Tríduo Pascal

sábado, 20 de agosto de 2011

Porta do céu

28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob, e todos os profetas no Reino de Deus, e vós serdes expulsos para fora.
Devido à nossa sensibilidade física reforçada pelo instinto de conservação, somos levados a julgar o fogo do Inferno o pior dos tormentos. Na realidade, possui ele uma intensidade fortíssima, a ponto de tornar desprezível qualquer forno de alta combustão na face da terra e, portanto, sua capacidade de infligir sofrimentos é incalculável. Porém, a maior dor se encontra apontada nas últimas palavras do versículo 28: “... serdes expulsos para fora”.
Que o Inferno existe, as Escrituras e o Infalível Magistério da Igreja proclamam como verdade revelada.
A Teologia busca razões claras para ajudar-nos na aceitação fácil desse indispensável dogma de Fé, como explica Pablo Buyse, em sua obra Dios, el alma y la religión: “Focalizemos, por exemplo, o seguinte caso, por desgraça muito freqüente na vida passional. Um homem pretende seduzir uma angelical jovem. Ao resistir esta, profere uma ameaça. Em vão. A lâmina de um punhal ameaça o peito da jovem. Não cede apesar de tudo. O grito de raiva do malévolo se confunde com o grito de dor da vítima, que cai agonizante. O sedutor, desesperado, crava em seu próprio peito o punhal banhado ainda no sangue de sua vítima. Vede aí, um ao lado do outro, dois cadáveres: o do verdugo e o de uma mártir. Pode Deus confundi-los num mesmo destino? Não, mil vezes não. É preciso que esse criminoso seja castigado na outra vida e se premie para sempre essa virtude”
A pena dos sentidos
Ao cometer um pecado grave, a alma manifesta uma aversão a Deus e um apego à criatura. À primeira cabe a pena do dano e à segunda, a dos sentidos.
Consideremos de início o menor dos sofrimentos: a pena dos sentidos.
Difícil é compreender a natureza de um fogo que não necessita de combustível. Fogo “inteligente”, que atinge não só a matéria – sem consumi-la – mas também os próprios espíritos, anjos e almas. Ademais, trata-se de um fogo cuja ação aprisiona, coarcta e mantém as almas, a contra-gosto, num lugar específico. Segundo nos comenta o Pe. Antonio Royo Marin, os horrores que alguém poderia enfrentar num calabouço escuro, sem poder mover-se, seriam nada em comparação com o encontrar- se prisioneiro perpétuo de uma criatura inferior, o fogo, que o tiraniza numa asfixiante e intérmina imobilidade.
Será físico o pranto dos condenados? São Tomás comenta ser analógica a afirmação contida neste versículo, a respeito do “choro”. Afirma ele que, após a ressurreição dos corpos, não poderão os condenados exteriorizar suas dores através das lágrimas, pois os ressuscitados não produzirão nenhum tipo de humor.
Pena do dano
O fato de faltar ao homem a agilidade de um felino – o gato por exemplo – ou a força de um leão, não significa uma privação mas sim uma simples carência, pois não é próprio à nossa natureza possuir essas qualidades. Contudo, o ser paraplégico ou cego, faz-nos sofrer uma verdadeira privação. Ora, fomos criados para Deus, por isso temos sede da felicidade infinita de vê-Lo e amá-Lo tal qual Ele é. E a privação eterna desse gozo, na condição de “expulsos para fora”, constitui o maior de todos os tormentos.
Acrescente-se a isso a exclusão da presença de todos os Anjos e Santos, em especial de Jesus e de Maria, além da perda dos bens sobrenaturais (graças, virtudes e dons) e da glorificação do próprio corpo. O ver nossos conhecidos de outrora na plenitude da felicidade, enquanto nós ardemos de indignação no “choro e ranger de dentes”, aumentará ainda mais um castigo, de si, inimaginável.
Ademais, se todas essas angústias fossem passageiras... Não! Serão eternas, ou seja, não terão fim.
29 Virão muitos do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e se sentarão à mesa do Reino de Deus.
Será também terrível para um precito ver aqueles que viveram em sucessivas e posteriores épocas históricas ingressando no Reino dos Céus, enquanto ele é expulso de Deus para viver, eternamente imóvel, nas chamas do inferno.
MARIA, PORTA DO CÉU
30 Então haverá últimos que serão os primeiros, e primeiros que serão os últimos
Surpreendente será essa inversão de valores, por isso, não devemos jamais nos sentir seguros devido às nossas qualidades, nem pelas graças recebidas, menos ainda pela riqueza que possa estar em nossas mãos. É necessário servir a Deus com ardor e entusiasmo, entrando “pela porta estreita” que bem poderá ser Maria Santíssima.
Não é sem razão que a Ela foi dado o título de Porta do Céu. Estreita porque exige de nós uma confiança robusta em sua proteção maternal. Invoquemo-La em todas as tentações e dificuldades, a fim de comprovarmos a irrefutável realidade de quanto “jamais se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à sua proteção maternal, implorado sua assistência, reclamado o seu socorro fosse por Ela desamparado”. E, ao chegarmos ao Céu, rendamos eternas graças aos méritos infinitos de Jesus e às poderosas súplicas de Maria.

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