Mons. João S. Clá Dias
Segundo Mistério Glorioso: Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo
Primeiro Ponto
E comendo com eles, ordenou-lhes que não se
afastassem de Jerusalém, mas que esperassem, aí, o cumprimento da promessa de seu Pai, “que ouvistes”,
disse ele, “da minha boca; porque João batizou na água, mas vós sereis
batizados no Espírito Santo daqui a poucos dias”. (At. 1, 4-5).
“Comendo”...
Nosso Senhor quando estava em sua vida mortal, jejuou durante quarenta dias
para nos mostrar que precisamos tomar os alimentos com critério e com cuidado,
mas ao ressuscitar, Ele passou ainda quarenta dias neste mundo, e nas várias
aparições Ele comia com os Apóstolos.
A comida deve ser para nós um
elemento de santificação, ela deve ser mais do que um alimento para o corpo, um
alimento para a alma. Devemos aí tomar a comida em sua função primordial, pois
foi o que Jesus fez: “E comendo com eles...” Era a última vez em que Nosso
Senhor estaria com eles, é o último ato antes da despedida, em breve Ele subirá
aos céus e para celebrar este derradeiro ato de sua presença entre os
Apóstolos, escolheu uma refeição.
Nosso Senhor quer nos mostrar
neste trecho dos Atos dos Apóstolos, o quanto nós devemos tomar a comida como
sendo um elemento e um alimento para a nossa vida espiritual. Ora o mundo ateu
de nossos dias toma os alimentos como a mera busca de vitaminas, com a
preocupação das calorias, com a preocupação das gorduras, dos açucares e etc.
Não é que não se deva ter preocupação com isso, mas é que não se deve fazer
disso a principal preocupação ao comer. A principal preocupação ao usar dos
alimentos, é subir até Deus.
Está dito, “ordenou-lhes”, Nosso
Senhor não convida nesta ocasião, não orienta, não aconselha; Ele ordena. E por
quê? Ele já passou pela crucifixão, já passou pela morte e ressurreição e está
preste a subir aos céus e por isso Ele não mais convida, ordena. Estava claro
que não bastava aconselhar, era preciso que fosse uma norma bem clara e precisa
e por isso, ordenou.
Muitas vezes assim nos trata
Nosso Senhor em nossa vida sobrenatural; vamos progredindo, progredindo, em
certo momento aquilo que era para nós um convite, se torna uma obrigação, eu me
sinto obrigado.
Contudo, quantas e quantas vezes
vou estabelecendo uma amizade, um negócio, vou frequentando um determinado
lugar sem me dar conta do perigo que significa aquele negócio, aquela amizade,
aquele lugar e o mau que podem vir a fazer a minha alma. Mas em determinado
momento, depois de Nosso Senhor ter trabalhado minha consciência e ter me mostrado
que eu devo abandonar esta amizade, este convívio, aquele ambiente; em
determinado momento se põe com clareza que de fato devemos abandonar.
Eu nesta meditação me pergunto:
Quando Jesus ordena e eu vejo com clareza que devo de fato obedecer, eu tenho
obedecido? Tenho deixado essa amizade, esse ambiente, aquele negócio? Ou pelo
contrário corro atrás ávido...
Nosso Senhor ordenou o que? “Que
não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem, aí, o cumprimento da
promessa de seu Pai.”
A espera dói, a espera angustia a
alma; ter que esperar ainda mais quando se trata de uma promessa divina a ser
realizada em nossa pessoa.
Voltemos os nossos olhos para o
Paraíso terrestre, ali estão os nossos primeiros pais e a serpente. Adão e Eva
depois de terem sido recriminados por Deus devem ser postos fora do Paraíso.
Contudo, o Senhor lhes faz uma promessa: Que uma Virgem esmagará a cabeça da
serpente.
Eles viveram 900 anos e depois
deles ainda houve milênios e milênios pela frente, até aparecesse esta Virgem.
Às vezes rezamos , e queremos ser
atendidos imediatamente, entretanto é preciso esperar com paciência. Os
Apóstolos deveriam esperar, pois o que Nosso Senhor quererá deles é que atuem e
atuem muito, mas com muito pensamento e muita calma.
...esperassem, aí, o cumprimento
da promessa de seu Pai, “que ouvistes”,
disse ele, “da minha boca”; porque João batizou na água, mas vós sereis
batizados no Espírito Santo daqui a poucos dias.
