Os fatos se passam a caminho de Cesaréia de Filipe. Essa cidade outrora se chamara Paneion, pois, durante longo período, seus habitantes prestaram culto ao deus Pan, numa gruta natural ali existente. Filipe, filho de Herodes o Grande, empregou todos os seus esforços para reconstruí-la, ampliando-a e embelezando-a, e, para cair nas boas graças do Imperador Tibério César, mudou-lhe o nome para Cesaréia de Filipe.
Conforme opina Santo Agostinho, fazendo uma aproximação entre esta narração de Marcos e a de Lucas (9, 18), Jesus, depois de rezar, recolhido à parte, começou a interrogar os Apóstolos. Transparece neste episódio o empenho do Divino Mestre em preparar os fundamentos de sua Igreja. Já desenvolvera amplamente sua ação junto ao público, tornava-se necessário, àquela altura, deixar fixados os elementos para dar continuidade à sua obra salvadora.
Para o mundo, Jesus era um grande herói
Saiu Jesus com os seus discípulos pelas aldeias de Cesaréia de Filipe. Pelo caminho, interrogou os discípulos: “Quem dizem os homens que Eu sou?” 28 Eles responderam-Lhe: “Uns dizem que João Batista, outros que Elias, e outros que algum dos profetas”.
Neste diálogo constataremos, uma vez mais, a grande incoerência do espírito humano. Com toda a facilidade, naquela quadra histórica, chegavam os homens a cultuar como deus o imperador romano. Assim, nessa mesma cidade que havia sido dada de presente ao pai de Filipe, Herodes o Grande, foi imediatamente construído, ao lado do “santuário” dedicado ao deus Pan, um faustoso templo de mármore para se prestar culto ao imperador. Alguém poderia objetar que não nascera esse plano — e menos ainda sua realização — do seio do judaísmo; mas quantos foram os deuses criados pelo povo eleito, em seu passado? O próprio efod produzido e utilizado por Gedeão (cf. Jz 8, 2427) passou a ser objeto de culto de latria e, por isso mesmo, causa de castigos. Ou seja, com a maior facilidade, os judeus caíam no mimetismo idolátrico com os povos pagãos. Em contrapartida, quando se tratou do Deus verdadeiro feito Homem, praticando uma fileira de incontáveis milagres comprobatórios de sua onipotência, não se levantou uma opinião unânime de que aparecera o Messias esperado dos Patriarcas e Profetas, e previsto nas Escrituras. Alguns poucos, de fato, reconheceram-No, mas a maioria preferia admitir toda espécie de quimeras e exageros, a aderir a um Messias cuja imagem não conferia com os ditames equivocados e caprichosos de cada um.
A pergunta de Jesus lhes é dirigida no último ano de sua vida pública. A demonstração, pelos fatos concretos, de Quem era Ele, já se tornara suficientemente conclusiva. Os próprios demônios O haviam proclamado o “Santo de Deus” (Mc 1, 24), o “Filho de Deus” (Mc 3, 11), o “Filho do Deus Altíssimo” (Lc 8, 28).
O Batista havia declarado não ser digno de lhe desatar a correia das sandálias, devido à sua inferioridade (cf. Mc 1, 7). Mas os lábios do povo não pronunciaram o título de Messias. Esse é o resultado da triste inclinação do espírito humano para o erro, quando perde a inocência. Facilmente segue o caminho oposto ao das verdades próprias à salvação. Não é fácil à opinião pública reconhecer como autênticos e dignos de crédito os valores reais, sobretudo quando estes contradizem tendências racionalizadas opostas à moral.
Apesar disso, nota-se, pelas suposições enunciadas pelos Apóstolos, que se atribuía a Jesus a categoria dos grandes heróis da história judaica, chegando-se a considerá-Lo um precursor do Messias.
Continua no próximo post.
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