Tríduo Pascal

quinta-feira, 13 de março de 2014

Evangelho 2º domingo da Quaresma - Mt 17, 1-9 - Ano A - Transfiguração

Conclusão dos comentários ao Evangelho – II domingo da Quaresma – Mt 17, 1-9 – Ano A – 2014
A fragilidade humana diante da glória de Deus
Ouvindo isto, os discípulos caíram de bruços, e tiveram grande medo.
A voz do Senhor toca a fundo o coração dos inocentes, tal qual se deu com Pedro na barca, ou com Tomé no Cenáculo: caem com a face por terra. Sobre os maus, seu efeito é bem o contrário: caem de costas, como sucedeu com os soldados que foram prender Jesus no Horto das Oliveiras.
São Jerônimo procura nos explicar as razões desta queda dos Apóstolos: “Por três motivos caíram aterrorizados: porque compreenderam seu erro, porque ficaram envolvidos pela nuvem luminosa e porque ouviram a voz de Deus que lhes falava. E não podendo a fragilidade humana suportar tamanha glória, ela se estremece com todo o seu corpo e toda a sua alma, e cai por terra: pois o homem que não conhece sua medida, quanto mais queira elevar-se até as coisas sublimes, mais desliza até as baixas”10.
Porém, Jesus aproximou-Se deles, tocou-os e disse-lhes: ‘Levantai-vos, não temais.’
Além da onipotência de Sua presença e de Sua voz, Jesus quis tocálos com Sua própria mão. Esse fato nos faz recordar aquela passagem de Daniel: “uma mão me tocou e fez-me levantar” (Dn 10, 10). Tornou-se, assim, evidente para eles o quanto essa força partia de Jesus e não da natureza deles.
Eles, então, levantando os olhos, não viram ninguém, exceto Jesus.
Desaparecem de seus olhos a Lei e os Profetas. Agora entendem experimentalmente o quanto Jesus é o Esperado das nações.
Após a contemplação é necessário dedicar-se à ação
Quando desciam do monte, Jesus fez-lhes a seguinte proibição: “Não digais a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.”
Até mesmo no alto do Tabor, terminam as alegrias, como sempre ocorre nesta terra de exílio. É necessário descerem do monte todos aqueles que, ademais, são chamados à vida ativa. Depois de se enriquecerem com as graças de Deus por meio da contemplação, é preciso abraçar as penosas tarefas da pregação e da caridade. E não deviam dizer nada a ninguém, “porque se fosse divulgada ao povo a majestade do Senhor, este mesmo povo se oporia aos príncipes dos sacerdotes e impediria a Paixão, e assim se retardaria a Redenção do gênero humano” 11.
Conclusão
“Sou demasiadamente grande, e meu destino por demais nobre, para que eu me torne escravo de meus sentidos” 12. Esta foi a conclusão à qual chegou Sêneca por mera elaboração filosófica, sem ter a menor revelação de algo análogo à Transfiguração do Senhor. No Tabor, Jesus Cristo vai muitíssimo além: em Sua divina didática, faz-nos conhecer uma parcela de Sua glória nos reflexos da claridade própria a Seu corpo após a Ressurreição. Pálida exemplificação do que veremos no Céu, como fruto dos méritos de Sua Paixão, dos fulgores de Sua visão beatífica e da união hipostática. Como objetivo imediato, quis Ele fortalecer seus discípulos para assumirem com heroísmo as tristes provações de Sua Paixão e Morte, à margem da manifestação de Sua divindade. Porém, não era alheio aos Seus divinos desígnios, deixar consignado para a História quais são as verdadeiras e reais alegrias reservadas aos justos post mortem.
Em contrapartida, o demônio, o mundo e o pecado nos prometem contentamentos com ares de absoluto. Entretanto, sua fruição é quase sempre fugaz e seguida de amargas frustrações; além do mais, ao término desta vida seremos lançados no fogo eterno como castigo, se não tiver havido de nossa parte um verdadeiro arrependimento, propósito de emenda e a obtenção do perdão de Deus.
No Tabor a voz do Pai proclama: “ouvi-O”. Esta recomendação se dirige sobretudo a nós, batizados, pois somos filhos adotivos de Deus e, portanto, já passamos por uma imensa transformação quando ascendemos à ordem sobrenatural, deixando de ser exclusivamente puras criaturas. Porém, quando penetrarmos na ordem da glória, outra transformação se dará, pois seremos como Ele o é agora. Para lá chegarmos, convidanos Jesus a iniciarmos pelas agruras dos primeiros passos no caminho da virtude, sustentados logo depois por muita paz de alma e, por fim, sermos nós mesmos transfigurados no alto do Tabor eterno.
O Céu, por si só, é uma enorme manifestação da bondade de Deus, um riquíssimo tesouro de felicidade que Ele nos promete e um poderoso estímulo para aceitarmos com amor as cruzes durante nossa existência terrena. Confiemos nessa promessa com base nas garantias da Transfiguração do Senhor e peçamos à Mãe da Divina Graça que bondosamente nos auxilie com os meios sobrenaturais a chegarmos incólumes, decididos e seguros ao bom porto da eternidade: o Céu.
1) AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, I, q. 25, a. 6, ad. 4.
2 ) Idem, Suma contra os Gentios, l. 1, c. 100.
3 ) Idem, Suma Teológica, I-II, q. 3, a. 2, ad. 2.
4 ) Idem, ibidem, I-II, q. 3, a. 3, ad. 2.
5 ) Idem, ibidem, I q. 44, a. 4 ad. 3.
6 ) CIC, § 1024.
7 ) AQUINO, São Tomás de. Catena Aurea.
8 ) Idem, ibidem.
9 ) Idem, ibidem
10 ) Idem, ibidem
11 ) SÃO REMÍGIO apud AQUINO, São Tomás de. Catena Aurea.

12 ) Sêneca: Ep. 65.

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