Comentário ao Evangelho – 3º Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, E.P.
Tendo Jesus ouvido dizer que João fora
preso, retirou-Se para a Galiléia. Depois, deixando Nazaré, foi habitar em
Cafarnaum, situada junto do mar, nos confins de Zabulon e Neftali, cumprindo-se
o que tinha sido anunciado pelo profeta Isaías, quando disse:
“Terra de Zabulon e terra de Neftali, terra
que confina com o mar, país além do Jordão, Galiléia dos gentios! Este povo,
que jazia nas trevas, viu uma grande luz, e uma luz levantou-se para os que
jaziam na sombra da morte.” Desde então, começou Jesus a pregar: “Fazei
penitência porque está próximo o Reino dos Céus”.
Caminhando ao longo do mar da Galiléia, viu
dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, que lançavam a rede ao
mar, pois eram pescadores. “Segui-Me”, disse-lhes, “e Eu vos farei pescadores
de homens.” E eles, imediatamente, deixando as redes O seguiram. Passando
adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão,
que estavam numa barca, juntamente com seu pai Zebedeu, consertando as suas
redes. E chamou-os. Eles, deixando imediatamente a barca e o pai, seguiram-no.
Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando
nas sinagogas e pregando o Evangelho do Reino de Deus, e curando todas as
enfermidades entre o povo (Mt 4, 12-23).
O
início da vida pública
Por que
terá escolhido Jesus a diminuta Nazaré para viver, e a dissoluta Cafarnaum para
iniciar Sua pregação? Na vida do Salvador todos os acontecimentos se explicam
por elevadas razões de sabedoria.
Fim do regime da lei e dos profetas
João
Batista é um importante marco na História da salvação, pois com ele termina a
antiga Lei e se inicia a nova 1. Até ele, encontramos o regime da lei e dos
profetas; a partir dele, abre-se a era do Reino dos Céus (cf. Mt 11, 12-13).
Figura única na História, adornada em vida de um prestígio incomparável, se
levanta misteriosa e solene no encontro de ambos os Testamentos 2.
Homem
muito peculiar, a começar pela previsão de sua vinda, pronunciada pelos lábios
de Malaquias (3, 1): “Eis que mando o meu
anjo, e ele preparará o caminho diante da minha face. E imediatamente o
Dominador que vós buscais, e o anjo do testamento que desejais, virá ao seu
templo.” Se sui generis foi o anúncio de sua aparição, menos singular não
foi o de sua missão profetizada por Isaías (40, 3): “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai
na solidão as veredas de nosso Deus”.
Teve
ele o grande privilégio de ser santificado pela voz da própria Mãe de Deus,
estando ainda em gestação no claustro maternal de Santa Isabel: “Porque logo que a voz da tua saudação chegou
aos meus ouvidos, o menino exultou de alegria no meu ventre” (Lc 1, 44).
Seu nascimento, além de assistido por Maria, contou com a presença de belos
fenômenos místicos que se difundiram “por
todas as montanhas da Judéia” (Lc 1, 65), trazendo como efeito, no fundo do
coração dos que ouviam seus relatos, a ponderação: “Quem julgas que virá a ser este menino? Porque a mão do Senhor era com
ele” (Lc 1, 66). Tal foi aquele acontecimento que seu pai, Zacarias, pôs-se
a profetizar, confirmando as antigas previsões sobre o menino (cf. Lc 1,
67-79).
Depois
de refugiar-se nos desertos “até o dia de
sua manifestação a Israel” (Lc 1, 80), aparece realizando sua missão diante
do povo que “o considerava como um profeta” (Mt 14, 5; 21, 26). “E ia ter com ele toda a terra da Judéia e
todos os de Jerusalém” (Mc 1, 5). “E
as multidões interrogavam-no, dizendo: ‘Que devemos, pois, nós fazer?’ [...] E
fo ram
também publicanos para ser batizados e disseram-lhe: ‘Mestre, que devemos
fazer?’ [...] Interrogavam-no também soldados ...” (Lc
3, 10-14).
Sua
presença, suas palavras e até mesmo a forma de vida por ele adotada, colocavam
“o povo em ansiosa expectativa e
pensando, todos, se seria ele o Messias” (Lc 3, 15), a ponto de ver-se na
contingência de afirmar categoricamente aos sacerdotes e levitas enviados pelos
judeus de Jerusalém para interrogá-lo: “Não
sou eu o Messias” (Jo 1, 20). E mais tarde a voz de Cristo assim o
classificaria: “Um profeta? Sim, vos digo
eu, e ainda mais do que profeta” (Mt 11, 9). “Em verdade vos digo que entre os nascidos de mulher não veio ao mundo
outro maior que João, o Batista” (Mt 11, 11).
A
prisão desse varão, o Precursor, tomado em plenitude pelo Espírito Santo (Lc 1,
15), determina o fim do regime da Lei e dos profetas e o começo da pregação
sobre o Reino dos Céus, conforme veremos na Liturgia deste 3º Domingo do Tempo
Comum.
Continua no próximo post.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Escreva seus comentarios e sugerencias