Tríduo Pascal

segunda-feira, 31 de março de 2014

EVANGELHO DO V DOMINGO DA QUARESMA - Jo 11, 1-45 - Ano A

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO V DOMINGO DA QUARESMA
O retorno de Jesus a Betânia (vv. 1-16)
Para tornar bem claro quem era o enfermo em questão, São João o apresenta como sendo o irmão de Marta e Maria. Ressalta a figura desta última por se tratar de uma pessoa muito conhecida e comentada em toda Israel, devido à sua impressionante conversão e seu belíssimo ato de arrependimento em casa de Simão, o fariseu (3). É interessante notar o acerto do nome “Lázaro” que significa: “ajudado”, ou, “Deus socorreu”.
Fazia muito que Jesus pregava na região da Peréia, à distância de uma jornada de Betânia. Com enorme solicitude e carinho por Lázaro, tal qual costumam ser as irmãs quando de boa índole, Marta e Maria enviam um mensageiro para avisá-lo do estado de saúde do irmão.
Transparece na atitude de ambas um profundo espírito de fé na onipotência do Salvador e, ao mesmo tempo, uma nobre e fraternal dedicação. Tanto mais que a mensagem não era só informativa mas, com enorme polidez, ela continha uma súplica. A fórmula empregada nada tem a ver com a lógica argumentação do centurião romano para obter a cura de seu servo; mais se aproxima ela, em sua essência, da atitude da Virgem Maria nas Bodas de Caná: “Senhor, aquele que amas está doente” (v. 3). Segundo Santo Agostinho, esta simples frase contém uma profunda verdade de fé: Deus jamais abandona aquele a quem ama. Elas não imploram nem pedem explicitamente a cura, quer pudesse ser ela operada de perto, ou de longe; era-Lhe suficiente conhecer o estado de seu amado para, por um simples desejo seu, tornar efetivo o milagre.
E realmente assim teria sido se Jesus não tivesse querido se aproveitar do pretexto da morte de seu amigo “para a glória de Deus, a fim de que o Filho do Homem seja glorificado” (v. 4), conforme Ele próprio o afirma.
Grande perplexidade devem ter tido ambas, ao receberem a resposta do Senhor, dois dias depois do falecimento de Lázaro: “Esta doença não é de morte...” (v. 4). Maior aflição ainda deveuse ao fato de Jesus não se ter movido para se encontrar com o amigo nem com suas irmãs.
Essa é bem a provação pela qual passam as almas aflitas que imploram a intervenção de Deus e julgam não serem atendidas, devido à demora ou a uma aparente inércia da parte do Céu. Quão benfazeja é esta passagem para nos convencer a jamais descrermos da onipotência da oração perfeita! Quando Deus tarda em intervir é por razões mais altas e porque certamente nos dará com superabundância. E aí está o procedimento de Jesus para com aqueles aos quais ama: “Jesus amava Marta, sua irmã Maria e Lázaro” (v. 5). O grande amor de Jesus àquela família tornava ainda mais incompreensível sua como que indiferença, pois, “tendo ouvido que Lázaro estava doente, ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava” (v. 6).
Que grande vôo de espírito era necessário para seguir o Divino Mestre diante da incompreensibilidade de suas atitudes! Nenhum dos dois lados chegava a atinar com o alcance da meta política do Salvador. As irmãs deviam estar desmontadas em suas esperanças, acompanhando do lado de fora do sepulcro a lenta mas progressiva decomposição do corpo de seu irmão. Os Apóstolos, por sua vez, não podiam entender o porquê da ida de Nosso Senhor à Judéia. Já havia curado tantos necessitados à distância, qual a razão de penetrar numa terra onde era perseguido de morte? E só por causa de um enfermo? “Mestre, ainda há pouco os judeus Te quiseram apedrejar, e Tu vais novamente para lá?” (v. 8), diziam eles. Não seria melhor operar o milagre à distância?
A perspectiva psicossocial na qual os discípulos procuravam delinear a figura do Messias era essencialmente diferente da realidade que se desenrolava diante dos olhos de todos. Neles se encontrava uma constante do espírito humano, a de querer reduzir as ações de Deus às proporções de nossa mentalidade e até mesmo de nossos desejos, sentimentos e emoções. Ora, os princípios pelos quais Deus se move sempre são infinitamente superiores aos atinentes às meras criaturas, por isso nada melhor do que nos abandonarmos aos desígnios e ao beneplácito de sua vontade, nunc et semper.

Segundo nossos critérios, talvez fosse preferível que Jesus expusesse seu plano com total clareza aos Apóstolos para assim retornarem à Judéia com maior confiança, paz e decisão. Pelo contrário, Jesus lhes responde com uma parábola: durante as doze horas do dia, pode-se caminhar sem tropeço, diz Nosso Senhor, bem ao contrário das outras doze da noite. Tratava-se de uma afirmação óbvia, mas trazendo em suas entrelinhas algum significado mais profundo, ou seja, não havia chegado ainda o momento de sua Paixão, portanto não era de se temer nenhum mal. Assim, de forma didática e suave, ia instruindo os Apóstolos sobre os passos a serem dados, exercitando-os na plena confiança que deveriam devotar a seu Divino Mestre. 
Continua no próximo post

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