Comentários ao Evangelho Jo 2, 13-22
13 Estava próxima a
Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. 14 No Templo, encontrou os
vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados.
15 Fez então um chicote
de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou
as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. 16 E disse aos que vendiam pombas:
“Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!”
17 Seus discípulos
lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me
consumirá”. 18 Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para
agir assim?” 19 Ele respondeu: “Destruí este Templo, e em três dias o
levantarei”.
20 Os judeus disseram: “Quarenta
e seis anos foram precisos para a construção deste Santuário e Tu o levantarás
em três dias?” 21 Mas Jesus estava falando do Templo do seu Corpo. 22 Quando
Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que Ele tinha dito e
acreditaram na Escritura e na palavra d’Ele (Jo 2, 13-22).
Senhor, purificai este templo!
Mons João Clá Dias
I – A cabeça e mãe de todas as igrejas
A Igreja celebra
com esplendor a festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, que
ostenta o título honoríficode “Omnium urbis et orbis ecclesiarum mater et
caput”, ou seja, “Mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade [de Roma] e
do mundo”. É ela a Catedral do Papa, ao contrário do que se costuma pensar
devido ao papel hoje desempenhado pela Basílica de São Pedro, a qual, na verdade,
é apenas uma das quatro basílicas papais da Cidade Eterna.
Até o exílio dos Papas em Avignon, no século
XIV, viviam eles no Palácio de Latrão, antiga propriedade da família Laterano, nome
pelo qual ficou conhecido. O cônsul romano Pláucio Laterano, por suspeita de
conspiração, foi morto pelo infame Nero que lhe confiscou os bens, dentre os
quais esse edifício, na mesma época em que movia a perseguição aos cristãos.1 Não
imaginava o tirano que, anos mais tarde, tudo aquilo seria doado à Igreja pelo
Imperador Constantino, e tornar-se-ia residência dos sucessores de Pedro e primeira
Basílica da Cristandade. O Papa São Silvestre dedicou-a no ano 324.2
Nesta Basílica encontramos não só vestígios
de variados estilos artísticos, graças às obras de embelezamento e ampliação realizadas
ao longo dos séculos, mas também numerosas e valiosíssimas relíquias. Dentre as
principais contam-se a mesa onde foi celebrada a Santa Ceia (cf. Mt 26, 20-28;
Mc 14, 18-24; Lc 22, 14-17), parte do tecido purpúreo com que os soldados
revestiram o Divino Redentor na Paixão (cf. Mc 15, 17; Jo 19, 2), as cabeças de
São Pedro e de São Paulo, e a taça na qual São João Evangelista, segundo uma
antiga tradição, foi obrigado a tomar um veneno que, por milagre, não lhe fez
mal.
Um elo entre o Céu e a Terra
Por ser a Catedral de Roma, São João de
Latrão possui um estreito vínculo com a pessoa do Sumo Pontífice, elo entre nós
e a eternidade: “tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o
desligares na Terra será desligado nos Céus” (Mt 16, 19). Devido a esta
prerrogativa a Basílica passou a ser um símbolo da unidade da Igreja.
Convém ainda levarmos em consideração que,
em sua sabedoria, a Santa Igreja estabelece o Ciclo Litúrgico, dentre outras razões,
com o intuito de prolongar pelos séculos afora as graças concedidas no momento
histórico comemorado. E assim como ao celebrar cada Natal com verdadeira
piedade somos favorecidos com as bênçãos dadas a Nossa Senhora, São José e aos
pastores no Presépio, na festa de hoje somos convidados a participar das graças
e da alegria sobrenatural dos católicos de Roma quando o Papa tomou posse de sua
sede episcopal oficialmente, podendo gozar de plena liberdade religiosa.