Lc 14,
1.7-14 – Comentário ao Evangelho 22º Domingo do Tempo Comum – Ano C –
2013
“Aconteceu que, num dia
de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles O
observavam. 7 Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares.
Então contou-lhes uma parábola: 8 ‘Quando tu fores convidado para uma festa de
casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado
alguém mais importante do que tu, 9 e o dono da casa, que convidou os dois,
venha te dizer: ‘Dá o lugar a ele’. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar
o último lugar. 10
Mas quando tu fores
convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te
convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’. E isto vai ser uma honra para
ti diante de todos os convidados. 11 Porque quem se eleva, será humilhado e
quem se humilha, será elevado’. 12
E disse também a quem O
tinha convidado: ‘Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus
amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes
poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. 13 Pelo
contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos,
os cegos. 14 Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu
receberás a recompensa na ressurreição dos justos’” (Lc 14, 1.7-14).
Antídoto para
a vanglória?
Repetidas vezes nos alerta o Divino Mestre contra o orgulho,
de cujos efeitos todos padecemos, infelizmente. Como combatê-lo com eficácia?
No que consiste a verdadeira humildade? Muitos, por equívoco, a confundem com
mediocridade.
Choque entre
dois modos de ser
Nesta terra de exílio, um dos melhores modos de nos
comunicarmos com Deus e termos, assim, algum antegozo da visão beatífica é
contemplar os símbolos do Criador postos no universo, pois “as perfeições
invisíveis de Deus, o Seu sempiterno poder e divindade, tornam-se visíveis à
inteligência, por suas obras” (Rm 1, 20). Ou seja, desde que queiramos, é-nos
dado discernir o Invisível no visível, o Infinito no finito, o Criador nas
criaturas.
“Eis o
Cordeiro de Deus”
Por isso, a Divina Providência dispôs na natureza uma
abundância de símbolos de grande expressão, alguns dos quais foram aplicados ao
próprio Filho de Deus, a fim de melhor O conhecermos e mais O amarmos. Ele
mesmo Se apresenta como a videira cujos ramos produzem muito fruto (cf. Jo 15,
1-5), ou como o Bom Pastor, que dá a vida por Suas ovelhas (cf. Jo 10, 11-16).
Também é o Messias chamado de Leão da tribo de Judá (Ap 5, 5), e como tal Se
manifesta ao repreender com severidade os fariseus (cf. Mt 23, 13-33), e ao
“expulsar os que no templo vendiam e compravam” (Mc 11, 15).
Entretanto, ao longo de Sua vida e, sobretudo, na hora
suprema de Sua Paixão e Morte, foi Jesus predominantemente o Divino Cordeiro.
Não sem razão, durante a Celebração Eucarística, memorial do Sacrifício do
Calvário, o sacerdote apresenta aos fiéis a Hóstia consagrada, antes da
Comunhão, dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Dentre
os inúmeros símbolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, escolheu a Santa Igreja esse
como sendo o mais significativo para tão sagrado momento.
Humildade e
mansidão
A liturgia, ora comentada, põe em realce esse aspecto da Alma
de Nosso Senhor, e a aclamação do Evangelho nos convida a imitá-Lo: “Aprendei
de Mim que sou manso e humilde de coração” (cf. Mt 11, 29).
Na verdade, Ele é muito mais do que isso, pois essas
virtudes, que o homem luta por praticar, a Segunda Pessoa da Santíssima
Trindade as possui em essência: Jesus é a humildade e a mansidão.
Quem é verdadeiramente humilde, é também manso, tem
flexibilidade de espírito, está disposto a servir ou a obedecer a seu irmão,
preocupa-se mais com os outros do que consigo mesmo, aceita qualquer humilhação
ou ofensa com alegria, e quando nota um defeito na atitude de outro, reza por
ele e procura não deixar transparecer o que percebeu. Pratica, assim, uma
elevada e nobre forma de caridade para com o próximo.
Em sentido contrário, o orgulhoso gosta de assumir posição de
superioridade, tende a desprezar os demais e deixa-se levar pela inveja, quando
percebe uma qualidade nos outros. Com seu temperamento difícil e implicante,
acaba tornando-se uma pessoa de convívio problemático, evitada por todos.
Tal era o caso dos fariseus do Evangelho que comentamos.
Presunçosos cumpridores de incontáveis preceitos formais, utilizavam-se da
Antiga Lei para se sobressair e ocupar os primeiros lugares na sociedade. Entre
eles e o resto do povo havia um verdadeiro abismo, todo feito de discriminação
e desdém.
“Quem Se
humilha, Será elevado”
Num sábado anterior ao episódio referido neste trecho do
Evangelho, ou talvez nesse mesmo dia, Nosso Senhor restituíra a saúde a uma
mulher que “andava curvada e não podia absolutamente erguer-se” (Lc 13, 11)
havia dezoito anos. Essa cura produzira entre os fariseus verdadeira celeuma,
pois, na concepção deles, teria Jesus desprezado a Lei, violando o repouso
sabático.
Mas o Divino Mestre deu-lhes uma resposta que os encheu de
confusão: “Hipócritas! Não desamarra cada um de vós no sábado o seu boi ou seu
jumento da manjedoura, para levá-los a beber?” (Lc 13, 15). O povo, ao
contrário, se entusiasmava à vista dos milagres por Ele realizados (cf. Lc 13,
17).
Crescia, em consequência, em toda a Palestina, o prestígio de
Jesus de Nazaré, e muitos O consideravam um grande profeta, surgido afinal
depois de quatrocentos anos de silêncio do Céu.
Convite
mal-intencionado
1“Aconteceu que, num dia
de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles O
observavam”.
Este Evangelho nos apresenta Nosso Senhor indo almoçar na
casa de um dos chefes dos fariseus, certamente a pedido deste. Honroso na
aparência, o convite fora feito, porém, com o objetivo de poder analisá-Lo mais
de perto para preparar-Lhe uma cilada. “Eles O espreitavam insidiosamente, na
esperança de encontrar algo de repreensível em Sua palavra ou em Seu
procedimento: convidam-No como quem quer prestar honras, e O espionam como a um
inimigo” 1, nota o Cardeal Gomá.
Bem diversa era a atitude do Cordeiro de Deus: aceitou o
convite, movido pelo desejo de fazer-lhes bem. Conhecia desde toda a eternidade
a cena que lá ia se desenrolar e ansiava por chegar o momento em que pudesse
indicar a essas almas, cegas pelo orgulho, o verdadeiro caminho para o Reino
dos Céus.2 Como assinala o padre Duquesne, “Jesus teve a terna complacência de
comparecer, com intenção de aproveitar a oportunidade para edificar, instruir,
convencer e, se possível, conquistar para a verdade aqueles com os quais iria
comer”.3
Delírio
farisaico pelos primeiros lugares
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