Um grande mistério e divino exemplo eram as orações de Jesus ao Pai. Como explicar a atitude do Homem-Deus rogando ao Pai por tantas intenções, se Ele mesmo é onipotente e, sobretudo, sendo Eles iguais entre Si? Não parece um tanto contraditório Deus pedir a Deus um auxílio para Si próprio? Não seria mais adequado Ele diretamente tornar efetivos seus anseios, ao invés de orar?
Essas dúvidas e muitas outras se desfarão se meditarmos sobre um comentário feito pelo santo Patriarca Hesíquio de Jerusalém (1). Diz-nos este autor que, desde toda eternidade, o Filho desejava poder dirigir-se ao Pai enquanto inferior, mas era-Lhe impossível realizá-lo, pois, segundo nos explica a Teologia com base na Revelação, as Pessoas da Santíssima Trindade são iguais entre Si. Por sua vez, também o Pai desejava doar algo ao Filho, mas através de que meio, se Eles são idênticos?
Maria resolveu essa questão com o seu “fiat”, permitindo ao Filho fazer-Se Homem. Era de dentro de sua natureza humana que Jesus elevava sua mente a Deus e exprimia os desejos de seu Sagrado Coração, rogando fossem eles concretizados. Ou seja, nunca Jesus rezou enquanto Deus — e nem teria sentido, aliás, Ele assim proceder — mas sempre o fez como homem, pois sabia que certas graças não seriam jamais obtidas senão por meio de seus pedidos, por isso “Ele andava retirado pelas solidões e a orar” (Lc 5, 16).
Exemplo insuperável de oração
Jesus foi para nós um exemplo insuperável da realização de seu próprio conselho: Oportet semper orare et non deficere — “Importa orar sempre e não deixar de o fazer” (Lc 18, 1). É preciso rezar como se respira, e portanto, em nenhum momento perder o fôlego nem o ânimo. A oração unida à de Jesus e feita por sua intercessão, é infalível: “Em verdade, em verdade vos digo que, se pedirdes a meu Pai alguma coisa em meu nome, Ele vo-la dará” (Jo 16, 23).
Se assim é, pode nossa oração ser realizada sempre de maneira incondicional? Não, os bens temporais, na medida de sua utilidade para nossa salvação, devem ser pedidos segundo a vontade de Deus. Nosso Senhor também a esse respeito nos deu exemplo, ao rogar: “Meu Pai, se é possível, que se afaste de Mim este cálice! Todavia, não se faça como Eu quero, mas sim como Tu queres” (Mt 26, 39). Ele havia por diversas vezes anunciado sua própria morte e até mesmo a forma de suplício pela qual passaria, e claramente sabia também que seu pedido não seria atendido. Entretanto, com toda antecedência, Ele externou esse anseio para deixarnos claro o quanto é legítimo exprimirmos nossa dor, manifestando o desejo de que ela termine, mas sempre em conformidade com a vontade de Deus.