Tríduo Pascal

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Evangelho 9º Domingo do Tempo Comum — Lc 7, 1-10 — Ano C 2013

Continuação dos comentários ao Evangelho  9º Domingo do Tempo Comum  Lc 7, 1-10 — Ano C 2013
Uma oração simples, mas cheia de fé
7b “Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: Vem!’, ele vem; e ao meu empregado ‘Faze isto!’, e ele o faz”.
Por sua formação militar, o centurião apreciava muito a hierarquia. Por isso, “primeiro recorda que está subordinado e depois que tem outros abaixo de si”,’° pondera Santo Agostinho. Novamente o oficial mostra ter uma clara noção de seu pouco valor pessoal, como também do valor dos outros, consciente de que diante de autoridades superiores qualquer poder de mando se converte em obrigação de obedecer.
São Lucas registra com precisão o modo peculiar de fazer a súplica, usando o termo “ordena”. Acostumado à disciplina, o centurião conhecia o poder de uma ordem, sobretudo no exército romano, cujo rigor prescrevia a pena capital aos insubordinados. Tal intransigência disciplinar havia criado um reflexo em sua alma, levando-o a reagir no campo sobrenatural, ao lhe ser infundida a fé, de acordo com o treinamento militar. Pois, do mesmo modo que uma única ordem era suficiente para mobilizar seus soldados sem a necessidade da presença física do comandante, ele cria bastar uma só palavra do Mestre para tudo se resolver. Comentando essa característica singular do pedido, afirma Fillion: “Sob esta linguagem direta, totalmente militar, havia uma fé e uma humildade admiráveis. O centurião supunha com acerto que Nosso Senhor era o dono de todas as forças da natureza, e podia lhes dar ordens quando quisesse”.’1
A certeza da eficácia da palavra de Jesus é prova de uma vigorosa fé na divindade d’Ele, segundo a interpretação dada por Santo Agostinho ao pedido: “Se eu, que estou subordinado, mando nos que estão debaixo de mim, tu, que não estás subordinado a ninguém, não poderás mandar em tua criatura, uma vez que todas as coisas foram feitas por ti e sem ti nada foi feito?”.’2 Também a simplicidade do oficial ao apresentar o problema a Nosso Senhor é reveladora de uma fé “desinteressada, genuína, absoluta e humilde”.’3 Acreditava depender tudo da vontade do Salvador, bastando transmitir-Lhe seu pedido para obter a realização. Esse insigne ato de fé não ficaria sem prêmio.
A fé de um pagão causa admiração ao Homem-Deus
9 Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia. e disse: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”.
A fé, virtude infundida por Deus na alma, é um dom gratuito que não depende do esforço humano para ser adquirida. Ora, neste versículo Jesus se encanta ao constatar, enquanto homem, a fé que Ele próprio, enquanto Deus, dera àquele pagão. Como explica o Cardeal Gomá y Tomás, “a fé do centurião não foi uma novidade para Ele, que penetra os corações, mas o conhecimento experimental que Lhe trouxe, ‘assim como o astrônomo fica admirado ao ver o eclipse, que já conhecia em teoria’; [tal fato se nota] pela expressão e gesto com que recebeu a confissão do gentio, porque era algo digno de admiração”.’14 Portanto, Ele fica admirado para dar-nos “a entender que nós é que nos devemos admirar”,15 esclarece São Beda.

E, virando-se para a multidão, o Mestre faz uma declaração que certamente deixou a muitos desconcertados: um pagão superara os judeus... por causa de sua fé! De fato, numerosos israelitas haviam presenciado os milagres operados pelo Salvador e ouvido diretamente dos lábios d’Ele um ensinamento novo dotado de potência (cf. Mc 1, 27). Contudo, não houve entre esses quem tivesse fé tão excelente quanto aquele gentio. “O centurião havia entendido por divina inspiração o que Jesus se esforçava, em vão, por fazer entender a seus contemporâneos: que n’Ele estava o próprio Pai, que se manifestava e atuava”,’6 comenta o padre Cantalamessa. Por isso, a afirmação de Cristo nessa passagem anuncia que, por desígnio da Providência, a verdadeira religião havia ultrapassado os limites aos quais estivera restrita, no Antigo Testamento, e que, no novo regime da graça, inaugurado com a Encarnação, ela se estenderia a todos os povos da Terra.

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