Tríduo Pascal
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quinta-feira, 3 de março de 2016
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
EVANGELHO DO IV DOMINGO DA QUARESMA ANO C - Lc 15,1-3;11-32
COMENTÁRIO AO
EVANGELHO DO IV DOMINGO DA QUARESMA ANO C - Lc 15,1-3;11-32
O Filho Pródigo: Justiça e Misericórdia
Analisando os atos de Deus sob o mero
prisma da humana justiça, difícil se torna compreendê-los. Na parábola da
liturgia de hoje, enquanto o egoísmo se revolta, a justiça e a misericórdia se
osculam num dos mais belos exemplos do Evangelho. Como melhor degustá-lo? Eis o
objetivo deste artigo.
Naquele tempo, 1Os publicanos e
pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. 2Os fariseus, porém, e os
mestres da Lei criticavam Jesus. 'Este homem acolhe os pecadores e faz refeição
com eles.' 3Então Jesus contou-lhes esta parábola: 11'Um homem tinha dois
filhos. 12O filho mais novo disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte da herança que me
cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, o filho mais
novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo
numa vida desenfreada. 14Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma
grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. 15Então foi pedir
trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos.
16O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto
lhe davam. 17Então caiu em si e disse: 'Quantos empregados do meu pai têm pão
com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18Vou-me embora, vou voltar para meu
pai e dizer-lhe: `Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19já não mereço ser
chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados'. 20Então ele partiu
e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu
compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos. 21O filho,
então, lhe disse: 'Pai, pequei contra Deus e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho'.
22Mas o pai disse aos empregados: `Trazei depressa a melhor túnica para vestir
meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. 23Trazei um
novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. 24Porque este meu filho
estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado'. E começaram a
festa. 25O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu
música e barulho de dança. 26Então chamou um dos criados e perguntou o que
estava acontecendo. 27O criado respondeu: `É teu irmão que voltou. Teu pai
matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde'. 28Mas ele ficou com raiva
e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29Ele, porém, respondeu
ao pai: `Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem
tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30Quando
chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o
novilho cevado'. 31Então o pai lhe disse: 'Filho, tu estás sempre comigo, e
tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este
teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado'. (Lc
15,1-3;11-32)
A JUSTIÇA DOS HOMENS E A DE DEUS
Dois juízos humanos: o da equidade e o das paixões
A justiça humana atingiu um ápice no sistema
elaborado pelos romanos. A tal ponto que, ainda hoje, a legislação de grande
parte das nações toma como base as normas de uma quase matemática exatidão
daqueles tempos, cuja síntese se encontra no famoso princípio: suum
cuique tribuere, ou seja, “dar a cada um aquilo que é seu”. Este é o juízo
do homem reto, ou o praticado nos tribunais, visando restabelecer a verdadeira
ordem.
Há outro juízo nada justo, nem sereno, cuja
sentença sempre aparece influenciada por uma das três paixões tristes: a ira, a
soberba ou a inveja. É o tantas vezes empregado no mundo e com o qual
convivemos em nosso dia-a-dia. Em quantas ocasiões não presenciamos infundadas
manifestações de cólera contra inocentes ou faltosos arrependidos, nas quais a
aspereza implacável deixa transparecer a peçonha do egoísmo que as move? É o
relacionamento entre seres que deveriam se estimar e apoiar-se, mas que, pelo
contrário, na medida em que se afastam de Deus, de mais violência se utilizam
para saciar o seu amor próprio.
Além das explosões da ira, causa-nos espanto o
império da inveja, encontrado por todos os cantos. Poucos são os homens
totalmente livres desse mal, que por toda eternidade amarga e atormenta os
anjos decaídos.
Entretanto, o pior de todos os juízos é aquele
nascido da soberba. O homem orgulhoso tem sempre uma sentença depreciativa em
relação aos semelhantes. E, como se fosse o Criador, põe-se a julgar de tudo e
de todos, não respeitando sequer o próprio Deus.
Benevolência e misericórdia de Deus
Felizmente, o Criador não julga segundo as leis
humanas, e muito menos conforme as normas nascidas desses três vícios, mas sim
com base na misericórdia. Foi para nos proporcionar melhor compreensão do
quanto Ele assim procede conosco, que Deus criou os instintos paterno e
materno.
Os pais consideram com amor as faltas dos filhos.
Às vezes chegam a exceder-se em benevolência, devido aos desequilíbrios do
pecado original, mas, em geral, emitem um juízo verdadeiro.
Esse é também o procedimento da Igreja. Procura ela
salvar a justiça, mas esforça-se por atenuar ao máximo a pena merecida pelo
pecador ou criminoso. Em face desse trato feito de santidade, o infrator mais
facilmente reconhece seu próprio erro e considera quase irrelevante a pena a
ser cumprida. Ademais, manifesta afetuosa gratidão.
Na própria leitura de hoje, vem à luz esse
misericordioso agir de Jesus e de sua Igreja para conosco: “Tudo isso vem de
Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo e nos deu a nós o ministério da
reconciliação, porque era Deus que reconciliava consigo o mundo em Cristo, não
lhe imputando os seus pecados e encarregando-nos da palavra de reconciliação”
(2Cor 5, 18-19).