O batismo de São João de fato não
era sacramental, era um batismo simbólico e os Apóstolos não eram ainda
batizados e eram eles que deviam batizar os povos. Como seriam eles batizados?
Seria segundo a promessa que lhes tinha sido feita: no Espírito Santo.
*
* *
Terminado este primeiro ponto da
meditação, vamos nos voltar a Maria Santíssima e pedir graças especialíssimas
para saber esperar, para saber cumprir as ordens que Nosso Senhor nos dá, para
saber usar dos alimentos e de tantos outros atos sociais como meios de
chegarmos até Deus, como meio de elevarmos nossas almas às grandezas do céu.
Oh! Minha Mãe, dai-me a graça de
ao comer, comer como Vós, dai-me a graça de tudo que esperar da Divina
Providência, esperar como Vós e como esperou também o Vosso Divino Filho.
Dai-me também a graça de, ao receber uma ordem interior de Jesus, segui-la como
Vós.
Dai-me, oh Mãe, a graça dessa
obediência que tiveram os Apóstolos de esperar o momento preciso da vinda do
Espírito Santo, na própria cidade de Jerusalém e não saindo para essa ou
aquela atividade, como talvez eles gostariam
de ter feito.
Sabemos que consolados como
estavam e cheios de desejos de realizações, eles ouviram este conselho de Nosso
Senhor com humildade, obediência e flexibilidade e não se lançaram na ação entes que fosse cumprido o que Jesus lhes
havia prometido.
Que nós assim também sejamos, oh
nossa Mãe!
Segundo Ponto
Assim reunidos, eles o interrogaram: “Senhor, é por
ventura agora que ides instaurar os reino de Israel?” Respondeu-lhes ele: “Não
pertence a vós saber os tempos nem o memento que o Pai fixou em seu poder, mas descerá
sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em
Jerusalém, e em toda a Judéia e Samaria
e até os confins do mundo” (At. 1, 6-8).
Estavam os Apóstolos muito
tocados por graças sensíveis, estavam com muito entusiasmo, fruto daquele
convívio com o Homem-Deus que tinha morrido na cruz e tinha se
alto-ressuscitado e que estava à mesa com eles comendo. Neste momento,
certamente, consideravam todos os milagres que Jesus tinha feito: cura de
leprosos, de cochos, cegos, surdos e mudos, ressurreições... Ele tinha
multiplicado os pães duas vezes, tinha caminhado sobre as águas, mas sobretudo
Ele tinha se alto-ressuscitado. Que esperança extraordinária tinha eles neste
momento, como homens de uma visão inteiramente humana e pouco sobrenaturalizada,
que tinha chegado à hora da restauração do reino de Israel. Estavam ávidos de que o seu país se tornasse o primeiro entre todas os outros, e a
tendência pela falta da vinda do Espírito Santo, era julgar que Jesus então e
afinal, transformaria Israel na primeira potência de sua época.
Era uma visão completamente
naturalista de Jesus. Mas, o que respondeu Ele? “Não pertence a vós saber os
tempos...”
Nós mesmos, quando somos tomados
por graças especiais que nos consolam e nos afagam interiormente, que nos
trazem paz, alegria e contentamento, não materializamos essas graças,
exatamente como fizeram os Apóstolos?
(Teremos hoje aqui, a alegria de
vermos recebendo a Eucaristia por primeira vez, duas jovenzinhas, o que é uma
graça incalculável, receber o próprio Nosso Senhor, com corpo, sangue, alma e
divindade, este é um dom insuperável, inimaginável. Por isso é bom que elas
venham vestidas de branco, com o véu, a coroa de rosas na cabeça. Porquê?
Porque vão receber a Deus Nosso Senhor em seu interior. Mas, quão fácil e
perigoso é estar neste momento mais preocupada
com o vestido e com a repercussão junto aos outros, do que com as
preocupações próprias do grande ato que aqui se realizará. Devemos, portanto ter
em vista, o exemplo dos Apóstolos e ter todo o cuidado para não estar com as
atenções em coisas secundárias).
Não devemos nunca tomar a Jesus
para a nossa projeção social, pois, foi isso que fizeram os Apóstolos quando
perguntaram se tinha chegado a hora de restaurar o reino se Israel.
