Continuação dos Comentários ao Evangelho – Solenidade da Ascensão do Senhor – Lc 24, 46-53 – Ano C - 2013
O testemunho dos Apóstolos robustece nossa
fé
48 Vós sois as testemunhas destas
coisas.
Sim.
Nossa fé se robustece pela comprovação ocular dos Apóstolos, dos setenta e dois
discípulos e de muitos outros aos quais se fez ver o Salvador depois da
Ressurreição. Que vantagens humanas, temporais ou eternas, teriam eles em selar
com o próprio sangue fatos que constituem escárnio para seus co-nacionais e
loucura para os gentios? Eis um argumento irrefutável a favor da objetividade
dos relatos feitos por eles.
Papel da espera, até a vinda do Espírito
Santo
49 Eu vou mandar sobre vós o
Prometido por meu Pai. Entretanto, permanecei na cidade
até que sejais revestidos da força do Alto.
Trata-se
da Terceira Pessoa da Trindade, que Jesus enviaria, segundo a promessa feita
pelo Pai, ou seja, “a força do Alto”. É o Espírito Santo, que procede do amor
entre o Pai e o Filho, que descerá sobre eles, a fim de serem n’Ele submersos,
penetrados e revestidos por Ele, para, assim transformados, realizarem sua
missão de testemunhas. Os Apóstolos “serão preparados com a grande força
renovadora e fortalecedora de Pentecostes. Receberão o Espírito Santo, de cujo
envio tanto falou o Evangelista João nos discursos da Última Ceia” (12).
A
ordem de não saírem de Jerusalém sob qualquer pretexto tinha por objetivo a
espera de Pentecostes para começarem a pregar. Entenderam eles que, esse
período, deveriam passá-lo em recolhimento, pois é nessas circunstâncias que
mais profundamente Ele age.
São
João Crisóstomo comenta a esse propósito: “Para não se poder dizer que tinha
abandonado os seus para ir manifestar-Se — mais ainda, ostentarSe — aos
estranhos, ordenou-lhes Jesus apresentar as provas de sua Ressurreição
primeiramente àqueles mesmos que O tinham matado, na cidade onde foi cometido o
temerário atentado, pois, se os que haviam crucificado o Senhor davam mostras
de crer, ter-se-ia uma grande prova da Ressurreição” (13).
Por
outro lado, continua São João Crisóstomo: “Assim como, num exército que se
alinha para atacar o inimigo, o general não permite a ninguém sair antes de
estarem todos preparados, da mesma forma Jesus não permite a seus Apóstolos
saírem a pelejar enquanto não estejam preparados pela vinda do Espírito Santo”
(14).
E
por qual razão o Espírito Santo não desceu sobre os Apóstolos, de imediato?
“Convinha que nossa natureza se apresentasse no Céu e fossem realizadas as
alianças, e depois então viesse o Espírito Santo e se celebrassem os eternos
júbilos”, opina Teofilacto (15).
A última bênção de Jesus se estende até
nós
50 Depois levou-os até junto de
Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os.
“O
ato de levantar as mãos e os abençoar significa que quem abençoa deve estar
ornado de boas e heróicas obras em benefício dos demais; por isso levantou as
mãos ao céu”, comenta Orígenes (16).
Jesus
procede como os sacerdotes da Antiga Lei, nesse gesto de abençoá-los. O
sacerdócio de Cristo tem seu início no próprio momento da Encarnação (cfr. Hb
10, 5-10), mas, se bem tenha tido princípio, jamais terminará, pois é Ele
sacerdote in aeternum. A dignidade, ação, virtude e frutos sacerdotais do
sacrifício de Cristo estarão diante do Pai eternamente. Por isso, neste
momento, sua bênção se estende também sobre nós. Saibamos aproveitá-la, ao contemplar
esse último adeus externado por Jesus no alto do Monte das Oliveiras.
Jesus nos preparou o caminho para subirmos
ao Céu
51 E enquanto os abençoava, separou-Se deles e era levado para o Céu.
Grandiosa
cena e acontecimento inédito. Elias também subia, mas arrebatado num carro de
fogo e não pelas próprias forças. Cristo, pelo contrário, “subiu ao Céu pelo
seu próprio poder; primeiro pelo poder divino; segundo, pelo poder da alma
glorificada que movia o corpo como queria” (17). Os Apóstolos e discípulos já O
haviam visto andar sobre as águas, entrar no Cenáculo a portas fechadas,
escapar em meio à multidão, mas elevar-Se ao Céu ainda não. Eles não ignoravam
para onde partia Nosso Senhor, já haviam ouvido dos lábios do próprio Mestre
qual seria seu destino. E com os Apóstolos devemos crer que, por sua Ascensão,
Jesus “preparou-nos o caminho para subirmos ao Céu, de acordo com o que Ele
mesmo disse: ‘Irei preparar-vos um lugar’, e com as palavras do livro de
Miquéias: ‘Subiu, diante deles, Aquele que abre o caminho’. E porque Ele é a
nossa cabeça, mister se faz que os membros vão para onde ela se dirigiu. Por
isso diz o Evangelho de São João: ‘De tal sorte que lá onde Eu estiver também
vós estejais’” (18).
Continua no próximo post.
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