Continuação dos comentários ao Evangelho – 26º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 21, 28-32
Jesus responde: “De onde era o batismo de João?”
Jesus lhes respondeu:
“Também Eu vos farei uma pergunta; se Me responderdes, Eu vos direi com que
direito faço estas coisas. De onde era o batismo de João? Do Céu ou dos
homens?” (Mt 21, 24-25). Os evangelistas traduzem o que os sinedritas pensavam:
“Se Lhe dissermos que do Céu, Ele dirá: Então por que não crestes nele? Se Lhe
dissermos que é dos homens, tememos o povo” (Mt 21, 25-26).
Frei Manuel de Tuya
observa que Jesus, ao interrogá-los sobre o batismo de João, mantinha-se no
terreno messiânico, pois o Batista só anunciava o Messias. E eles o
compreenderam perfeitamente, daí terem respondido: “Não sabemos”. Temiam eles
as multidões que consideravam São João Batista um verdadeiro profeta. Melhor,
temiam que “todo o povo os apedrejasse”, como diz São Lucas (20, 6). O delito
religioso acarretava o apedrejamento, e o povo costumava reagir impulsiva e
cegamente nesses casos. Assim, o temor dos membros do Sinédrio era bem
justificado!
Embaraço dos sinedritas
A resposta deles era,
ela mesma, um juízo a respeito de sua incapacidade de pronunciar um veredicto
em assuntos desse gênero. Afinal, se depois de tudo o que São João Batista
fizera, não eram capazes de formar uma opinião sobre ele, quanto mais em se tratando
de Jesus, que lhes fornecera inumeráveis signos de ser o Messias. A embaraçada
resposta dos sinedritas deu oportunidade ao divino Mestre de dizer: “Nem Eu vos
direi com que autoridade faço estas coisas” (Mt 21, 27).
III – Os dois filhos da parábola
28 “Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos.
Aproximando-se do primeiro, disse-lhe: Filho, vai trabalhar hoje na minha
vinha. 29 Ele respondeu: Não quero — mas, depois, arrependeu-se e foi. 30
Dirigindo-se em seguida ao outro, falou-lhe do mesmo modo. E ele respondeu: Eu
vou, senhor — mas não foi.”
É na seqüência
daquela desavença entre Jesus e os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo que
ocorre o trecho do Evangelho do 26º domingo do Tempo Comum. Apesar da forma
amena e quase familiar com que Jesus introduz a parábola — “Mas que vos
parece?”, fórmula usada com certa largueza pelo Salvador (4) — não devemos nos
esquecer da sanha invejosa dos interlocutores de Jesus, manifestada na
discussão descrita anteriormente e estancada, nas suas conseqüências, pela
diplomacia divina. Devido ao incômodo silêncio que lhes fora imposto, aguçaram
sua atenção e inteligência para não errar em seu parecer a propósito da
parábola que viria.
No desenrolar dos
acontecimentos comuns e banais da vida, não é difícil aplicar com acerto o
senso do ser e escolher o melhor, o verdadeiro, ou o mais belo. A evidência dos
fatos nesses casos nos conduz à inerrância de nosso juízo. E esse será
justamente o intuito do Divino Mestre: que seus ouvintes discirnam e apontem,
de maneira imediata e quase espontânea, qual dos dois filhos agiu com retidão.
Os comentaristas
antigos são unânimes em conceder o primeiro lugar ao filho que acaba por ir
trabalhar na vinha, apesar de ter se negado a fazêlo, a princípio. Ademais, são
eles também concordes em interpretar que o filho desobediente, ou seja, aquele
que não cumpriu com sua palavra, representa os judeus, mais especificamente os
fariseus, os príncipes dos sacerdotes, etc., enquanto o obediente representa os
gentios, publicanos e pecadores.
O pai da parábola
representa Deus. Quem são os dois filhos?
Uma das apreciações
mais interessantes é da lavra do Pe. Juan de Maldonado SJ. Segundo ele,
pensavam os escritores antigos (tais como Orígenes, Atanásio, Crisóstomo, Jerônimo,
Beda e Eutímio) que um dos filhos representava os gentios, aos quais Deus
mandara trabalhar em sua vinha, impondo-lhes a lei natural. E embora eles não o
tenham querido no início, porque não observavam a lei natural, arrependeram-se
e não apenas passaram a obedecer a ela, mas também aceitaram os preceitos do
Evangelho. Contrariamente, o povo judeu respondera que ia trabalhar na vinha,
pelos preceitos de Moisés — “Faremos tudo o que o Senhor mandou” (Ex 19, 8) —
mas depois não foi.
Mas — acrescenta o
Pe. Maldonado — é provável que esses dois filhos representassem dois tipos de
judeus. Um, o da plebe, com seus publicanos, meretrizes e pecadores. No início
haviam respondido “não” a Deus, pelo menos com os fatos, não observando a Lei
divina. Mas depois, tocados pela pregação de João Batista, arrependeram-se e
aceitaram o Evangelho. O segundo tipo inclui os sacerdotes, os escribas e os
fariseus, que haviam respondido afirmativamente a Deus, mas nem obedeceram à
Lei nem acreditaram em João, de quem os profetas haviam falado.
Continua no próximo post
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