Sacrifício indispensável
Analisemos agora as belíssimas palavras de Jesus, suscitadas pelo pedido daqueles gregos: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto” (Jo 12, 24).
Assim como o grão de trigo, Ele precisa morrer, e por morte de cruz. Diante desse supremo sacrifício, transparece a debilidade da natureza humana assumida pelo Verbo de Deus. Seus argumentos mais parecem destinados a solidificar sua decisão, entretanto já tomada: “Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me; e, onde eu estiver, estará ali também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará” (Jo 12, 25-26). Quem se entrega à prática dos vícios e do pecado, ama sua vida neste mundo, esclarece São João Crisóstomo. Se resistir às paixões, conservá-la-á na vida eterna.
Getsêmani
“Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi?” Silêncio. “Pai, salva-me desta hora.” Silêncio. “Mas, para padecer nesta hora é que Eu vim a ela. Pai, glorifica o teu nome!” (Jo 12, 27-28).
O monólogo de Nosso Senhor prossegue, mais pessoal, mais sublime, mais confrangedor. Suas palavras são entrecortadas por silêncios meditativos, indicados pelo evangelista com reticências. O Redentor estremece à vista da cruz e — comenta São João Crisóstomo — sua turbação nos mostra quão inteiramente Ele, sendo embora a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, havia assumido a natureza humana.
Mistério inefável e inatingível por nossa inteligência, o paradoxo de sentimentos simultâneos e opostos numa mesma pessoa: enquanto a natureza divina estava permanentemente pleníssima de gáudio, a humana O levaria a suar sangue no Getsêmani. Entretanto, possuindo um nobre Coração, em instantes reagiu às angústias, retomando a suprema paz, conforme comenta o célebre exegeta L. Cl. Fillion na sua conhecida obra sobre a vida do Salvador.
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