CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO 29º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A - Mt 22, 15-21
O modo de ação do mal
“Reuniram-se então os fariseus para deliberar entre si
sobre a maneira de surpreender Jesus nas suas próprias palavras.
Nesse episódio,
merece igualmente nossa atenção a maneira de agirem os maus.
Quando deseja armar
ciladas aos bons, o mal, antes de apresentar-se de forma declarada, costuma
preparar sua ação por um longo processo. Assim agiram os fariseus com Nosso
Senhor. Inicialmente usaram a astúcia da serpente para, depois, se insurgir
contra Ele de forma pública e agressiva. Aqui vemo-los no decurso da primeira
operação, desejando surpreender Jesus em flagrante, a fim de lançarem contra
Ele a opinião pública.
Em nossa própria vida
privada, quantas e quantas vezes da mesma maneira não somos nós surpreendidos
pelo mesmo método farisaico, utilizado pelo mal para perseguir os que se
esforçam em seguir os passos de Jesus? Imitemos a sabedoria do Divino Mestre,
não nos deixemos surpreender...
A respeito das tais táticas
farisaicas, consta mais este detalhe no Evangelho:
16a“Enviaram seus discípulos com os herodianos...”
É outra demonstração
de sua maldosa astúcia: escolheram alguns jovens, alunos de escolas rabínicas,
para causar a impressão de autenticidade, como se tivessem real interesse em
aprender. E os instruíram a se aproximar do Divino Mestre com demonstrações de
respeito. Sobre esse particular, comenta o acatado exegeta L.- CL. Fillion:
“Por
isso, no princípio evitaram apresentar-se em pessoa, temerosos de excitar sua
desconfiança. Enviaram alguns de seus jovens talmudim ou discípulos, os quais,
com candura aparente, vieram propor-Lhe um caso de consciência, esperando que o
resolvesse de modo que ficasse numa situação muito difícil”
1.
No mesmo versículo
16, outro dado chama a atenção: “Enviaram seus discípulos com os herodianos...”.
Mesmo quando estão em
campos opostos, é incrível a capacidade dos maus de se unirem contra o Bem. Os
fariseus anelavam a independência e supremacia de Israel, e odiavam os romanos;
os herodianos apoiavam a família de Herodes, que recebeu seu poder dos romanos.
Assim, embora
encarniçados adversários, fariseus e herodianos encontram-se irmanados neste
episódio, em busca de um fim comum: o deicídio.
Da astúcia da
serpente faz parte a adulação insidiosa:
16b “Mestre, sabemos que és verdadeiro e ensinas o
caminho de Deus em toda a verdade, sem te preocupares com ninguém, porque não
olhas para a aparência dos homens”.
Com tais palavras, os
fariseus condenam-se eles mesmos. Com efeito, não eram sinceros e viviam
preocupados com a opinião alheia a respeito de si próprios, só cuidando das
aparências.
17 “Dize-nos, pois, o que te parece: É permitido ou não
pagar o imposto a César?”
Se Jesus optasse pela
obrigação moral de pagar o imposto exigido pelos romanos, prontas já estavam as
tubas dos adversários para sublevar os israelitas contra Ele, pois não era
admissível um Messias que se manifestasse a favor da submissão ao estrangeiro
gentio. De outro lado, se Jesus negasse a liceidade do tributo, seria
denunciado às autoridades romanas, que por certo o condenariam à morte.
Aqui fica claro o
papel dos herodianos nesse episódio. “Como
adeptos do governo de Roma, seriam acusadores e testemunhas, se a resposta de
Jesus lhes parecesse contrária aos interesses do Império”, comenta o já
mencionado Fillion 2.
Jesus inverte os papéis
Na sequência do
episódio evangélico, Nosso Senhor quiçá haja surpreendido seus adversários pela
veemência da resposta:
“Jesus, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me
tentais, hipócritas?”.
Que grande diferença
entre os métodos empregados respectivamente pelo mal e pelo bem! Os fariseus
adulam para perder, Jesus increpa para salvar.
Não podiam os
fariseus se queixar por receberem essa severa recriminação. Jesus, a Sabedoria
Eterna e Encarnada, respondia em primeiro lugar à intenção oculta deles: tentar
com hipocrisia. “Não lhes responde
suavemente”, comenta São João Crisóstomo, “de acordo com as palavras pacíficas que Lhe haviam dirigido, mas com
aspereza, segundo suas más intenções; porque Deus responde aos pensamentos e
não às palavras” (apud Catena Aurea). E os desmascarava diante do público.
Jesus continuou:
“Mostrai-me a moeda com que se paga o imposto!
Apresentaram-lhe um denário”.
Os romanos permitiam
que moedas de cobre fossem cunhadas pelas autoridades do povo local. Nelas eram
impressas figuras tiradas dos reinos vegetal e animal. O denário, entretanto,
moeda de prata para uso em todo o Império, era monopólio de Roma. Com ele se
pagava o imposto e tinha gravada a efígie do imperador, cingida de uma coroa de
louros, com esta inscrição: “Tibério César, sublime filho do divino Augusto”.
Ao fazer os fariseus
lhe mostrarem uma dessas moedas, Jesus acabava de inverter os papéis. Deixava
evidente que, embora em teoria rejeitassem o imperador como senhor do país, na
prática o aceitavam, utilizando-se de seu dinheiro. Eles, de seu lado,
perceberam para onde caminharia a resposta. Contudo, em sua maldade e cegueira,
iludiam-se, esperando ainda uma possível falha de Nosso Senhor. Podemos
imaginar a atmosfera de suspense formada nesse instante:
“Perguntou Jesus: De quem é esta imagem e esta
inscrição?”.
Método de suprema
sabedoria em responder: obrigar o adversário a tirar a conclusão da própria
afirmação que fez. Os inquiridos passaram a ser os fariseus:
“De César, responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: Dai,
pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”
Eis a resposta que se
gravou para sempre nos céus da História. Quem utilizava o dinheiro de César,
que lhe pagasse o imposto devido, ainda mais tendo em vista os benefícios
proporcionados à Palestina pela administração romana.
Em se tratando de uma
nação essencialmente teocrática, como era a judaica, compreende-se a
perplexidade na qual muitos podiam se encontrar. Porém, havia uma
situação de fato da qual não se podia prescindir.
Continua no próximo post
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