Conclusão dos comentários ao Evangelho – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 13, 44-52
IV – A Parábola da Rede
“O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada
ao mar, que apanha toda a espécie de peixes. Quando está cheia, os pescadores
tiram-na para fora e, sentados na praia, escolhem os bons para cestos e deitam
fora os maus. Será assim no fim do mundo: Virão os Anjos e separarão os maus do
meio dos justos, e lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger
de dentes.”
Continuamos ouvindo
Jesus falar nas cercanias do mar de Tiberíades, em cujas águas, segundo
informações de entendidos, há aproximadamente trinta espécies diferentes de
peixes. Descreve bem a realidade histórico-geográfica dessa parábola o Pe.
Manuel de Tuya, OP, ao analisar segundo a legislação levítica os peixes que
eram considerados impuros — devido à ausência de escamas, etc. — e outros
classificados como maus por serem defeituosos. Daí que, ao chegar à praia a
rede, após ter sido puxada pelos pescadores, os bons fossem postos em canastras
e os maus recusados.12
Essa cena, tão comum
na vida diária de Seus discípulos, é recordada pelo Divino Mestre com o intuito
de lhes deixar claro que, para penetrar no Reino dos Céus, é indispensável ser
bom cidadão neste mesmo Reino, que aqui começa com a vida sobrenatural. Só
assim não seremos excluídos no nosso Juízo particular e, portanto, também no
Final. “Ou dito de outra forma: compara-se a Santa Igreja a uma rede, porque
foi entregue a alguns pescadores, e todos por meio dela são arrastados das
ondas da vida presente ao Reino Eterno, a fim de que não pereçam submergidos no
abismo da morte eterna.
“Esta rede reúne todo
tipo de peixes, porque chama para perdoar a todos os homens: aos sábios e aos
insensatos, aos livres e aos escravos, aos ricos e aos pobres, aos fortes e aos
fracos. Estará completamente cheia a rede, isto é, a Igreja, quando no fim dos
tempos haja terminado o destino do gênero humano. Por isso, continua: ‘a qual,
quando está cheia’, etc., porque assim como o mar representa o mundo, assim
também a margem do mar figura o término do mundo; e neste término são
escolhidos e guardados em canastros os bons, e os maus são lançados fora, ou
seja, os eleitos são recebidos nos Tabernáculos Eternos, e os maus, depois de
terem perdido a luz que iluminava o interior do Reino, serão levados às trevas
exteriores: porque agora a rede da Fé contém igualmente, como peixes mesclados,
todos os maus e bons; mas logo na margem se verá os que estão dentro da rede da
Igreja”.13
Não só segundo São
Gregório esta “rede” pode ser interpretada como uma imagem da Igreja; muitos
outros autores opinam no mesmo sentido. A Igreja se compõe de justos, mas
também de pecadores. O mal que às vezes encontramos na sua parte humana não
deve nos assustar, nem mesmo escandalizar; já está previsto. Nem por isso deixa
a Igreja de ser Santa em sua essência, pois é Ela divina. O que nos deve
importar é buscar essa “pérola” e, encontrando esse “tesouro”, abandonar todo
apego para sermos bons “peixes” nessa rede.
A tarefa da separação
caberá aos Anjos, no dia do Juízo: os bons à direita, os maus à esquerda; os
sacerdotes santos serão apartados dos sacerdotes sacrílegos; os religiosos
observantes, dos sensuais; os magistrados íntegros, dos injustos; serão
recebidas as virgens prudentes, rejeitadas as néscias; as esposas fiéis,
afastadas das adúlteras; em síntese, os eleitos serão postos de um lado, e os
réprobos de outro.
Caberia aqui uma
exaustiva descrição a respeito dos tormentos eternos dos maus no inferno, como
também e em contraposição a estes, dos gozos celestiais que terão os bons na
vida eterna. Não faltará ocasião para se discorrer sobre tão importante
matéria.
V – Epílogo
Jesus ensinava aos
Seus discípulos a substância e as belezas do Reino dos Céus, constituindo-os
doutores. E assim, altamente formados, deviam eles ensinar aos outros com
abundância e variedade de doutrina, segundo o nível e necessidade de seus
ouvintes, sem jamais serem surpreendidos “de mãos vazias”. “Porque da mesma
maneira que o pai de família deve alimentar os seus com o mantimento corporal,
assim o doutor evangélico deve sustentar o povo cristão com o sustento
espiritual”.14
Para nós também
constitui uma necessidade, quando temos outros sob nossa responsabilidade,
empregarmos todos os meios da melhor erudição — antiga e atual — e da mais
atraente didática, a fim de bem instruí-los e formá-los.
Jesus contemplava,
nessa ocasião, o futuro de Sua obra, já não mais somente com os conhecimentos
eternos de Sua divindade, nem apenas com os da visão beatífica de Sua alma na
glória, mas através de Sua experiência humana, e discernia os esplendores do
desenlace final de todos os acontecimentos, depois de Seus dramas e sofrimentos
durante a Paixão. Exultava de alegria por ver com antecipação o triunfo de Seus
discípulos, da Igreja, e dos bons em geral após o Juízo, assim como a justiça
do Pai desabando sobre aqueles que rejeitariam Sua Revelação. Por isso,
descortinava diante do público — como também de Seus discípulos — panoramas do
porvir, ora com tintas sombrias e carregadas de gravidade, ora com fulgores
deslumbrantes e maravilhosos. Seus ouvintes, às vezes, enchiam-se de temor e de
terror, e, em outros momentos, de consolação e esperança. Pois o pavor é um
excelente freio face ao convite do mal, e a esperança é um dos melhores
estímulos para nos conduzir a Deus.
Fixemos nosso
entendimento e nosso coração nas maravilhas do Reino dos Céus, e conservemos um
perseverante terror da eternidade no Inferno. Assim, estaremos em condições
para nos localizar entre aqueles convidados que se encontrarão à direita de
Jesus, no Juízo Final!
1Confissões, l. 12,
c. 25.
2 Suma Teológica III,
q. 7, a. 7, rep.
3 Suma Teológica III,
q. 42, a. 1, ad 2.
4 Suma Teológica I,
q. 1, a. 5c.
5 JERÔNIMO, São,
Commentariorum in Evangelium Matthaei Libri Quattuor: PL 26, 108.
6 MALDONADO SJ, P. Juan de. Comentarios a los cuatro
Evangelios. Madri: BAC, 1950, v. I, p. 508.
7 Idem, pp. 508-509.
8 Idem, pp. 509-510.
9 Cfr. Plinio o
Velho, Hist. Nat., 1. IX, 34 apud FILLION, Louis-Claude. Vie de N.-S. Jésus-Christ. Paris:
Letouzey et Ané, 1922, t. II, p. 379.
10 MALDONADO. Op. cit. p. 510.
11 Apud AQUINO, São
Tomás de. Catena Aurea
12 Cf. TUYA OP, P. Manuel de. Bíblia Comentada. Madri:
BAC, 1964, v. II, p. 321.
13 GREGÓRIO I MAGNO, São. XL
Homiliarum in Evangelia, h. 11: PL 76, 1114-1118.
14 MALDONADO. Op.
cit. p. 512.
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