Será como um homem que, empreendendo uma viagem, deixou a sua casa, delegou a autoridade aos seus servos, indicando a cada um a sua tarefa, e ordenou ao porteiro que estivesse vigilante.
Segundo os Padres da Igreja, foi Jesus quem “deixou a sua casa”, ao subir aos céus. E a nós, deu-nos o encargo de vigiarmos. Nossa primeira obrigação recai sobre nós mesmos. De nada nos adianta rezar se não nos afastamos das ocasiões que podem nos levar ao mal. Além disso, cada um de nós, em sua função, tem responsabilidade sobre outros: patrões sobre empregados, pais sobre filhos, mestres sobre alunos, etc.
Os Pastores são representados pela figura do porteiro, a qual também simboliza o nosso dever de velarmos por nossos próprios corações.
Vigiai, pois, visto que não sabeis quando virá o senhor da casa, se de tarde , se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; para que vindo de repente, não vos encontre a dormir.
Não é só neste trecho que Jesus repete de forma imperativa seu conselho de vigilância. Os quatro Evangelhos contêm várias passagens relativas a esse empenho do Divino Mestre. Aqui, em concreto, as circunstâncias são descritas com certa variedade e de maneira metafórica. O importante é não sermos apanhados dormindo por ocasião de uma visita imprevista.
Essa advertência tem um real fundamento. A criatura humana, ao pecar, não recebe um castigo de imediato. Por isso o pecado vai aos poucos se transformando em habitual e, no fim, se torna um inveterado vício. Por uma necessidade de racionalizar e, assim, aquietar sua própria consciência, a pessoa acaba por atribuir a Deus o juízo relativista que elaborou para justificar-se.
Jesus, apesar de conhecer bem o pecado de cada um de seus irmãos e até de odiá-lo, cala-se por amor à salvação destes, para conceder-lhes mais oportunidades de se emendarem. Ora, sem vigilância, esse processo de regeneração é impossível. É preciso que Jesus não nos “encontre a dormir”, ou seja, entibiados nos vícios...
O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!
Assim termina o cap. XIII de Marcos. O capítulo seguinte será a descrição de toda a Paixão.
Neste versículo se encontra o caráter universal dos conselhos proferidos por Jesus a propósito da suma importância da vigilância em face não só do fim do mundo, mas também do fim de cada um de nós. Todos nós morreremos. Em que momento, não o sabemos. Estejamos alertas! Nesse dia nos encontraremos com Jesus; será o nosso juízo particular. Não será o único, pois Ele quer dar um caráter público e social ao julgamento, daí haver um segundo juízo.
Conclusão
Em nosso egoísmo, somos levados a nos considerar o centro de nossas atenções e preocupações, mas a essência de nossa vida cristã é social: “Amai-vos, uns aos outros” (Jo 13, 34; 15, 12; 15, 17); ou: “Quem ama ao próximo, cumpriu a lei” (Rom, 13, 8). Jesus pesa nossos atos em função de nossa misericórdia com o próximo, ou seja, Ele usa, para nos julgar, de um critério social.
Deus distribui seus bens de forma desigual aos homens, para que uns possam dispensar e outros receber. Isso se passa não só no campo material como também, e sobretudo, no campo cultural e espiritual. Pela misericórdia e justiça unidas, seremos nós julgados diante de todos os anjos e homens.
Preparemo-nos, pois, neste Advento, para receber Jesus que vem na plenitude de sua misericórdia, e roguemos Àquela que O traz a este mundo sua poderosa intercessão para o nosso segundo encontro com Ele, quando vier de improviso, na plenitude de sua justiça.
1) Suma Teológica, III q 59, a 2 ) Suma Teológica, III q 59, a 3 3 ) Cf. Suma Teológica, Supl. q 90, a 2. 4 ) Serm. 18,1: PL 38, 128-129. 5 ) Sto. Hilário, 9, de Trinit. 6 ) Exeunte iam anno, 25 de dezembro de 1888. 7 ) Carta ao povo italiano, 8 de dezembro de 1892. 8 ) Vigilante cura, n. 18. 9 ) ibid., n. 19. 10 ) ibid., n. 21. 11 ) ibid., n. 25. 12 ) À Ação Católica Italiana, 12 de outubro de 1952. 13 ) Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 1º de maio de 1967.
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