Tríduo Pascal

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Antes e depois de Maria


1Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e achava-se ali a mãe de Jesus. 2Também foram convidados Jesus e o seus discípulos.3 Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm vinho.4 Respoudeu-lhe Jesus: Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou.5 Disse, então, sua mãe aos serventes: Fazei o que Ele vos disser. 6Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. 7Jesus ordena-lhes: Enchei as talhas de água. Eles encheram-na até em cima. 8Tirai agora, disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E levaram. 9Logo que os chefes dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado água), chamou o noivo 10 e disse-lhe : É costume servir primeiro o vinho bom e, depois quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora. 11Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou em Caná da Galiléia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele. (Jo 2, 1-11).



O PORQUÊ DO MILAGRE


Freqüentemente, os profetas no Antigo Testamento se viam na contingência de comprovar por algum prodígio a autenticidade de suas previsões. Assim se deu, por exemplo, com Moisés (Ex 4, 30-31), Elias (1Rs 18, 19-39) ou Samuel ( 1Sm 12, 16-18). Ora, depois de chamar os cinco primeiros seguidores, quis o Mestre operar algo para confirmá-los na Fé, como o fizera com Natanael. Foi provavelmente por essa razão que Jesus "manifestou sua glória", efetuando seu primeiro milagre nas Bodas de Caná, ou seja, para levar seus discípulos a crerem na divindade de sua origem e missão (Jo 2,11).




E assim procedeu devido a uma suave e afetuosa súplica de sua Mãe. O Evangelho ressalta o importante papel de intercessora de Maria e deixa entrever seu maternal carinho para com os futuros Apóstolos ali presentes.








Nesse solene começo de vida pública de Jesus, sobressai-se de forma muito especial o fato de ter Ele escolhido uma festa nupcial como cenário do início de sua missão pública. O casamento não havia ainda sido elevado à categoria de sacramento.





Por outro lado, Jesus estava iniciando sua missão pública e desejava fundar a Igreja com vistas à santificação de todos. Ora, a célula mater da estruturação social sempre foi, e nunca deixará de sê-lo, a família, como podemos constatar nas palavras de S.S. o Papa João Paulo II na Audiência Geral de 1/12/1999.



Nas Bodas de Caná, segundo a interpretação de famosos teólogos e exegetas, Jesus quis reafirmar a importância conferida pela sociedade antiga à união conjugal e santificá-la, preparando assim as vias para dar-lhe um caráter sacramental.



A SÚPLICA ONIPOTENTE DE MARIA


A História nada registra sobre a origem das relações entre a Sagrada Família e os nubentes , nem sequer por que Jesus e Maria foram convidados para a festa. As hipóteses a respeito se multiplicam. Entre elas, menciona-se um eventual estreitamento de relações, decorrentes de serviços prestados por São José ao longo do tempo.





As peculiaridades e detalhes perderam-se pelo caminho, talvez por desígnio de Deus, a fim de concentrar a atenção dos séculos futuros na tão paradigmática festa das núpcias de Caná. Ali está simbolizado o lar católico como deve ser, e indicada a conduta a seguir face aos problemas e dificuldades da vida. Ali está prefigurada a família cristã assistida por Cristo, através da intercessão de Maria. A partir desse episódio, todos os cônjuges, até o fim do mundo, devem firmar-se na certeza de que Jesus solucionará qualquer drama ou aflição, se invocarem a onipotente mediação de Maria.





HARMONIA CONJUGAL





As épocas e os povos atingem seu esplendor quando a sociedade observa com rigor os princípios naturais e divinos relativos à constituição familiar. Este vasto e delicado assunto é de capital importância.



A harmonia conjugal torna perene, exemplar e frutuosa toda e qualquer atividade do marido ou da esposa; sobretudo, desse virtuoso entendimento se beneficiam os filhos. Por isso afirma o Eclesiástico (25,1 e2 ): " De três coisas se compraz o meu espírito, as quais têm a aprovação de Deus e dos homens:(...) um marido e uma mulher que se dão bem entre si."





NÃO BUSCAR DINHEIRO OU BELEZA, AO CASAR-SE





"Ditoso o homem que tem uma virtuosa mulher, porque será dobrado o número de seus anos.(...) A mulher virtuosa é uma sorte excelente, é o prêmio dos que temem a Deus e será dada oa homem pelas suas boas obras"(Ecli 26,1e3). Muitos conselhos poderíamos colher da Sagrada Escritura e da espiritualidade da Igreja sobre as qualidades do matrimônio e sobre quanto deve ele basear-se na virtude e na santidade, e não em motivos inferiores como a beleza física e o dinheiro. Fazer consistir nestes valores as razões essenciais de uma união indissolúvel, é sinal de completa insesatez, pois a beleza física se desfaz com o passar dos anos e a riqueza de um cônjuge pode trazer muita aflição de espírito. Adverte-se ainda o Eclesiástico: " Não olhes para a formosura da mulher, e não cobices uma mulher pela sua formosura"(25,28). " Todo o preço é nada em comparação com uma alma casta"(26,20).



POR INTERCESSÃO DE MARIA





E foi numa festa nupcial que, a pedido de sua Mãe, Jesus quis realizar seu primeiro milagre, para assim tornar patente aos olhos do mundo o quanto o matrimônio deve ser tomado como uma via de santificação.



A MEDIAÇÃO EFICAZ E A ONIPOTÊNCIA SUPLICANTE DE MARIA



Eis que em Caná abriu-se uma nova era na espiritualidade do gênero humano, com a inauguração de um especial regime da graça.



Ademais, em Caná, Maria nos ensina algo muito importante. Numa análise superficial, parece inexplicável a atitude de Nossa Senhora, pois apesar da negação de Jesus, Ela ordena aos criados fazerem tudo quanto Este lhes dissesse. Não havia Ele dito que não chegara a sua hora? Fica, por tanto, em quem lê o Evangelho, a impressão de Maria não ter feito caso desta resposta negativa.
Esclarecem-nos os teólogos ser esta atitude de Maria- à primeira vista um tanto obscura- uma excelente lição para nós.



Nem todas as determinações de Deus são absolutas. Há algumas que são condicionadas aos desejos e reações nossas. Ou seja, elas se cumprirão ou não, dependendo da manifestação de nossas disposições. Se Maria não tivesse recomendado aos serventes que agissem de acordo com as orientações de Jesus, os nubentes e seus convidados não teriam tomado o melhor dos vinhos da História, nem os Apóstolos assistido a tão grandioso milagre.



De onde se conclui ser importante rezarmos a Deus com fervor e constância, manifestando-Lhe nossas necessidades, pois é possível que Ele esteja à espera de nossa atitude para seguir uma ou outra via. Em Caná aprendemos com Maria o quanto Deus quer a nossa colaboração em sua obra.



Devido a esse sublime papel de medianeira e de onipotência suplicante da Santíssima Virgem, que se inicia publicamente nas Bodas de Caná, talvez pudéssemos dividir a História da espiritualidade em duas grandes eras: antes de Maria e depois de Maria.