Tríduo Pascal

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Contexto do Evangelho 5º domingo da Páscoa - ano B

Deus quis se fazer íntimo de nós
Moisés se maravilhou com a sarça que ardia sem se consumir. Aquelas chamas de incomum beleza, mantidas pela ação de um anjo, atraíram-no. Movido por uma forte e sobrenatural curiosidade, ele aproximou-se “para contemplar esse extraordinário espetáculo” e qual não foi sua surpresa ao ouvir de dentro das labaredas a voz de Deus, a adverti-lo de que tirasse suas sandálias por encontrar-se numa “terra santa”.
Ali recebeu a elevada missão de libertar do cativeiro o povo eleito e de conduzi-lo à Terra Prometida. Porém, naqueles alvores de seu profetismo, surgiu uma perplexidade: como apresentar aos outros o Senhor? Dúvida inteiramente compreensível, pois o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó era distante, invisível e de difícil acesso. Mas, a resposta foi extremamente sintética: “Iah Weh”, ou seja: “Eu sou” (1).
Aquele era o mesmo Deus que passeara todas as tardes com Adão no Paraíso (2) e que, após o pecado original, fez-Se menos presente entre os homens. A partir daí, quase sempre suas manifestações se deram através da grandeza dos castigos (dilúvio, confusão das línguas, etc.), que incutiam um profundo respeito, temor e admiração no povo. Embora a travessia do Mar Vermelho, o maná e outras ocorrências miraculosas durante o Êxodo lhes dessem um conhecimento experimental da existência de um Ser Supremo que os protegia nos caminhos da vida, a própria entrega das Tábuas da Lei no Sinai tornou-se um símbolo do relacionamento d’Ele com o homem, baseado numa severa justiça. Aquele Ser absoluto se apresentava ao povo eleito como um Legislador intransigente, invisível e intocável.
Esse modo de agir divino passou por uma transformação inimaginável nestes mais de dois mil anos de Novo Testamento, desde que o “Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Aquele mesmo Deus que fez tremer o Sinai e deu grandes poderes ao braço de Sansão e à voz de Elias, pôde ser adorado enquanto bebê na manjedoura, em Belém, e esteve nos braços de Maria, José, Simeão e dos Reis Magos.
Doze anos mais tarde, ainda menino, discutiu com os doutores no Templo, e durante sua juventude, auxiliou seu pai nos trabalhos de carpintaria. E, ao iniciar sua missão pública, fez-Se presente a umas bodas em Caná, realizando ali seu primeiro milagre.
Em Jesus, Deus quis Se fazer íntimo de nós. Ele continuou sendo o mesmo “Iah Weh”, mas atribuindo-Se títulos diferentes: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10, 11), “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” ( Jo 14, 6), “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8, 12), “Eu sou a porta das ovelhas” (Jo 10, 7), “Eu sou o pão vivo que desceu do céu” (Jo 6, 51). Fazendo menção a essas criaturas todas — inclusive comparando-se à galinha com seus pintainhos, ao chorar sobre Jerusalém —, Ele mostra bem qual seu incomensurável desejo (desejo eterno) de nos fazer participar de sua vida.
É nesse contexto que se insere o Evangelho do 5º domingo de Páscoa (ano B). “Eu sou a videira verdadeira, e  meu Pai é o agricultor”.

Continua nos próximos posts.

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