Tríduo Pascal

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Evangelho 19º Domingo do Tempo Comum - Jo 6, 41-51

Esse Evangelho será comentado em diversos posts.

“Eu sou o Pão vivo descido do Céu”
Ao comer do fruto proibido, nossos primeiros pais pecaram e entrou no mundo a morte. Por meio de outro alimento, o “Pão descido do Céu”, foi-nos restituída a vida. Na Eucaristia, o próprio Deus Se oferece ao homem como comida, dando-lhe infinitamente mais do que havia perdido.
Deus se oferece como alimento
Ao tomarmos um primeiro contato com esta passagem do Evangelho de São João, logo nos deparamos com a surpreendente, obstinada e ilógica incredulidade dos contemporâneos de Jesus, em relação à Sua divindade.
Transcorridos dois milênios, talvez nos seja difícil compreender como podia alguém duvidar da divindade de Nosso Senhor ante provas tão evidentes: cura de todo tipo de doenças, libertação de possessões diabólicas, ressurreições e outros milagres assombrosos, entre os quais a mudança da água em vinho, ou a multiplicação de pães e peixes, ocorrida pouco antes do episódio narrado neste Evangelho do 19º Domingo do Tempo Comum.
Como era, então, possível a alguém contestar as claras afirmações dEle a respeito de Sua divindade e desprezar os Seus divinos atributos? O que levava seus contemporâneos a tomar tal atitude?
Quando no homem prepondera a matéria
A natureza humana é um composto de espírito e matéria — a alma e o corpo — no qual há uma hierarquia em que a parte espiritual deve governar a material, o que ocorre pela prática da virtude, com o auxílio da graça. Mas, quando o homem se deixa dominar pelas potências inferiores, as paixões desregradas exercem uma tirania sobre a parte mais nobre e elevada, e ele fica entregue ao vício. No primeiro caso predomina o espírito e dizemos estar diante do homem espiritual; no segundo, prepondera a matéria: é o homem carnal, ou como se diz modernamente, materialista.
Detenhamo-nos um pouco no segundo caso, procurando descrever alguns traços da psicologia do homem carnal, para melhor compreendermos a dureza de coração dos contemporâneos de Jesus.
O materialista está voltado principalmente para a fruição sensível da vida. Seus horizontes intelectuais pouco mais abarcam do que a realidade concreta. Dir-se-ia ter perdido a capacidade de ver os fatos em três dimensões, passando a observar tudo apenas num plano só, o dos seus pequenos interesses pessoais e imediatos, sem a profundidade do que é eterno. Por isso, não é capaz de captar as realidades mais elevadas, de ordem sobrenatural. O materialista é um míope do espírito. Torna-se incapaz de elevar o olhar para os grandes horizontes da Fé que Deus lhe oferece misericordiosamente.
Visualização deformada dos contemporâneos de Jesus
É essa impostação distorcida do espírito que levava os contemporâneos de Jesus a verem nEle apenas o filho do carpinteiro José, e nada mais. Eram incapazes de admirar e venerar Suas excelsas virtudes, nas quais não podia deixar de transparecer Sua divindade, por terem o espírito endurecido pela consideração apenas da realidade concreta, imediata e visível. Não podiam admitir que Aquele que tinham visto crescer e vivia entre eles pudesse ser Deus e homem: “Como, pois, diz Ele: Desci do Céu?” (Jo 6, 42).
Era dessa visualização materialista que nascia a impossibilidade de aceitar o maior dom de Deus à humanidade: a Eucaristia, tema deste Evangelho.
Com efeito, as realidades visíveis são imagens das invisíveis e sobrenaturais, como ensina São Paulo: “Desde a criação do mundo, as perfeições de Deus, o Seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por Suas obras” (Rm 1, 20). Mas, para ter essa visão do universo é necessário ser homem espiritual.
Ora, carnal e voltada para a realidade concreta, não poderia a maioria dos judeus compreender o que lhes queria dizer Jesus quando falava de um “Pão descido do Céu”, que lhes traria a vida eterna. Para eles, a finalidade única do alimento era sustentar a vida material humana. Seu intelecto dificilmente poderia se alçar a essa verdade transcendente: ao criar o homem com a necessidade de nutrir-se, Deus tinha em vista a instituição da Eucaristia, para poder sustentar, por meio do “Pão descido do Céu”, sua vida sobrenatural.

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