“Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26, 41), disse o Senhor aos três Apóstolos que mais de perto O acompanhavam na oração no Horto das Oliveiras, na noite em que ia ser entregue. Por mais que o espírito esteja pronto, a carne é fraca, afirmou Ele logo a seguir.
E de fato, a História confere realidade a esta afirmação de Jesus: não poucas almas facilmente perdem o fervor e caem na tibieza, e às vezes até mesmo em pecados graves, por puro descuido. A tal ponto não nos basta somente a oração que a recomendação do Salvador se inicia pela vigilância. Assim como numa fortaleza, havendo uma brecha desguarnecida em sua muralha, por ali penetra o inimigo, da mesma forma o demônio espreita os lados mais débeis de nossa alma para nos atacar e derrotar.
Por isso nos adverte São Pedro: “Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (1 Pd 5, 8).
Relação com a prudência
Essa vigilância tem suas raízes na virtude cardeal da prudência. “A prudência não se esconde, mas vela com uma diligência admirável, tal é o medo que tem de ser surpreendida pelas secretas insídias dos maus”.
São Tomás de Aquino deixa claro que, se a prudência é a virtude que tanto rege a vida moral e espiritual do homem, como também a vida exterior e humana, é claro que a vigilância adquire um lugar importante em nossa vida espiritual e moral.
Na prática dessa virtude vamos de encontro ao zelo de Deus por nossa perseverança, pois Ele nos envia seus anjos “para que nos guardem em todos os nossos caminhos” (Sl 90, 11). Deus “mantém sobre nós, incansável e solícito, aquele singular olho alerta da clemência divina”.
Zelo pela salvação da própria alma
Deus criou todas as coisas perfeitas e boas, não podendo proceder d’Ele o mal. Os anjos revoltados, logo no princípio da criação e lançados ao inferno por São Miguel, foram os introdutores do mal já no Paraíso Terrestre e, até hoje, ainda procuram fazê-lo penetrar no âmago das almas. “Aquele que combate Israel não dorme nem dormita. Todo o intuito, todo o afã das milícias espirituais em sua guerra contra nós é o de conduzir-nos e pôr-nos em seu caminho para que as sigamos e nos levem ao desastroso fim que lhes está destinado”.
Essa é uma das razões pelas quais devemos cuidar de nossas almas em quaisquer circunstâncias de nossa existência, quer seja na calmaria da clausura de um convento contemplativo, ou na mais intensa das atividades no mundo.
Daí o conselho deixado como herança por nossa Doutora, Santa Teresinha do Menino Jesus : “Vós vos dedicais em excesso às vossas ocupações; vossos afazeres vos preocupam demasiadamente. Li há tempos que os israelitas construíam as muralhas de Jerusalém trabalhando com uma das mãos e empunhando na outra a espada. Eis aqui uma imagem do que devemos fazer: trabalhar apenas com uma mão, reservando a outra para defender nossa alma dos perigos que possam impedir a união com Deus”.
Insistem os tratados de vida espiritual num ponto de suma importância: evitar a ociosidade. “Costumavam dizer os Padres do deserto: Que o demônio te encontre sempre ocupado”. E contam que Santo Antão, quando se queixou de que não conseguia estar continuamente em oração, recebeu esta resposta do Céu: “Quando não puderes orar, trabalha”.
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