Tríduo Pascal

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Evangelho XXVI Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 21, 28-32

Continuação dos comentários ao Evangelho – 26º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 21, 28-32
Jesus responde: “De onde era o batismo de João?”
Jesus lhes respondeu: “Também Eu vos farei uma pergunta; se Me responderdes, Eu vos direi com que direito faço estas coisas. De onde era o batismo de João? Do Céu ou dos homens?” (Mt 21, 24-25). Os evangelistas traduzem o que os sinedritas pensavam: “Se Lhe dissermos que do Céu, Ele dirá: Então por que não crestes nele? Se Lhe dissermos que é dos homens, tememos o povo” (Mt 21, 25-26).
Frei Manuel de Tuya observa que Jesus, ao interrogá-los sobre o batismo de João, mantinha-se no terreno messiânico, pois o Batista só anunciava o Messias. E eles o compreenderam perfeitamente, daí terem respondido: “Não sabemos”. Temiam eles as multidões que consideravam São João Batista um verdadeiro profeta. Melhor, temiam que “todo o povo os apedrejasse”, como diz São Lucas (20, 6). O delito religioso acarretava o apedrejamento, e o povo costumava reagir impulsiva e cegamente nesses casos. Assim, o temor dos membros do Sinédrio era bem justificado!
Embaraço dos sinedritas
A resposta deles era, ela mesma, um juízo a respeito de sua incapacidade de pronunciar um veredicto em assuntos desse gênero. Afinal, se depois de tudo o que São João Batista fizera, não eram capazes de formar uma opinião sobre ele, quanto mais em se tratando de Jesus, que lhes fornecera inumeráveis signos de ser o Messias. A embaraçada resposta dos sinedritas deu oportunidade ao divino Mestre de dizer: “Nem Eu vos direi com que autoridade faço estas coisas” (Mt 21, 27).
III – Os dois filhos da parábola
28 “Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Aproximando-se do primeiro, disse-lhe: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. 29 Ele respondeu: Não quero — mas, depois, arrependeu-se e foi. 30 Dirigindo-se em seguida ao outro, falou-lhe do mesmo modo. E ele respondeu: Eu vou, senhor — mas não foi.”
É na seqüência daquela desavença entre Jesus e os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo que ocorre o trecho do Evangelho do 26º domingo do Tempo Comum. Apesar da forma amena e quase familiar com que Jesus introduz a parábola — “Mas que vos parece?”, fórmula usada com certa largueza pelo Salvador (4) — não devemos nos esquecer da sanha invejosa dos interlocutores de Jesus, manifestada na discussão descrita anteriormente e estancada, nas suas conseqüências, pela diplomacia divina. Devido ao incômodo silêncio que lhes fora imposto, aguçaram sua atenção e inteligência para não errar em seu parecer a propósito da parábola que viria.
No desenrolar dos acontecimentos comuns e banais da vida, não é difícil aplicar com acerto o senso do ser e escolher o melhor, o verdadeiro, ou o mais belo. A evidência dos fatos nesses casos nos conduz à inerrância de nosso juízo. E esse será justamente o intuito do Divino Mestre: que seus ouvintes discirnam e apontem, de maneira imediata e quase espontânea, qual dos dois filhos agiu com retidão.
Os comentaristas antigos são unânimes em conceder o primeiro lugar ao filho que acaba por ir trabalhar na vinha, apesar de ter se negado a fazêlo, a princípio. Ademais, são eles também concordes em interpretar que o filho desobediente, ou seja, aquele que não cumpriu com sua palavra, representa os judeus, mais especificamente os fariseus, os príncipes dos sacerdotes, etc., enquanto o obediente representa os gentios, publicanos e pecadores.
O pai da parábola representa Deus. Quem são os dois filhos?
Uma das apreciações mais interessantes é da lavra do Pe. Juan de Maldonado SJ. Segundo ele, pensavam os escritores antigos (tais como Orígenes, Atanásio, Crisóstomo, Jerônimo, Beda e Eutímio) que um dos filhos representava os gentios, aos quais Deus mandara trabalhar em sua vinha, impondo-lhes a lei natural. E embora eles não o tenham querido no início, porque não observavam a lei natural, arrependeram-se e não apenas passaram a obedecer a ela, mas também aceitaram os preceitos do Evangelho. Contrariamente, o povo judeu respondera que ia trabalhar na vinha, pelos preceitos de Moisés — “Faremos tudo o que o Senhor mandou” (Ex 19, 8) — mas depois não foi.

Mas — acrescenta o Pe. Maldonado — é provável que esses dois filhos representassem dois tipos de judeus. Um, o da plebe, com seus publicanos, meretrizes e pecadores. No início haviam respondido “não” a Deus, pelo menos com os fatos, não observando a Lei divina. Mas depois, tocados pela pregação de João Batista, arrependeram-se e aceitaram o Evangelho. O segundo tipo inclui os sacerdotes, os escribas e os fariseus, que haviam respondido afirmativamente a Deus, mas nem obedeceram à Lei nem acreditaram em João, de quem os profetas haviam falado.
Continua no próximo post

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