Tríduo Pascal

sábado, 12 de dezembro de 2015

Comentários à Primeira Carta de São João 3,1

1 Vede que grande presente de amor o Pai nos deu:  de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!
Há milênios, a humanidade estava na pior situação possível por causa do pecado de Adão e Eva. Porque, no Paraíso Terrestre, gozavam de uma alegria extraordinária. Era a felicidade da imortalidade, da impassibilidade em relação às doenças, a felicidade de comandar todos os animais, de comandar a própria natureza; era a ciência infusa de Adão, que devia ser um homem cheio de conselhos, de observações e inteligência. Além disso, o dom de integridade, por onde o homem não tinha a menor convulsão interna: as inclinações, tendências, paixões não o levavam para este ou para aquele canto; era tudo inteiramente controlado pela razão e pela Fé. A inteligência entendia e os instintos todos se coordenavam em relação à razão, mas a inteligência também não desviava um só milímetro dos rumos e dos caminhos da Fé.
Pecam e estabelece-se uma desordem colossal na natureza humana. Não é só a morte que entra, mas é pior do que isso: é a morte da alma, o pecado. Começa dentro do homem um caos, porque as leis todas começam a brigar entre si e o homem vive num verdadeiro torvelinho de aflições e de solicitações para o mal. A partir deste momento, o homem torna-se incapaz, por sua natureza, de praticar estavelmente qualquer dos mandamentos.
Depois do pecado original, de si, o homem não tem forças para resistir às más inclinações que existem no âmago de sua alma
Portanto, o homem se torna um pecador. Porque, uma vez que ele não consegue manter-se na prática estável dos mandamentos, torna-se pecador. Ora, enquanto pecador — esta é a pior das desgraças — porque morrer é um mal físico, traz o tormento da separação da alma do corpo, mas não é o pior. Ter doenças também não é o pior; ter angústias, provações: isto não é nada. O pior é viver na escuridão, viver nas trevas do pecado, por onde o homem perde inteiramente o senso das coisas e a capacidade de julgar com segurança, com inerrância, as atitudes e tudo o que faz. A justiça humana fica inteiramente falha.
Isso não tinha solução. Solução de mandar um Anjo para segurar o homem e para o orientar? Ainda que o homem convivesse com um Anjo, ele, em determinado momento, por mais que o Anjo quisesse segurá-lo, ele cometeria a falta, porque a natureza dele não tem forças para resistir às inclinações que se estabeleceram no âmago da alma humana depois do pecado. E pode ser que ele pratique um ato de virtude, uma, duas, dez vezes, mas, em certo momento, com ou sem a presença do Anjo, ele ofenderia a Deus.
Para o arrependimento perfeito é preciso um auxílio especial de Deus
Tragédia, porque uma ofensa a Deus significa uma condenação eterna. Quem vai reparar esta falta cometida pelo homem? Então, a humanidade estava toda condenada ao Inferno. Porque, se não há um auxílio por onde o homem pratique estavelmente a virtude, ele, a não ser que tenha um arrependimento perfeito, vai para o Inferno. Ora, para o homem possuir o arrependimento perfeito, é preciso um auxílio especial de Deus, porque, de si, o homem não chega a esta perfeição.
Então, a situação da humanidade era a pior possível. E está escrito aqui, na Carta de São João:
Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados de filhos de Deus!
Nós passamos da pior situação possível para a melhor situação que possa haver. Porque os Anjos que caíram, estes eram filhos de Deus. Deixaram de ser filhos de Deus e foram parar no fundo do Inferno, sem possibilidade de nenhuma solução. O homem sai do Paraíso e recebe de presente, nada mais nada menos, o amor do Pai. Que amor? De sermos chamados filhos de Deus. Ser filho de Deus! E ele diz: “E realmente o somos!” E, além do mais, enquanto filiação divina, existe em nós esta grande esperança que vai se realizar, porque na epístola de hoje falava-se em Fé e esperança.

Esperança do quê? De que, quando Nosso Senhor vier, nós seremos semelhantes a Ele. Ou seja, nós O veremos tal qual Ele é. Vamos ver a humanidade d’Ele como foi vista em Belém, em Jerusalém, como foi vista até no Gólgota e Calvário. Nós vamos ver a humanidade d’Ele, e, ao mesmo tempo, a divindade d’Ele. E seremos como Ele, porque nós o veremos na sua divindade, nós também estaremos divinizados.

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