Tríduo Pascal

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

COMENTÁRIOS A SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR - ANO - A 2014

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR - ANO - A -  2014

1Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: ‘Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a Sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo’.
3Ouvindo isto, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.
4Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo. Disseram-lhe: ‘Em Belém, na Judeia, porque assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo’ . Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse: ‘Ide e informai-vos bem a respeito do Menino. Quando O tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-Lo’.
9Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o Menino, e ali parou. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.
11Entrando na casa, acharam o Menino com Maria, Sua mãe. Prostrando-se diante dEle, O adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-Lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho” (Mt 2, 1-12).
O Espírito Santo e nossos maravilhamentos?
Inspirados pela graça, os Reis Magos se puseram a caminho para encontrar o Criador do universo numa criança recém-nascida. Importância da sensibilidade ao timbre do Espírito Santo.
A inocência diante do maravilhoso
No trato com crianças não é difícil constatar o seu senso do maravilhoso. Quando o inocente está em formação e despontam os primeiros lampejos do uso da razão, ele se encanta com tudo quanto vê, acrescentando à realidade algo que ela, de si, não tem. Ou seja, imagina aspectos magníficos e grandiosos por detrás de aparências simples. E isso que constitui a alegria da vida infantil.
É indispensável alimentar a com as belezas da criação
Infelizmente, nos tempos hodiernos, que acumulam sobre si o fruto de vários séculos de decadência moral, procura-se arrancar às crianças, o mais cedo possível, o maravilhoso. E com esta perda vai-se embora também a inocência. Aos poucos os jovens são introduzidos num ambiente onde o hábito de admirar já não existe. Nas escolas e universidades, em geral, o que interessa é o concreto, o exato, a ciência, o número, a prova, o testemunho. As vezes — o que é pior — até nos cursos de Religião se nota o empenho dos professores em dizer que nas Sagradas Escrituras muitos episódios não passam de lenda e fantasia, e não aconteceram como estão narrados. Tudo para dissuadir o aluno da ideia do milagre, da intervenção de Deus, do sobrenatural e da relação que há entre o homem, a ordem do universo e Deus.
Tal sede de maravilhoso, tão viva no mundo dos inocentes, deveria permanecer no horizonte dos adultos e, inclusive, crescer. E preciso continuar crendo na maravilha e alimentar a fé com a contemplação das belezas criadas por Deus, pois até um colibri tentando tirar o seu alimento de uma flor, com elegância e agilidade, nos remete a Deus, a seu poder e formosura.
Consideremos a Epifania com senso do maravilhoso
É por este prisma que analisaremos a Solenidade da Epifania, sobre a qual encontramos, com frequência, explicações tendentes a demolir o senso do maravilhoso nas almas. Assim, deixando de lado detalhes históricos — em alguns casos até discutíveis, se não fazem parte da Revelação —, já comentados em artigos anteriores,1 centremos nossa atenção no aspecto sobrenatural e simbólico latente neste acontecimento. Joseph de Maistre dizia: “La raison ne peut que parler c’est l’amour qui chante!2 — A inteligência só sabe falar, o amor é que canta”.
Acompanhemos, então, a Liturgia deste dia com amor, considerando os fatos de dentro do olhar de Deus.
O Espírito Santo fala no interior das almas
Esta Solenidade é para nós mais importante, em certo sentido, do que o próprio Natal — embora este seja mais celebrado —, por nos tocar muito de perto. Como? Era uma época auge... Auge de decadência da humanidade! A situação social, política e, sobretudo, moral, era a pior possível. O mundo, penetrado de desprezos, ódios e invejas, havia chegado ao fundo de um abismo, e a civilização antiga encontrava-se num impasse, pois ninguém vislumbrava uma solução para a crise que lhe minava os fundamentos. Em poucas e expressivas palavras descreve o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira tal situação: “Como afirmou um historiador famoso, toda a humanidade, então, se sentia velha e gasta. As fórmulas políticas e sociais, então utilizadas, já não correspondiam aos anseios e ao modo de ver dos homens do tempo. Um imenso desejo de reforma sacudia diversos povos. [...] E todo o mundo sentia que uma crise imensa ameaçava a sociedade de uma ruína inevitável”.3
E é esse o tempo em que nasce Nosso Senhor Jesus Cristo, numa localidade judaica, em Belém, de uma Mãe judia e para os judeus. Ele dirá mais tarde aos Doze, ao enviá-los em missão: “Ide antes às ovelhas que se perderam da casa de Israel” (Mt 10, 6). Também quando a cananeia Lhe pede a libertação de sua filha atormentada pelo demônio, responde: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15, 24). Dir-se-ia que a vocação do Messias se restringia ao povo eleito. Entretanto, alguns dias depois do seu nascimento — treze, segundo a Glosa4 — recebe os Magos, oriundos de terras longínquas, significando a universalidade da Redenção e antecipando o chamado à gentilidade, que tornaria claro na iminência de subir aos Céus, ao dar o mandato aos Apóstolos:

“Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Ele veio para todos os outros povos, portanto também para nós. A esse propósito, mostra São Tomás5 que Deus não faz acepção de pessoas, pois Se manifestou a todas as classes sociais, nobres e plebeus, à multiplicidade das raças e nações, a sábios e ignorantes, aos poderosos e aos de condição humilde, sem excluir ninguém.
Guiados por uma estrela
Um dos elementos principais, ao contemplarmos o episódio da Epifania, é a visão da estrela que levou os Magos a se porem a caminho, como está dito na Oração do Dia: “hoje revelastes o vosso Filho às nações, guiando-as pela estrela” 6 De que modo se explica que eles tivessem discernido o simbolismo desse misterioso astro? Conforme muitos autores, os Magos eram potentados ou reis,7 os quais, em certas regiões orientais, para ascender ao trono se aplicavam ao estudo das diversas ciências, destacando-se de maneira especial a astronomia:8 “ninguém pode ser rei dos persas se antes não aprendeu a disciplina e a ciência dos magos”.9
Como na Pérsia se havia difundido a crença de que estava para nascer um magnífico Rei Salvador, essa perspectiva fazia com que se prestasse especial atenção nos sinais celestes que pudessem anunciar a próxima realização de tal oráculo: “Se este fenômeno extraordinário [da estrela] foi interpretado pelos Magos como o sinal do nascimento do Rei dos judeus, isso prova, em primeiro lugar, suas preocupações astrológicas e, em segundo lugar, o conhecimento dessas tradições religiosas, universalmente difundidas no Oriente, segundo o testemunho de Tácito e de Suetônio. Tradições que anunciavam, para essa época, a vinda de homens originários da Judeia para dominar o mundo”.’10 No mesmo sentido opina outro conceituado autor: “na Pérsia esperava-se, por tradição interna, uma espécie de salvador e, além disso, sabia-se que análoga expectativa existia na Palestina”.’11
A estrela avistada pelos Reis Magos, segundo São Tomás,12 não era um astro como os demais, pois tinha sido criada por Deus para aquela circunstância, não no céu, mas na atmosfera, perto deles, com o objetivo de manifestar a realeza celeste do Menino que nascera em Belém. Pelo fato de aos judeus o Senhor transmitir suas instruções através dos Anjos, foram estes que anunciaram aos pastores o nascimento do Messias. Aos Magos, contudo, acostumados a contemplar o firmamento, Deus comunica a mensagem mediante uma estrela.
Presume-se que a distância percorrida pelos Reis, para os padrões atuais, não tenha sido grande. Naquele tempo, porém, a viagem era feita, na melhor das hipóteses, de camelo, com uma comitiva a pé. Era preciso ir a passo, o que tornava o deslocamento lento, não sendo possível percorrer mais de 30 ou 40 km por dia. As estradas eram precárias, sem mencionar os imprevistos, como animais ferozes, assaltantes, condições de hospedagem deficientes... Era uma aventura penosa e arriscada. Não obstante, eles não se preocupam com nada disso e põem-se a caminho em busca do Salvador, o Rei dos judeus. Mas quem os impele, realmente?
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