Tríduo Pascal

terça-feira, 12 de junho de 2012

Evangelho 11º Domingo Tempo Comum ano B

 Continuação
Parábola da semente
No Evangelho do 11º Domingo do Tempo Comum, Jesus propõe duas parábolas para mostrar o miraculoso desenvolvimento de Sua Igreja e a grande eficácia da palavra de Deus que, lançada nas almas, germina e cresce por si só, produzindo abundantes frutos.
A primeira delas, muito breve, consta apenas no Evangelho de São Marcos, sendo omitida por São Mateus e São Lucas; seu sentido, entretanto, é profundo e pervadido de riquezas.
“Dizia também: O Reino de Deus é como um homem que lança a semente à terra”.
Na abalizada opinião dos Santos Padres, assumida e comentada por Maldonado, o Reino de Deus é, em sua essência, a Igreja. No que tange à semente, interpretam-na eles como sendo a pregação da Palavra de Deus. A terra, por sua vez, representa os ouvintes, com uma pequena diferença em relação à parábola do semeador, narrada pouco antes: nesta são contemplados apenas os bons ouvintes, os quais põem em prática o ensinamento evangélico, rendendo uma considerável colheita.
Por fim, o homem que lança a semente é o próprio Cristo, vindo ao mundo “para dar testemunho da verdade” (Jo 18, 37), como Ele mesmo afirmará diante de Pilatos. Entretanto, dada a íntima união de Nosso Senhor Jesus Cristo com seus ministros, e com todos aqueles que pelo Batismo se tornam filhos de Deus, esse homem da parábola representa também aqueles que, em nome de Jesus, se dedicam ao anúncio do Evangelho.2
Eficácia da palavra de Deus
“Dorme, levanta-se, de noite e de dia, e a semente brota e cresce, sem ele o perceber”.
Deus criou as coisas materiais de forma que, analisando sua simbologia, pudesse o homem elevar-se até os mais altos planos da Criação. Assim, o dinamismo que existe nos vegetais é uma bela imagem da ação de Deus nas almas, muitas vezes silenciosa e imperceptível, como afirma São Gregório Magno: “A semente germina e cresce sem ele perceber, porque, embora ainda não possa notar seu crescimento, a virtude, uma vez concebida, caminha para a perfeição, e a terra por si mesma frutifica, porque, com a graça, a alma do homem se eleva espontaneamente à perfeição do bem operar”.3
Não nos esqueçamos que, conforme escreve Maldonado, “o objetivo de toda a parábola é demonstrar a grande eficácia da Palavra de Deus, a qual, pelo simples fato de cair na terra, como está dito na parábola anterior, logo brota por si mesma, cresce e produz fruto”.4
Mais adiante, o douto Jesuíta completa: “Ao propor essa parábola, parece que Cristo tencionava não só demonstrar a grande força inata da Palavra de Deus para germinar por si mesma, mas também tirar aos Apóstolos toda ocasião futura de vanglória”.5 O que equivale a dizer, com palavras do Apóstolo: “Assim, nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer” (I Cor 3, 7).
Necessidade da nossa livre cooperação
A força que existe numa semente para fazer germinar a planta é imagem do vigor próprio da graça e dos carismas, ao atuarem na alma humana. Mas para esta semente nascer e dar fruto, é necessária a nossa livre cooperação.
Sobre isto, afirma o Cardeal Gomá: “Essa terra, comenta o Crisóstomo, é nossa livre vontade, porque o Senhor não faz tudo na obra de nossa salvação, mas a confia à nossa vontade, para que a obra seja espontânea. É verdade que sem Deus nada podemos fazer na ordem sobrenatural, mas certo é também que Ele não nos salvará sem nossa livre cooperação. O fruto da vida eterna é da semente e da terra, de Deus e do homem”.6
De modo análogo, não podem os pregadores se despreocupar dos fiéis nos quais semearam: “Contudo, alguém perguntará: ‘Quis porventura Cristo ensinar que os pregadores do Evangelho podem ficar despreocupados, uma vez que tenham lançado nas almas a semente da palavra de Deus? De modo algum. Devem, pelo contrário, exortar, animar e confirmar com frequência aqueles que ouviram a Palavra de Deus, para que conservem o que já têm e não aconteça de outro receber a recompensa ou o demônio arrancar a semente”.7
Interessante é notar, por fim, o problema levantado por Maldonado sobre a aparente ausência do semeador principal, o qual simboliza Cristo.
“Poderia algum leitor ter dúvidas sobre como entender o papel de Cristo nesta parte da parábola, pois, sendo Ele o principal semeador da Palavra de Deus, se, depois de semeá-la, nada fizesse na alma dos ouvintes (regando-as com sua graça, etc.), ela jamais germinaria. Acontece, de algum modo, que é Ele mesmo quem, como homem, semeia e, como Deus, a faz frutificar. Enquanto homem, lança a semente, como depois fizeram os Apóstolos, e enquanto Deus, a faz crescer com Sua graça, como se irrigasse a alma com chuva contínua”.8
Continua no próximo post

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