada. Se Deus se afasta de nós, não fazemos mais nada!”.
Então Jesus lhes disse: “De fato, vós bebereis do meu cálice, mas não depende de mim conceder o lugar à minha direta ou à minha esquerda. Meu Pai é quem dará esses lugares àqueles para os quais ele os preparou”.
Então, é preciso pedir forças para aceitar este cálice e beber dele. Mas, para beber deste cálice, é preciso que nós estejamos muito próximos de Deus, ou seja, que Deus esteja muito próximo de nós, porque só aí temos forças.
Então, é preciso pedir forças para aceitar este cálice e beber dele. Mas, para beber deste cálice, é preciso que nós estejamos muito próximos de Deus, ou seja, que Deus esteja muito próximo de nós, porque só aí temos forças.
Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram irritados contra os dois irmãos. Jesus, porém, chamou-os e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações têm poder sobre elas e os grandes as oprimem. Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor; quem quiser ser o primeiro, seja vosso servo”.
Portanto, beber do cálice significa compreender que seguimos a Nosso Senhor não para receber apoio, nem aplausos, nem a sustentação no nosso instinto de sociabilidade; nós estamos aqui para servir.
“Pois o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”.
E nós devemos compreender que não viemos para receber louvores, gratidão, entusiasmo, aplauso, aprovação ou apoio, nós viemos para servir. E devemos rejeitar a idéia de que todos devem reconhecer aquilo que somos ou possuímos, pois isto é secundário. O que importa é ter oportunidade de servir, de fazer o bem, de ajudar os outros, sem o menor desejo de retribuição.
Onde está o sucesso humano? O sucesso humano está no cálice. Mas nem sempre esse sucesso humano se faz nesta Terra, é muito raro. O sucesso humano se faz post mortem e, portanto, a pessoa não realiza o esplendor daquilo que ela julga que vai obter na Terra. Ela terá o esplendor no Céu, que depois desce também sobre a Terra; mas o primeiro esplendor a ser conquistado é o Céu.
Portanto, nós precisamos pedir, nesta liturgia, a graça de beber do cálice do qual Nosso Senhor bebeu.
[i] Todas as citações bíblicas foram extraídas de “Liturgia Diária”, Paulus, março de 2006. Trecho adaptado para a linguagem escrita, sem revisão e conhecimento do autor.