COMENTÁRIOS AO EVANGELHO SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR - ANO - A - 2014
1Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de
Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém.
Perguntaram eles: ‘Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a Sua
estrela no Oriente e viemos adorá-Lo’.
3Ouvindo isto, o rei Herodes ficou
perturbado e toda Jerusalém com ele.
4Convocou os príncipes dos sacerdotes e os
escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo. Disseram-lhe:
‘Em Belém, na Judeia, porque assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra
de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti
sairá o chefe que governará Israel, meu povo’ . Herodes, então, chamou
secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes
tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse: ‘Ide e informai-vos bem a
respeito do Menino. Quando O tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu
também vá adorá-Lo’.
9Tendo eles ouvido as palavras do rei,
partiram. E eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, os foi precedendo
até chegar sobre o lugar onde estava o Menino, e ali parou. A aparição daquela
estrela os encheu de profunda alegria.
11Entrando na casa, acharam o Menino com
Maria, Sua mãe. Prostrando-se diante dEle, O adoraram. Depois, abrindo seus
tesouros, ofereceram-Lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em
sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho”
(Mt 2, 1-12).
O Espírito Santo e nossos maravilhamentos?
Inspirados pela graça, os
Reis Magos se puseram a caminho para encontrar o Criador do universo numa
criança recém-nascida. Importância da sensibilidade ao timbre do Espírito
Santo.
A inocência diante do maravilhoso
No
trato com crianças não é difícil constatar o seu senso do maravilhoso. Quando o
inocente está em formação e despontam os primeiros lampejos do uso da razão,
ele se encanta com tudo quanto vê, acrescentando à realidade algo que ela, de
si, não tem. Ou seja, imagina aspectos magníficos e grandiosos por detrás de
aparências simples. E isso que constitui a alegria da vida infantil.
É indispensável alimentar a com as
belezas da criação
Infelizmente,
nos tempos hodiernos, que acumulam sobre si o fruto de vários séculos de
decadência moral, procura-se arrancar às crianças, o mais cedo possível, o
maravilhoso. E com esta perda vai-se embora também a inocência. Aos poucos os jovens
são introduzidos num ambiente onde o hábito de admirar já não existe. Nas
escolas e universidades, em geral, o que interessa é o concreto, o exato, a
ciência, o número, a prova, o testemunho. As vezes — o que é pior — até nos
cursos de Religião se nota o empenho dos professores em dizer que nas Sagradas
Escrituras muitos episódios não passam de lenda e fantasia, e não aconteceram
como estão narrados. Tudo para dissuadir o aluno da ideia do milagre, da
intervenção de Deus, do sobrenatural e da relação que há entre o homem, a ordem
do universo e Deus.
Tal
sede de maravilhoso, tão viva no mundo dos inocentes, deveria permanecer no
horizonte dos adultos e, inclusive, crescer. E preciso continuar crendo na
maravilha e alimentar a fé com a contemplação das belezas criadas por Deus,
pois até um colibri tentando tirar o seu alimento de uma flor, com elegância e
agilidade, nos remete a Deus, a seu poder e formosura.
Consideremos a Epifania com senso
do maravilhoso
É por
este prisma que analisaremos a Solenidade da Epifania, sobre a qual encontramos,
com frequência, explicações tendentes a demolir o senso do maravilhoso nas
almas. Assim, deixando de lado detalhes históricos — em alguns casos até discutíveis,
se não fazem parte da Revelação —, já comentados em artigos anteriores,1 centremos
nossa atenção no aspecto sobrenatural e simbólico latente neste acontecimento.
Joseph de Maistre dizia: “La raison ne peut que parler c’est l’amour qui chante!2
— A inteligência só sabe falar, o amor é que canta”.
Acompanhemos,
então, a Liturgia deste dia com amor, considerando os fatos de dentro do olhar
de Deus.
