Tríduo Pascal

sábado, 15 de dezembro de 2012

Evangelho 4º Domingo do Advento - Ano C - Lc 1, 39-45

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Comentários ao Evangelho IV DOMINGO DO ADVENTO Ano C Lc 1, 39-45

39Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 

Com um grande grito exclamou: “ Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu."( Lc 1, 39-45)


A arrebatadora excelência da voz de Maria
Ao ouvir a voz da Mãe de Deus, São João Batista foi imediatamente purificado do pecado original. Tal prodígio prenunciava as grandes transformações reservadas aos que, ao longo da História, seriam objeto da maternal intercessão de Maria.
O OLHAR HUMANO E O OLHAR DA FÉ
Ensina o Apóstolo que “o justo viverá pela fé” (Gal 3, 11). Esta afirmação ressalta a natural insuficiência de nossa razão para atingir, por si mesma, determinadas verdades da Religião Católica. Quando a inteligência se dissocia de Deus, perde a capacidade de apreender o que a realidade possui de mais essencial: a presença d’Ele na alma e em todo e universo criado. Basta recordarmos o testemunho de Santo Agostinho que, após percorrer em vão o mundo do pensamento à procura do sentido de sua existência, exclamou: “Tu estavas dentro de mim, mais interior que o meu próprio íntimo e mais elevado que o ápice do meu ser”.1 Ora, esse conhecimento foi-lhe dado pela fé, pois a vista humana não alcança a Deus diretamente.2
De igual forma, quando analisamos as Sagradas Escrituras não é possível acompanhá-las com a pura inteligência. Esta fica aquém da amplitude sobrenatural dos episódios da História Sagrada, de modo especial dos Evangelhos, e a partir de certo limite deve se abrir para as inspirações do Espírito Santo a fim de penetrar em seu sentido divino. Cabe-nos meditar tais fatos enquanto acontecimentos movidos pela ação direta e eficaz do Criador.
Contemplemos, por esse prisma, a singela narrativa do mistério da Visitação recolhida pelo Evangelho deste 4º Domingo do Advento. Trata-se de uma dama que empreende viagem para visitar sua prima que em breve seria mãe, a fim de oferecer-lhe seus serviços. Ambas se encontram e manifestam mútuo afeto. Simples cena, descrita sob os véus de um mero acontecimento familiar, mas que abarca uma profundidade insondável, digna de análise e, sobretudo, de meditação.
A SANTIDADE, UM BEM EXPANSIVO
Após o relato da aparição do Anjo a Zacarias, feito por São Lucas em um diálogo de poucos versículos (cf. Lc 1, 11-20), o Evangelista detalha que “o povo estava esperando [...] e admirava-se de ele se demorar tanto tempo no santuário” (Lc 1, 21). Tal pormenor revela que a conversa deve ter sido mais extensa do que as breves frases registradas pelo texto sagrado. Se assim aconteceu nessa aparição, que pensar da sucinta narração do encontro de São Gabriel com a Virgem Santíssima (cf. Lc 1, 26-38)? Podemos supor que o colóquio não tenha sido tão curto e, por humildade, Maria tenha desejado que ficasse consignado tão só o necessário para a boa compreensão da embaixada vinda do Céu. Consideremos o quanto a oportunidade de discorrer com Ela terá sido um privilégio para o celestial mensageiro, e como terá ele desejado valer-se da circunstância, tirando o máximo proveito. Da parte d’Ela, quantos pensamentos elevados não terá exposto a São Gabriel. Quiçá, até deve ter-lhe pedido conselhos. A grande perfeição da natureza espiritual do Anjo, acrescida da proximidade com Deus, certamente inspirava em Nossa Senhora uma santa afinidade com o mundo angélico.
Entre os temas desse colóquio, podemos supor que Ela tenha incluído o da conveniência de visitar sua prima Santa Isabel, que esperava um filho havia seis meses, como Lhe comunicara o Anjo. Maria se apressou em manifestar sua disponibilidade de ir até ela — que, como veremos, era toda fundada em razões sobrenaturais —, embora fosse provável que antes disso tenha passado certo período em recolhimento, devido ao extraordinário influxo de graças então recebido. Ela não Se julgou desobrigada do dever de dedicar-Se ao próximo, inclinando-Se, com prontidão, a cumprir o caridoso desígnio. É o que narra o Evangelista.
A ação eficaz nasce da contemplação
39 Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia.
Após dar seu livre consentimento e tornar efetiva a Encarnação por um ato de máxima fidelidade à vontade de Deus (cf. Lc 1, 38), Nossa Senhora não abandonou a vida em sociedade, como o demonstra a visita que fez à sua prima. Quem, ao saber que está gestando o próprio Filho de Deus, tornando-se Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, pensaria numa prima? Uma alma egoísta, após ter recebido a embaixada do Anjo, quereria abraçar uma mal-entendida vida de contemplação, a fim de beneficiar-se das vantagens dessa prerrogativa e gozar das consolações do convívio com o Menino Jesus. Maria fez o oposto: pôs-se a caminho logo, “naqueles dias”, pois os inocentes se interessam mais pelos outros do que por si próprios.
