Um pecado cometido contra Deus não pode ser reparado, senão por um ser infinito. Só um ser infinito pode equilibrar a balança, porque, em uma ofensa, nós devemos considerar a pessoa que ofende, a ofensa e o ofendido. Quando um desses elementos é infinito, é evidente que pesa nessa balança uma reparação infinita. E, no caso concreto nosso, nós somos criaturas, é verdade, e nossas ações são todas elas limitadas, são todas elas postas dentro da ordem da criação e não do divino, mas, quando nós nos revoltamos contra um Ser infinito, nossa culpa é infinita, e, portanto, nossa reparação deve ter na base um ser infinito que perdoe.
Essa é a história da Encarnação, essa é a história da Redenção; os homens foram redimidos pelo Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo que é Homem e é Criatura, mas é uma criatura que não tem personalidade humana, é uma criatura que está unida intrinsecamente, unida hipostaticamente com a natureza divina. Ele, então, pode perdoar. Deus poderia perdoar todas as nossas faltas. Ele não precisaria da Encarnação, não precisaria da Redenção; Ele é, ao mesmo tempo, o Juiz e o Ofendido. Mas a Teologia toda coloca a atenção na Redenção operada pela Encarnação do Verbo e pela Paixão e Morte de Cruz; e aí está, de fato, uma fonte de perdão inesgotável e inteiramente satisfatória.
A caridade feita ao teu pai não será esquecida, mas servirá para reparar os teus pecados e, na justiça, servirá para tua edificação.( Eclesiástico 3, 15-17)
O pecado tem como objetivo um ser infinito e, portanto, é uma falta infinita. Para ser reparada, precisaria de um ato de um ser infinito ou o perdão de Deus. E aqui está a palavra do Espírito Santo, a palavra irrefutável. O Espírito Santo nos diz aqui que Ele, Deus, perdoa aquele que tem caridade para com o seu pai, porque essa não será esquecida, e servirá para reparar os seus pecados. Como? Então, eu já não tenho mais pai, meu pai morreu. A que se aplicaria isso?
Eu tenho, na própria vida de Nosso Senhor, um episódio impressionante que é a perda e o encontro do Menino Jesus no Templo.
Ele se destaca de Nossa Senhora e de São José aos doze anos de idade. Depois de três dias O encontram, Ele diz nada mais, nada menos, que Ele está tratando dos interesses do Pai d’Ele. Nossa Senhora não entendia, porque a aflição em que Ela se encontrava era muito grande; estava acima da compreensão intelectual. Ela não entende, mas aceita. Aceita, porque Ela compreende que há algo por detrás que Ela não entendeu, e São José tampouco entendeu, e aceita também.
O que estava por detrás era justamente este dito: “Quem honra seu pai alcança o perdão dos pecados.” Ele não tinha pecado, mas Ele com isso resgatava os pecadores. Um dos meios de redenção de Nosso Senhor ao pecado da Humanidade foi justamente esse: interessar-se em honrar o seu Pai, ter caridade, ou seja, ter amor para com seu Pai. E, se nós formos colocar a lupa na Sagrada Família, nós vamos ver que a Sagrada Família toda tinha uma harmonia perfeita, perfeitíssima; impossível maior harmonia, por quê? Porque tinha Deus no centro, o Pai estava no centro. Nossa Senhora amava o Pai, José amava o Pai, o Menino Jesus amava o Pai. E, com isso, neste amor ao Pai a harmonia era perfeita.
Dentro da Sagrada Família, os mais poderosos obedeciam aos menos poderosos. Nossa Senhora obedecia a São José, o Menino Jesus obedecia a São José e a Nossa Senhora. Ora, Ele era o Criador deles. E nós temos, dentro da própria Sagrada Família, um princípio de hierarquia, porque, por mais que Jesus fosse poderoso — e o era mesmo, porque Ele era onipotente — mas, uma vez que Ele tinha constituído aquela família, e tinha nascido naquela família, Ele honrava o pai e Mãe, por mais que Ele fosse o Criador de ambos.
Maria era muito mais do que São José. Nossa Senhora tinha ciência infusa. São José penava para compreender bem o que deveria fazer, e, ainda assim, era preciso que viesse um Anjo dizer alguma coisa em sonho. Está bem. Ele era obedecido por Nossa Senhora. Nossa Senhora colocava-se à inteira disposição dele.