Tríduo Pascal

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Evangelho 11º Domingo do Tempo Comum ano B

Continuação

Parábola do grão de mostarda

Se na parábola da semente quis Jesus sublinhar o dinamismo intrínseco da Palavra de Deus, alimentada pela graça, na do grão de mostarda é posto em relevo seu grande poder transformador.
Sobre isto, comenta o padre Manuel de Tuya, OP: “Estabelece-se aqui a comparação entre ‘o menor’ que se tornará ‘o maior’. Sucederia de igual modo com o Reino: no início, é mínimo, são poucas as pessoas que se unem a ele, mas ficará tão grande que nele caberão multidões”.11

E o Cardeal Gomá acrescenta: “O objetivo da parábola é demonstrar a força de expansão da semente do Reino de Deus, que Jesus trouxe ao mundo. Se, segundo a primeira parábola, salva-se apenas uma parte dessas sementes, e mesmo estas, conforme a parábola do joio, misturadas com más sementes, o que restará do Reino de Deus? Com esta parábola do grão de mostarda, Jesus remove todo temor: a força da semente é imensa e vencerá todos os obstáculos, apesar de ser pequena”.12

Um diminuto grão de admirável potência vegetativa

“Dizia Ele: A quem compararemos o Reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos? 31 É como o grão de mostarda que, quando é semeado, é a menor de todas as sementes”.

Jesus Se serve de uma imagem agrícola muito comum em Israel e em todo o Oriente. A pequenez do grão de mostarda era proverbial entre os judeus, e não foi em vão que o Divino Mestre o escolheu como figura do Reino de Deus, de modo a tornar ainda mais cogente o exemplo proposto.

Embora diminuta, essa semente possui admirável potência vegetativa. Nas hortas da Palestina, segundo explica Fillion, ela era frequentemente cultivada, devido a suas propriedades medicinais, e o Talmud descreve suas plantas, verdadeiras árvores que atingiam, por vezes, até três metros de altura e podiam suportar o peso de um homem, sem risco de se lhe quebrarem os galhos.13

O simbolismo do grão de mostarda é interpretado de diversas formas pelos comentaristas. Para o Cardeal Gomá, ele “simboliza Jesus, que o Pai enviou ao campo deste mundo em figura de servo, ‘o opróbrio de todos e a abjeção da plebe’ (Sl 21, 7)”.14

No mesmo sentido se pronuncia São Pedro Crisólogo: “Cristo é o Reino que, como grão de mostarda plantado no jardim de um corpo virginal, propagou-Se por todo o orbe na árvore da Cruz, e foi tão grande o sabor de Seu fruto que se consumiu com a Paixão, para que todo vivente o deguste e com ele se alimente”.15

E Santo Ambrósio acrescenta: “O próprio Senhor é um grão de mostarda. Estava Ele longe de qualquer tipo de falta, contudo, como no exemplo do grão de mostarda, o povo, por não conhecê-Lo, não teve contato com Ele. E preferiu ser triturado, para que possamos dizer: ‘Somos diante de Deus o bom odor de Cristo’ (II Cor 2, 15)”.16


Triturado, o grão espalha sua força

“Mas, depois de semeado, cresce, torna-se maior que todas as hortaliças...”.

O grão de mostarda é também símbolo da pregação evangélica e da própria Igreja, iniciada por Jesus Cristo e continuada pelos discípulos, na Judeia e depois no mundo inteiro.

Quem acreditaria que aquele punhado de homens simples que acompanhavam Jesus, seria suficiente para tornar conhecida, amada e praticada em toda a terra a nova doutrina que o Mestre lhes havia ensinado? Só uma ousadia divina seria capaz de conceber este plano e de incutir nas almas de seus seguidores a coragem para executá-lo.

A Igreja nasceria tal qual a semente que, ao partir-se dá lugar à árvore. Jesus Cristo profetizara a seus discípulos dificuldades, sofrimentos e perseguições.

Afirma Santo Ambrósio: “Sem dúvida, o grão de mostarda é algo vil e diminuto, e expande sua força somente quando triturado. Assim também a Fé: de início parece coisa simples, mas, posta à prova pela adversidade, dilata a graça de seu valor a ponto de embriagar com seu perfume todos aqueles que ouvem ou leem algo a seu respeito”.17
Com literária beleza é apontada por um autor francês do séc. XVIII a necessidade que tem toda alma de sofrer: “Esse grão não tem força enquanto permanece inteiro. Quando, porém, é moído ou esmagado, adquire uma viva e picante acridade. Eis um belo símbolo do cristão nesta vida: quando ele nada tem a sofrer, costuma não ter força nem vigor; mas quando é perseguido, oprimido, calcado aos pés, quando sofre, quando é reduzido a pó, aí então sua Fé se torna mais viva, seu amor mais ardente, seu coração mais inflamado pelo fogo do Espírito Santo, no qual ele se abrasou — isso é que lhe dá novo vigor”.18

A árvore da Igreja, repouso para os sábios

“... e estende de tal modo os seus ramos, que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra”.

Ao colocar este belo detalhe no final da parábola, Jesus previa a vitória de Sua doutrina até entre os mais poderosos. Os gênios, os filósofos e os sábios, renunciando à vaidade de sua ciência, viriam repousar à sombra da palavra do Evangelho, a única que ilumina e traz a paz da consciência.

Sobre isso, escreve Teofilato: “Muito pequena é, de fato, a palavra do Evangelho: ‘Crê em Deus e serás salvo’. Pregada na terra, entretanto dilatou-se e aumentou de tal modo que as aves do céu — isto é, os homens contemplativos e dotados de verdadeiro entendimento — vieram habitar à sua sombra. Quantos sábios, abandonando a sabedoria dos pagãos, encontraram no Evangelho o seu repouso!”.19
E, pitorescamente, o Cardeal Gomá completa: “As aves são gulosas da semente desse arbusto e pousam em seus galhos para comê-la. Representam, essas avezinhas, os povos do mundo inteiro, que vêm pousar na árvore da Igreja para receber seus benefícios”.20
Continua no próximo post

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