Jerusalém situava-se no alto de uma montanha de aproximadamente 800 metros de altitude e a cidade onde vivia Zacarias Am Karim, segundo uma antiga tradição — ficava num vale, a sete quilômetros ao sudoeste da Cidade Santa. Já Nazaré localizava-se a uma boa distância — cerca de 130 km —, a qual, para ser percorrida, levava de três a cinco dias de viagem, por um caminho penoso e solitário através dos vales da Samaria e das regiões montanhosas da Judeia.3 Nossa Senhora transpôs com ânimo resoluto tais obstáculos para chegar ao vilarejo. Contudo, estaríamos longe de compreender sua impostação de espírito neste trajeto, se não relacionássemos a presteza com que realizou o percurso à sua intensa vida interior.
Sendo uma alma meditativa, imbuída de forte esprito de oração, Ela nos mostra que a boa contemplação redunda na ação bem feita, dá glória a Deus e edifica o próximo. Devemos nos compenetrar de que os espritos fervorosos são aqueles que exercem sua missão com maior êxito, porque agem ao sopro do Espírito Santo. Nesse caso, Maria “é impulsionada por um movimento divino, pelo Verbo que traz em seu seio. Este divino fardo, longe de atrasá-La, A eleva, A faz voar, A transporta para o alto das montanhas”.4
A pressa, manifestação de fervor
Cumpre ressaltar outro aspecto relacionado com uma palavra do Evangelista: “apressadamente”. Por que teve Ela o desejo de partir o quanto antes a fim de estar com a prima? Após a Anunciação, a Virgem Santíssima foi favorecida com nova plenitude do Espírito Santo e estava exultante de alegria. Como o bem é difusivo,5 Nossa Senhora, que não tinha nenhum resquício de pecado e n’Ela tudo era santidade e virtude, logo desejou partilhar os tesouros recebidos. Com São José não tinha a possibilidade de Se expandir, pois os fatos posteriores nos indicam que a Providência agiu com ele de maneira diversa, exigindo-lhe grande confiança em meio a acontecimentos que apenas aos poucos lhe foram sendo esclarecidos. Por isso Ela preferiu deixar nas mãos de Deus qualquer comunicação a ser feita ao esposo. No entanto, como o Anjo havia dito que Santa Isabel já estava no sexto mês de uma concepção miraculosa, Maria julgou ser a ocasião ideal para se encontrar com ela, intuindo, também, não haver junto à prima quem a ajudas se adequadamente.
Ela partiu logo, pois a vida sobrenatural não comporta delongas, preguiça nem desvios. E preciso observar que o fato de estar apressada não significa estar perturbada por qualquer agitação, já que Ela ia, sem dúvida, com todo equilíbrio e calma interior. A pressa vinha do anseio de comunicar as maravilhas que levava em Si, e ainda que tivesse toda a disponibilidade para auxiliar também nas necessidades práticas, essa não era a razão mais importante. A consideração pela prima dava-Lhe a certeza de não haver ninguém melhor para ser sua interlocutora, uma vez que Isabel “estava de certo modo envolvida nos mistérios da Redenção”.6 E por amor ao Divino Filho que engendrava, lançou-Se logo pelos caminhos, como comenta Santo Ambrósio: “Pressurosa por causa do gáudio, dirigiu-se à montanha. Estando cheia de Deus, poderia não elevar-se até às alturas? Os cálculos lentos são alheios à graça do Espírito Santo”.7
Além disso, houve um motivo mais significativo que determinou a viagem, relacionado com a pessoa e a missão de São João Batista. Por revelação do Anjo, sem dúvida a Virgem Santíssima sabia que o filho que Santa Isabel estava para dar à luz era o Precursor e, por esta razão, tinha certeza de que ele estava associado de maneira particular ao plano da salvação. Ora, Ela queria colaborar para que a glória de seu Divino Filho fosse a maior possível, num desejo correspondente ao elevado grau de perfeição e santidade de sua alma. Por tal motivo, correu com o intuito de santificar o quanto antes o Precursor, pois a ideia de que este varão pudesse nascer tisnado pelo pecado contundia seus anseios.
Nossa Senhora foi apressadamente, então, para transmitir com exclusividade a Boa-nova a Santa Isabel e a São João Batista, tornando-Se a primeira Arauto do Evangelho da História. Nesse sentido ressalta Monsabré: “Ela não teme nem as dificuldades nem as fadigas da viagem, pois porta a graça de Deus, e a graça é um dom tão grande que devemos estar dispostos a todos os sacrifícios para levá-lo àqueles a quem está destinado”.8
Continua no próximo post


1) SANTO AGOSTINHO. Confessionum. L.III, c.7, nil. In: Obras. 6.ed. Madrid: BAC, 1974, v.11, p.142.
2) Cf. SAO TOMAS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.12, al; 3.
3) Cf. GOMA Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Introducción, Infancia y vida oculta de Jesús. Preparación de su ministerio público. Barcelona: Rafael Casulleras,n1930, v.1, p.318; TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, vV, p.759; FERNANDEZ TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1954, p.22-24.
4) NICOLAS, Auguste. La Vierge Marie d’après l’Évangile. Paris: Auguste Vaton, 1857, vII, p.222.
5) Cf. SAO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.5, a.4, ad 2.
6) WILLAM, Francisco Miguel. Vida de Maria, Mãe de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1940, p.85.
7) SANTO AMBROSIO. Tratado sobre el Evangelio de San Lucas. L.II, n.19. In: Obras. Madrid: BAC, 1966, v.1, p.96.
8) MONSABRE, OP. Jacques-Marie-Louis. Petites méditations pour la récitation du Sainte Rosaire. 20.ed. Paris: Lethielleux, 1924, p.90.

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