Tríduo Pascal

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Evangelho XXII Domingo do Tempo Comum – Ano C – 2013

 Lc 14, 1.7-14 – Comentário ao Evangelho 22º Domingo do Tempo Comum – Ano C – 2013 
“Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles O observavam. 7 Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: 8 ‘Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, 9 e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: ‘Dá o lugar a ele’. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. 10
Mas quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. 11 Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado’. 12
E disse também a quem O tinha convidado: ‘Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. 13 Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14 Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos’” (Lc 14, 1.7-14).
Antídoto para a vanglória?
Repetidas vezes nos alerta o Divino Mestre contra o orgulho, de cujos efeitos todos padecemos, infelizmente. Como combatê-lo com eficácia? No que consiste a verdadeira humildade? Muitos, por equívoco, a confundem com mediocridade.
Choque entre dois modos de ser
Nesta terra de exílio, um dos melhores modos de nos comunicarmos com Deus e termos, assim, algum antegozo da visão beatífica é contemplar os símbolos do Criador postos no universo, pois “as perfeições invisíveis de Deus, o Seu sempiterno poder e divindade, tornam-se visíveis à inteligência, por suas obras” (Rm 1, 20). Ou seja, desde que queiramos, é-nos dado discernir o Invisível no visível, o Infinito no finito, o Criador nas criaturas.
“Eis o Cordeiro de Deus”
Por isso, a Divina Providência dispôs na natureza uma abundância de símbolos de grande expressão, alguns dos quais foram aplicados ao próprio Filho de Deus, a fim de melhor O conhecermos e mais O amarmos. Ele mesmo Se apresenta como a videira cujos ramos produzem muito fruto (cf. Jo 15, 1-5), ou como o Bom Pastor, que dá a vida por Suas ovelhas (cf. Jo 10, 11-16). Também é o Messias chamado de Leão da tribo de Judá (Ap 5, 5), e como tal Se manifesta ao repreender com severidade os fariseus (cf. Mt 23, 13-33), e ao “expulsar os que no templo vendiam e compravam” (Mc 11, 15).
Entretanto, ao longo de Sua vida e, sobretudo, na hora suprema de Sua Paixão e Morte, foi Jesus predominantemente o Divino Cordeiro. Não sem razão, durante a Celebração Eucarística, memorial do Sacrifício do Calvário, o sacerdote apresenta aos fiéis a Hóstia consagrada, antes da Comunhão, dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Dentre os inúmeros símbolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, escolheu a Santa Igreja esse como sendo o mais significativo para tão sagrado momento.
Humildade e mansidão
A liturgia, ora comentada, põe em realce esse aspecto da Alma de Nosso Senhor, e a aclamação do Evangelho nos convida a imitá-Lo: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (cf. Mt 11, 29).
Na verdade, Ele é muito mais do que isso, pois essas virtudes, que o homem luta por praticar, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade as possui em essência: Jesus é a humildade e a mansidão.
Quem é verdadeiramente humilde, é também manso, tem flexibilidade de espírito, está disposto a servir ou a obedecer a seu irmão, preocupa-se mais com os outros do que consigo mesmo, aceita qualquer humilhação ou ofensa com alegria, e quando nota um defeito na atitude de outro, reza por ele e procura não deixar transparecer o que percebeu. Pratica, assim, uma elevada e nobre forma de caridade para com o próximo.
Em sentido contrário, o orgulhoso gosta de assumir posição de superioridade, tende a desprezar os demais e deixa-se levar pela inveja, quando percebe uma qualidade nos outros. Com seu temperamento difícil e implicante, acaba tornando-se uma pessoa de convívio problemático, evitada por todos.
Tal era o caso dos fariseus do Evangelho que comentamos. Presunçosos cumpridores de incontáveis preceitos formais, utilizavam-se da Antiga Lei para se sobressair e ocupar os primeiros lugares na sociedade. Entre eles e o resto do povo havia um verdadeiro abismo, todo feito de discriminação e desdém.
“Quem Se humilha, Será elevado”
Num sábado anterior ao episódio referido neste trecho do Evangelho, ou talvez nesse mesmo dia, Nosso Senhor restituíra a saúde a uma mulher que “andava curvada e não podia absolutamente erguer-se” (Lc 13, 11) havia dezoito anos. Essa cura produzira entre os fariseus verdadeira celeuma, pois, na concepção deles, teria Jesus desprezado a Lei, violando o repouso sabático.
Mas o Divino Mestre deu-lhes uma resposta que os encheu de confusão: “Hipócritas! Não desamarra cada um de vós no sábado o seu boi ou seu jumento da manjedoura, para levá-los a beber?” (Lc 13, 15). O povo, ao contrário, se entusiasmava à vista dos milagres por Ele realizados (cf. Lc 13, 17).
Crescia, em consequência, em toda a Palestina, o prestígio de Jesus de Nazaré, e muitos O consideravam um grande profeta, surgido afinal depois de quatrocentos anos de silêncio do Céu.
Convite mal-intencionado

1“Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles O observavam”.
Este Evangelho nos apresenta Nosso Senhor indo almoçar na casa de um dos chefes dos fariseus, certamente a pedido deste. Honroso na aparência, o convite fora feito, porém, com o objetivo de poder analisá-Lo mais de perto para preparar-Lhe uma cilada. “Eles O espreitavam insidiosamente, na esperança de encontrar algo de repreensível em Sua palavra ou em Seu procedimento: convidam-No como quem quer prestar honras, e O espionam como a um inimigo” 1, nota o Cardeal Gomá.
Bem diversa era a atitude do Cordeiro de Deus: aceitou o convite, movido pelo desejo de fazer-lhes bem. Conhecia desde toda a eternidade a cena que lá ia se desenrolar e ansiava por chegar o momento em que pudesse indicar a essas almas, cegas pelo orgulho, o verdadeiro caminho para o Reino dos Céus.2 Como assinala o padre Duquesne, “Jesus teve a terna complacência de comparecer, com intenção de aproveitar a oportunidade para edificar, instruir, convencer e, se possível, conquistar para a verdade aqueles com os quais iria comer”.3
Delírio farisaico pelos primeiros lugares

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