O Divino Mestre disse que os
Apóstolos seriam suas testemunhas. Nós também queremos ser testemunhas como
eles foram, e para isso é indispensável sermos santos como santos foram os
Apóstolos.
Dai-nos, ó Mãe, a graça dessa
santidade.
Terceiro Ponto
Dizendo isso elevou-se da terra à vista deles e uma nuvem o ocultou aos seus
olhos. Enquanto o acompanhavam com seus olhares, vendo-o afastar-se para o céu,
eis que lhes apareceram dois homens
vestidos de branco, que lhes disseram: “Homens da Galiléia, por que ficastes aí
a olhar para o céu? Esse Jesus que acaba de vos ser arrebatado para o céu
voltará do mesmo modo que o viste subir para o céu”. (At. 1, 9-11)
Jesus sobe ao céu e antigamente se dava muita
importância a este fato, pois era a termino da vida Dele nesta terra. Assim
como à meia-noite do dia 24 de dezembro se celebra o seu nascimento e às 3 horas da tarde da
sexta-feira santa se celebra a morte de Nosso Senhor, havia também uma grande
procissão ao meio-dia na festa da
ascensão do Senhor. Infelizmente o mundo
moderno, todo feito das loucuras da técnica e anseios naturalistas e
materialistas, perdeu esse senso da beleza da ascensão de Jesus.
Por que sobe ao céu? Porque o seu
corpo está tomado pela glória e assim como nosso corpo, concebido no pecado,
quando o soltamos ele cai, havendo uma série de razões que o fazem pesado.
Agora, quando a alma está na visão beatífica e o corpo no estado glorioso, a
sua tendência é subir e é exatamente por
isso que Ele subiu céu. Não somente pela força divina, mas também porque sua
alma está vendo Deus face a face e o seu corpo já é glorioso e portanto
sobe ao céu, por sua própria força e a isso se dá o nome de ascensão.
Ele saiu de nossa vista física,
deixando de estar presente aos nossos olhos, porque Ele queria que com isso
nossa fé crescesse, mesmo sem vê-Lo e sem poder encontrar a sua figura
corporal.
No momento em que o sacerdote
eleva a sagrada Hóstia ou eleva o sagrado Cálice durante a Santa Missa, nós não
veremos a Jesus diretamente, veremos as aparências do pão e do vinho, mas não
veremos aquele Jesus com seu corpo, sangue, alma de divindade. Então todos
aqueles que hoje comungarem não verão Nosso Senhor fisicamente, contudo terão
sua fé robustecida, porque Ele disse a São Tomé: Bem-aventurados os que não
vêem mas creem. Nós seremos bem-aventurados na missa, pois, embora não
vejamos corporalmente a Jesus, O veremos com os olhos de nossa fé, crendo que
ele está realmente presente nas Sagradas Espécies.
Ele subindo ao céu alimentou a
nossa fé, nossa esperança, porque nós temos a esperança de um dia estar lá,
pois Ele disse: Subirei ao Pai e lá prepararei a vossa morada. Ele subiu ao céu
a nossa entrada nos céus. Ele subiu para aumentar o nosso amor a Deus, pois de
lá Ele passa a ser o nosso intercessor maior, de lá Ele passa a advogar por
nós. Do céu a sua ação é mais intensa, para que lá também possamos chegar.
Quando temos um parente que morre
assistido pelo sacramento da Extrema-Unção e em inteira consonância com os
mandamentos de Deus, nós choramos, porque corporalmente ele desapareceu do
nosso convívio, mas ele entrou para o céu, o que significa a posse da felicidade
eterna. Desse modo o nosso Redentor foi preparar a nossa felicidade eterna.
A subida de Nosso Senhor ao céu,
fez com que tirássemos os nossos olhos das coisas dessa terra, fazendo nos
esquecer das bagatelas que muitas vezes nos atormentam. No momento em que Jesus
sobe ao céu, devemos esquecer de tudo aquilo que é obstáculo para vivermos, já
nesta terra, participando das alegrias do céu.
Estarmos aqui com a atenção posta
na ascensão de Nosso Senhor, é algo extraordinariamente benfazejo e estimulante
à nossa perseverança.
Mons João Clá Dias - Meditação, Catedral da Sé, 7 agosto 2004
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Escreva seus comentarios e sugerencias