24 Ele respondeu-lhe: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão.
É imperativo o conselho de Jesus: “esforçai-vos”, indicando- nos o quanto não se deve deixar para “procurar” entrar à última hora. Mas, infelizmente, é assustador o número de pessoas que, ao longo da vida, se despreocupam de saber o que lhes acontecerá após a morte. Muitos estão dispostos a trocar o Céu pelo fugaz prazer de um segundo e agem tal qual o fez Judas Iscariotes face às enganosas delícias deste mundo: “Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei” (Mt 26, 15). Não são poucos os que preferem Barrabás a Jesus, entregando-se às paixões e pecados em detrimento do convívio sem fim, com Deus. São Basílio descreve o modo pelo qual eles fazem essa insensata opção:
“Com efeito, a alma vacila sempre: quando reflete sobre a eternidade se decide pela virtude. Mas, quando olha o presente, prefere os prazeres da vida. Aqui vê a moleza e os deleites da carne; lá, a sujeição, a servidão e o cativeiro da mesma. Aqui a embriaguez, ali a sobriedade. Aqui os risos dissolutos, lá a abundância de lágrimas. Aqui as danças, lá a oração. Aqui o canto, lá o pranto. Aqui a luxúria, lá a castidade”.
Mas, qual é essa porta estreita? Jesus no-la indica:“Nem todos os que dizem Senhor, Senhor, entrarão no Reino dos Céus, senão aquele que faz a vontade de meu Pai” (Mt 7, 21).
Ela consiste, portanto, na obrigação nossa de abater o orgulho, controlar nosso olhar, pensamentos e desejos, guardar nosso coração das afeições desordenadas, viver da fé e da esperança na prática da verdadeira caridade, etc.
25Quando o pai de família tiver entrado e fechado a porta, vós, estando fora, começareis a bater à porta, dizendo: Senhor, abre-nos. Ele responderá: Não sei donde sois.
Os Evangelhistas costumam relatar as aproximações que o Divino Mestre fazia entre o Reino dos Céus e um banquete... Segundo as praxes da época, por medidas de segurança, além de outras razões, ao chegar o último convidado, o anfitrião trancava as portas. E assim, para tornar ainda mais clara a alegoria da porta estreita para se entrar no Céu, Jesus apresenta a parábola do pai de família que se fecha em casa com os seus filhos e amigos. Os que restaram fora pedirão que lhes deixe entrar, e receberão a resposta: “Não sei donde sois”. A razão dessa resposta não vinha do fato de não haver mais lugar, mas sim, por não terem querido entrar pela porta estreita.
Que surpresa para aqueles que julgavam estar salvos devido à prática de umas tantas e poucas obrigações religiosas...
A cena descrita nesta passagem traduz em termos domésticos uma profunda realidade eterna. A família aqui representada é a divina. A ela pertencem todos os batizados que vivem na graça de Deus e, nesta morrendo, gozarão da felicidade perpétua participativa do convívio da Santíssima Trindade. De fora daquela intimidade ficarão todos os que morrerem impenitentes de seus pecados. O Pai os tratará como estranhos desconhecidos.
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