43 “Jesus chamou os discípulos e disse: ‘Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. 44 Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver’”.
Grande deve ter sido a impressão produzida por essas primeiras palavras do Mestre. Como podia a pobre viúva ter dado “mais do que todos os outros”, se estes despejaram grande quantidade de moedas de ouro, enquanto ela depositou apenas duas moedinhas de valor insignificante?
Para esclarecer seu ensinamento, Jesus explica: a viúva jogou no cofre tudo quanto “possuía para viver”, enquanto os ricos deram do que lhes sobrava. Ao fazer essa comparação, Cristo não visava condenar os ricos, mas elogiar aquela mulher pelo fato de nada ter guardado para si. Com efeito, quando um rico entrega a integridade de seus bens, ele dá mais do que quem faz o mesmo, mas dispõe de pouco. Era o caso, por exemplo, de Lázaro, Marta e Maria, membros de uma abastada família de Israel, os quais se entregaram por inteiro a Nosso Senhor.
Aquela viúva dera tudo, pondo-se nas mãos de Deus. É muito de se crer que o próprio Jesus lhe outorgara a graça de assim proceder, propondo-Se ampará-la. Sem esta o saber, Ele oferecia à pobre mulher um bem superior a qualquer outro: a glória de ser elogiada pelo Verbo Encarnado. Nessa complacência de Nosso Senhor para com ela, entrava uma predestinação para a glória eterna.
No extremo oposto estavam os mestres da Lei: estes “devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações”, motivo pelo qual “receberão a pior condenação” (Mc 12, 40).
Deus conhece as intenções do coração
Nestes versículos, Nosso Senhor contrapõe o episódio das esmolas à denúncia antes feita contra os doutores da Lei. Em ambos os casos, vemos nas atitudes dos personagens a exterioridade, mas não o íntimo. No entanto, “o olhar de Deus não é como o do homem, pois o homem olha para a aparência, enquanto Deus olha para o coração” (I Sm 16, 7). Esse divino olhar sempre nos acompanha, nada lhe escapa. Nossa vida, nossos atos, nosso comportamento, são julgados com uma precisão absoluta pelo olhar de Deus, o qual penetra no interior de todos e analisa o fundo das almas, sabendo perfeitamente o que se passa em cada uma.
Comparando a disposição de espírito dos mestres da Lei com a da viúva, Jesus queria deixar patente a existência de dois extremos: o da generosidade, em contraste com o do egoísmo e do amor desordenado a si mesmo.
O apego, que num rico se distribui entre suas milhares de moedas, no caso do pobre se concentra em umas poucas. Renunciar a elas exige um sacrifício não pequeno, ainda mais se forem só duas. Mas aquela senhora as ofertou generosamente, depositando sua inteira confiança em Deus. É a mesma atitude assumida por outra viúva, esta da cidade de Sarepta na Sidônia, contemplada na primeira leitura deste domingo (I Rs 17, 10-16). Quando recebeu o Profeta Elias em sua casa, tinha ela apenas um punhado de farinha e um pouco de azeite para fazer um último pão para si e seu filho. No entanto, solicitada pelo homem de Deus, concordou em dar-lhe esse único alimento. Por ter agido assim, o azeite e a farinha se multiplicaram indefinidamente em sua despensa, até voltar a cair a chuva sobre a terra. Assim é a recompensa de Deus para todo aquele que dá com agrado e generosidade.
Continua no próximo post.
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