Tríduo Pascal

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Comentários ao Evangelho II DOMINGO DO ADVENTO -Ano C - Lc 3, 1-6

Continuação dos comentários ao Evangelho 2º Domingo do Advento

Pregação de alto sentido simbólico
4 …como está escrito no Livro das palavras do profeta Isaías: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas”.
Essas palavras de Isaías, que prenunciaram o fim do exílio do povo judeu na Babilônia e o retorno à Palestina, haviam atravessado os séculos como sinal de consolo e perdão. Nos lábios do Precursor, todavia, a mesma mensagem revestiu-se de caráter penitencial, penetrando a fundo nas consciências e movendo-as à conversão.
Importante é lembrarmo-nos de que a pregação de João Batista não foi dirigida somente aos que tiveram a ventura de viver no tempo de Jesus. Conforme ensina São Bernardo, a vinda de Nosso Senhor ao mundo pode ser dividida em três etapas, das quais a primeira corresponde à sua vida mortal e a última ao Juízo após o fim do mundo, quando Ele vier em Corpo glorioso. A segunda vinda, por sua vez, é cotidiana, quando Ele vem a cada um de nós, pela sua graça.16 Jesus nos chama a cada momento, nas mais diversas circunstâncias da vida, sendo necessário estarmos sempre prontos para recebê-Lo.
Como outrora aqueles judeus que acorriam às margens do Jordão, também nós devemos produzir “frutos de verdadeira penitência” (Mt 3, 8), colocando em prática as admoestações do Precursor. Em primeiro lugar, ele exorta a endireitar as veredas do caminho pelo qual o Senhor passará em breve. Não se trata, evidentemente, de promover uma obra de retificação das estradas palestinas. Toda a sua pregação tem alto sentido simbólico e deve ser interpretada sob o prisma sobrenatural. Esta advertência é um apelo para eliminar os desvios que se estabelecem na alma quando se quer conjugar a adoração a Deus com o egoísmo. Quem não se empenha em combater os defeitos pessoais nem em progredir na perfeição acaba entrando pelas tortuosas sendas dos vícios à margem do bem, sem, todavia, querer abandoná-lo por inteiro. Cedo ou tarde, o dinamismo do mal termina sufocando uma frágil adesão à virtude e cai-se por inteiro na via do pecado.
Oportuno é, no Advento, determo-nos um pouco em nossa caminhada espiritual e, abstraindo da febricitação do mundo, examinar nossa consciência a fim de verificar se não estamos, em algum ponto, construindo trajetos sinuosos em nossa vida. Façamos então o firme propósito de endireitá-los, buscando a inteira coerência entre nossa conduta e a Fé, o que se cifra no perfeito cumprimento dos Mandamentos da Lei de Deus.
Eliminar a mediocridade e o orgulho
5a “‘Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas...’”
Chamado a viver em função de sua dignidade de filho de Deus e a ter os olhos sempre postos nos elevados panoramas da Fé, muitas vezes o homem dá as costas a esse plano superior e concentra toda a atenção nas coisas concretas, preocupando-se excessivamente com os bens materiais e com banalidades próprias à existência terrena. Tal mesquinhez leva-o a se esquecer da efemeridade desta vida e, menosprezando a eternidade, a viver como se o Criador não existisse. Formam-se na alma, então, os vales da ausência de Deus. A par disso, há também montanhas e colinas na vida espiritual. São as elevações do amor-próprio desregrado, o qual se manifesta das mais diversas maneiras. Por exemplo, no desejo de chamar a atenção alheia sobre as qualidades pessoais, reais ou supostas, procurando sobressair em relação aos demais. Além de aterrar os vales da mediocridade materialista, é preciso nivelar essas proeminências do orgulho.
É interessante aqui observarmos um pormenor do texto evangélico, pois, neste versículo, o Precursor não dá uma ordem, como no anterior, mas faz uma afirmação: os vales serão aterrados; as montanhas e colinas serão rebaixadas Com a vinda de Nosso Senhor ao mundo foram deixados à disposição da humanidade os Sacramentos, meios eficazes para essa reforma interior. Conferindo a graça à alma, eles corrigem os desníveis que se interpõem no caminho da perfeição e dificultam o progresso espiritual. Como comenta São Cirilo, “quando Deus feito homem destruiu o pecado em sua carne, tudo foi aplainado e se tornou fácil o caminho, não havendo montes nem vales que fossem obstáculo para quem quisesse caminhar”.17 Resta ao homem unir a esse auxílio divino o próprio esforço, sempre consciente de que cada avanço, mesmo quando pequeno, se deve à graça obtida por Cristo e não a seu mero empenho.
As racionalizações, passagens tortuosas da consciência
56 “‘… as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados”.
As racionalizações — ou seja, os falsos raciocínios elaborados pelo homem para justificar suas próprias faltas — são desvios muito sutis na vida espiritual, pois encobrem a inconsistência do erro com a aparência sólida da verdade. As passagens tortuosas são uma imagem adequada desses desonestos subterfúgios do pecador, que foge ao se deparar com o aguilhão da consciência que o importuna, advertindo-o a respeito do mal que pretende fazer ou repreendendo-o pelas faltas já praticadas. Só com tais evasivas o homem consegue permanecer nos acidentados caminhos do pecado. Para eliminar essas ardilosas irregularidades do terreno é preciso a virtude da retidão, a qual faz a pessoa ver por inteiro sua própria fraqueza e maldade, reconhecendo-se pecadora e necessitada do amparo sobrenatural para não soçobrar nas tentações. Porém, o fator decisivo é, mais uma vez, a ação divina, ressaltando aos olhos do homem o horror do pecado e a noção de que Deus conhece todas as coisas, inclusive os mais íntimos pensamentos e as intenções do coração.

Continua no próximo post

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