Continuação Evangelho (Mt 4, 12-23).
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Depois, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, situada junto do mar, nos confins de Zabulon e Neftali [...]
A propósito desse versículo, o próprio Maldonado chegou a equivocarse, julgando haver duas Galileias. Ao expor sua observação, o Revmo. Pe. Luis María Jiménez Font, S.J., com muita precisão desfaz o engano em nota ao pé da página, nestes termos:
“O autor [Maldonado] faz uma distinção desnecessária. Não havia mais que uma Galileia, governada por Herodes. Cristo Se retirou a Cafarnaum, onde podia viver sem perigo, porque estava na fronteira da tetrarquia de Filipo”4.
Como claramente se deduz, foi por motivos ocasionais que Jesus “Se retirou” para Cafarnaum. Entretanto, pode-se afirmar, com segurança, que nada se passava na vida do Salvador sem ter grandes razões como causa. De imediato, percebe-se não ser útil para a vida pública a manifestação de Sua divindade, na cidade de Nazaré. Jesus a escolheu para as décadas de Sua fase oculta, devido a Seu recolhimento, paz, pequenas proporções geográficas e população restrita. Não era, porém, própria para a difusão em grande escala da semente da Boa Nova. Ademais, “ninguém é profeta em sua própria pátria”, conforme Ele mesmo repetiria aos Seus concidadãos, basta ver o modo como foi expulso daquela cidade.
Um motivo mais sobrenatural levou Jesus a tomar este caminho: “Começa Jesus a evangelizar as regiões por onde tivera início a defecção de Israel. Demonstra com isso Sua misericórdia e sabedoria, levando o remédio onde mais grave era o mal, servindo-Se de uma cidade populosa, mas incrédula e preocupada só com os negócios humanos, para que dali se irradiasse a pregação do Reino de Deus. Quis, assim, significar que quem mais necessita de remédio são os enfermos, não os sãos; e que nunca devemos resistir a nenhum apostolado sob pretexto de que o campo não está preparado para receber nosso trabalho” 5.
O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz
Cumprindo-se o que tinha sido anunciado pelo profeta Isaías, quando disse: “Terra de Zabulão e terra de Neftali, terra que confina com o mar, país além do Jordão, Galileia dos gentios! Este povo, que jazia nas trevas, viu uma grande luz, e uma luz levantou-se para os que jaziam na sombra da morte.”
A citação de Isaías feita por São Mateus nestes versículos é retirada do texto hebraico e por isso não são transcritas algumas palavras como constam em nossas traduções mais correntes:
“No tempo passado foi levemente combatida a terra de Zabulon, e a terra de Neftali, e no tempo futuro serão cobertas de glória a costa do mar, além-Jordão, a Galileia das nações. Este povo, que andava nas trevas, viu uma grande luz; aos que habitavam na
região da sombra da morte nasceu-lhes o dia” (Is 9, 1-2).
Trata-se de uma belíssima profecia que se cumpre ao estabelecer-Se o Senhor em Cafarnaum. De fato, segundo nos é descrito pelo segundo livro dos Reis (15, 29), Teglatfalasar, rei dos Assírios, invadiu várias regiões, entre as quais as terras de Zabulon e Neftali, ou seja, a porção citada nesses versículos de Mateus. Isto se deu por um castigo de Deus. Foi assim devastada a Galileia e tomada pelos gentios, e daí seu nome: “Galileia dos Gentios”, localizada na zona limítrofe da Síria e da Fenícia, coalhada de pagãos.
Essa era a principal razão de se terem constituído seus habitantes em objeto de desprezo da parte do resto da nação, pois grande era a infiltração de gentios arameus, itureus, fenícios e gregos, que inevitavelmente se mesclavam com os judeus de raça,
conforme vem narrado no primeiro livro dos Macabeus (5, 15): “E toda a Galiléia estava cheia de estrangeiros, com o fim de nos perderem”. Tratava-se, como já dissemos, de uma região rica em comércio e por isso atraente para os vários povos.
Ora, torna-se compreensível o quanto se corromperam as doutrinas e os bons costumes religiosos do povo eleito naquelas paragens, devido à forte e diversificada influência pagã, bem como o motivo pelo qual ele “andava nas trevas” e na “sombra da morte”.
“Estavam os gentios sentados na região da sombra da morte — diz Crisóstomo — porque não tinham sequer uma partícula de luz divina que os iluminasse. Os judeus, que faziam as obras da lei, mas não conheciam a justiça do Evangelho, estavam nas
trevas. Todas elas são dissipadas pela ‘grande luz’ do Messias. Não pode haver luz mais intensa e fixa, porque Jesus é a luz substancial: ‘Eu sou a luz do mundo’ (Jo 8, 12). Não desconfiemos jamais de sua eficácia para chegar ao fundo dos espíritos mais cobertos de trevas pela infidelidade, pela heresia, pela ignorância, pela indiferença; e façamo-nos sempre, por nossa pregação e nossas obras, filhos dessa luz e colaboradores de sua ação iluminativa” 6.
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