CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO IV DOMINGO DA QUARESMA ANO C 2013 - Lc 15,1-3;11-32
A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO
Soberba, inveja e ira na reação do primogênito
O versículo 25 nos oferece outros elementos da pompa daquela
grande solenidade: a música coral e instrumental ouvida pelo primogênito ao
retornar do campo. Tão inusitado era haver em sua casa tais manifestações de
contentamento, que receou entrar
nas dependências principais, certamente devido às suas
vestes campestres, e talvez por julgar elevado o nível daquele evento, preferiu
antes perguntar a um dos empregados qual a razão de tamanha e exuberante
euforia. Nenhum outro motivo lhe teria arrancado tanta e tão indignada cólera.
Esquematizemos os versículos 28 a 32 da Parábola:
O primogênito era boa pessoa, segundo a narração, pois vivia
constantemente junto ao seu progenitor e tudo o que possuía deixara em mãos
deste. Nunca havia praticado a menor desobediência, num serviço prestado por
longos anos. Era, portanto, muito disciplinado e fiel.
Porém, sua reação face à conversão do pródigo não teve
origem em nenhuma das qualidades enunciadas. Pelo contrário, foi movida pela
soberba, a inveja e a ira, como inúmeras vezes encontramos em nossas relações
sociais.
Soberba: Ao enunciar
os motivos pelos quais se negava a participar das comemorações, começa por
auto-elogiar-se, constituindo sua virtude na lei em função da qual deve ser
julgada a conduta de seu pai. É bem exatamente esse o critério do orgulhoso:
ele se senta no trono de Deus e passa a realizar o papel de Lei e de Juiz.
Em sua explosão de vaidade, não se dá conta do grande contentamento
do pai pela recuperação do filho pródigo. O pai sabia perfeitamente por quais
antros havia passado o menor, mas aquele era o momento de tudo esquecer. O
orgulho tolhe a visão equilibrada e harmônica dos acontecimentos e, por isso,
leva o primogênito a ferir o coração do pai com a recordação dos desvios morais
de seu irmão.
Inveja: Transparece esse vício na comparação: a ele um vitelo
gordo, a mim nem sequer um cabrito. Esse é outro costume comum existente no
mundo, desde o assassinato de Abel, praticado por Caim.
Ira: “Ele indignou-se ...” Suas virtudes receberam o honroso
convite para atingir o grau heróico com a notícia da reentrada de seu irmão,
mas a exteriorização de sua cólera manchou essas humanas qualidades que
poderiam ter sido sobrenaturalizadas.
Em síntese, o pai, ao avistar ao longe o filho, de alegria
corre para encontrá-lo. O irmão, amargurado e triste, nega-se a tomar parte no
banquete. O pai, tomado de emoção, abraça-o e o cobre de beijos. O primogênito
se toma de indignação e recalcitra em permanecer fora.
O filho mais velho peca por falta de caridade, ao julgar
injusta a festa pela volta de seu irmão. E, além do mais, peca contra o
respeito devido ao pai, tornando claro, com seu procedimento, o quanto censura
seu progenitor por tudo o que fez ao seu irmão menor. E, por fim, peca também
por desobediência à determinação do pai no sentido de que todos participem do
banquete.
Evidentemente, são mais graves as faltas do menor. Mas há
algo de repugnante nos vícios praticados pelo maior. Em um transparece a
debilidade da vontade; no outro, a maldade de coração.
Continua no próximo post.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Escreva seus comentarios e sugerencias