Tríduo Pascal

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Acirramento dos sinedritas contra Jesus

Uma civilização atraída por enigmas e parábolas
Para melhor entendermos a Liturgia, devemos remontar aos hábitos do tempo do Divino Mestre. Encontraremos uma civilização mais campesina, pastoril e orgânica do que a nossa, sem os progressos da tecnologia atual. Ademais, a prática da reflexão não fora substituída pela máquina. Naquele tempo sem rádio, TV, telefone, computador e outros aparelhos do gênero, uma das mais fortes atrações do relacionamento humano era a conversa, e nesta o uso de enigmas e parábolas. Era corrente então valer-se de axiomas éticos para a resolução dessas ou daquelas questões concretas da vida de todos os dias. Lançar mão de metáforas para fins didácticos não era, portanto, uma inovação implantada pelo Messias. Ele não fez senão servir-se dos costumes vigentes.
As Sagradas Escrituras estão embebidas de casos nos quais as disputas se realizavam tomando como base enigmas. Assim se aprimorava a inteligência, como também o senso moral, racional e estético.
Inveja e arrogância dos sinedritas
Na lembrança dos escribas, anciãos do povo, príncipes dos sacerdotes e outros, estava toda a fama angariada pelo Divino Mestre ao longo de sua vida pública, incluindo o recentíssimo episódio da entrada triunfal em Jerusalém. Quando viram “Jesus Cristo entrar no Templo com grande pompa, agitaram-se por inveja; e assim, não podendo sofrer em seu coração o ardor da inveja que os acossava, levantaram a voz” (2) e com grande arrogância resolveram interromper a pregação, perguntando-Lhe: “Com que autoridade fazes estas coisas? E quem Te deu tal direito?” (Mt 21, 23).
A seguir se estabelece um diálogo entre Jesus e as autoridades religiosas.
À procura de uma ocasião para desacreditá-Lo
Como comenta Frei Manuel de Tuya OP (3), grande exegeta de Salamanca, os sinedritas agiam com má intenção, uma vez que secretamente já haviam condenado Jesus à morte. Apenas andavam à procura de uma ocasião oportuna para executar essa sentença. Queriam comprometê-Lo e desacreditá-Lo ante o público, o que facilitaria seu intento. Era idéia aceita no ambiente rabínico que seria preciso pedir sinais ao Messias, a fim de que este fosse reconhecido como tal.
Era verdade que ninguém podia ensinar no Templo sem antes haver recebido a imposição de mãos de outro rabino. Entretanto, ao indagarem a Jesus sobre quem Lhe havia dado autoridade para pregar, a intenção deles era pedir satisfação também pelos eventos do Domingo de Ramos, pelas aclamações messiânicas com as quais fora recebido no próprio Templo e até pelos milagres realizados ali. A pergunta era, portanto, sobre seus poderes messiânicos.
Jesus responde: “De onde era o batismo de João?”
Jesus lhes respondeu: “Também Eu vos farei uma pergunta; se Me responderdes, Eu vos direi com que direito faço estas coisas. De onde era o baptismo de João? Do Céu ou dos homens?” (Mt 21, 24-25). Os evangelistas traduzem o que os sinedritas pensavam: “Se Lhe dissermos que do Céu, Ele dirá: Então por que não crestes nele? Se Lhe dissermos que é dos homens, tememos o povo” (Mt 21, 25-26).
Frei Manuel de Tuya observa que Jesus, ao interrogá-los sobre o batismo de João, mantinha-se no terreno messiânico, pois o Batista só anunciava o Messias. E eles o compreenderam perfeitamente, daí terem respondido: “Não sabemos”. Temiam eles as multidões que consideravam São João Batista um verdadeiro profeta. Melhor, temiam que “todo o povo os apedrejasse”, como diz São Lucas (20, 6). O delito religioso acarretava o apedrejamento, e o povo costumava reagir impulsiva e cegamente nesses casos. Assim, o temor dos membros do Sinédrio era bem justificado!
Embaraço dos sinedritas
A resposta deles era, ela mesma, um juízo a respeito de sua incapacidade de pronunciar um veredicto em assuntos desse gênero. Afinal, se depois de tudo o que São João Batista fizera, não eram capazes de formar uma opinião sobre ele, quanto mais em se tratando de Jesus, que lhes fornecera inumeráveis signos de ser o Messias. A embaraçada resposta dos sinedritas deu oportunidade ao divino Mestre de dizer: “Nem Eu vos direi com que autoridade faço estas coisas” (Mt 21, 27).

Continua no próximo post

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