O Espírito Santo fala no interior
das almas
Esta
Solenidade é para nós mais importante, em certo sentido, do que o próprio Natal
— embora este seja mais celebrado —, por nos tocar muito de perto. Como? Era
uma época auge... Auge de decadência da humanidade! A situação social, política
e, sobretudo, moral, era a pior possível. O mundo, penetrado de desprezos,
ódios e invejas, havia chegado ao fundo de um abismo, e a civilização antiga
encontrava-se num impasse, pois ninguém vislumbrava uma solução para a crise
que lhe minava os fundamentos. Em poucas e expressivas palavras descreve o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira tal situação: “Como afirmou um historiador
famoso, toda a humanidade, então, se sentia velha e gasta. As fórmulas
políticas e sociais, então utilizadas, já não correspondiam aos anseios e ao
modo de ver dos homens do tempo. Um imenso desejo de reforma sacudia diversos
povos. [...] E todo o mundo sentia que uma crise imensa ameaçava a sociedade de
uma ruína inevitável”.3
E é
esse o tempo em que nasce Nosso Senhor Jesus Cristo, numa localidade judaica,
em Belém, de uma Mãe judia e para os judeus. Ele dirá mais tarde aos Doze, ao
enviá-los em missão: “Ide antes às ovelhas que se perderam da casa de Israel”
(Mt 10, 6). Também quando a cananeia Lhe pede a libertação de sua filha atormentada
pelo demônio, responde: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de
Israel” (Mt 15, 24). Dir-se-ia que a vocação do Messias se restringia ao povo
eleito. Entretanto, alguns dias depois do seu nascimento — treze, segundo a
Glosa4 — recebe os Magos, oriundos de terras longínquas, significando a
universalidade da Redenção e antecipando o chamado à gentilidade, que tornaria
claro na iminência de subir aos Céus, ao dar o mandato aos Apóstolos:
“Ide,
pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo” (Mt 28, 19). Ele veio para todos os outros povos, portanto
também para nós. A esse propósito, mostra São Tomás5 que Deus não faz acepção
de pessoas, pois Se manifestou a todas as classes sociais, nobres e plebeus, à
multiplicidade das raças e nações, a sábios e ignorantes, aos poderosos e aos
de condição humilde, sem excluir ninguém.
Guiados por uma estrela
Um dos
elementos principais, ao contemplarmos o episódio da Epifania, é a visão da
estrela que levou os Magos a se porem a caminho, como está dito na Oração do
Dia: “hoje revelastes o vosso Filho às nações, guiando-as pela estrela” 6 De
que modo se explica que eles tivessem discernido o simbolismo desse misterioso
astro? Conforme muitos autores, os Magos eram potentados ou reis,7 os quais, em
certas regiões orientais, para ascender ao trono se aplicavam ao estudo das
diversas ciências, destacando-se de maneira especial a astronomia:8 “ninguém pode
ser rei dos persas se antes não aprendeu a disciplina e a ciência dos magos”.9
Como na
Pérsia se havia difundido a crença de que estava para nascer um magnífico Rei
Salvador, essa perspectiva fazia com que se prestasse especial atenção nos
sinais celestes que pudessem anunciar a próxima realização de tal oráculo: “Se este
fenômeno extraordinário [da estrela] foi interpretado pelos Magos como o sinal
do nascimento do Rei dos judeus, isso prova, em primeiro lugar, suas
preocupações astrológicas e, em segundo lugar, o conhecimento dessas tradições
religiosas, universalmente difundidas no Oriente, segundo o testemunho de
Tácito e de Suetônio. Tradições que anunciavam, para essa época, a vinda de
homens originários da Judeia para dominar o mundo”.’10 No mesmo sentido opina
outro conceituado autor: “na Pérsia esperava-se, por tradição interna, uma
espécie de salvador e, além disso, sabia-se que análoga expectativa existia na Palestina”.’11
A
estrela avistada pelos Reis Magos, segundo São Tomás,12 não era um astro como
os demais, pois tinha sido criada por Deus para aquela circunstância, não no
céu, mas na atmosfera, perto deles, com o objetivo de manifestar a realeza
celeste do Menino que nascera em Belém. Pelo fato de aos judeus o Senhor
transmitir suas instruções através dos Anjos, foram estes que anunciaram aos
pastores o nascimento do Messias. Aos Magos, contudo, acostumados a contemplar
o firmamento, Deus comunica a mensagem mediante uma estrela.
Presume-se
que a distância percorrida pelos Reis, para os padrões atuais, não tenha sido grande.
Naquele tempo, porém, a viagem era feita, na melhor das hipóteses, de camelo,
com uma comitiva a pé. Era preciso ir a passo, o que tornava o deslocamento
lento, não sendo possível percorrer mais de 30 ou 40 km por dia. As estradas
eram precárias, sem mencionar os imprevistos, como animais ferozes, assaltantes,
condições de hospedagem deficientes... Era uma aventura penosa e arriscada. Não
obstante, eles não se preocupam com nada disso e põem-se a caminho em busca do
Salvador, o Rei dos judeus. Mas quem os impele, realmente?
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