Tríduo Pascal

domingo, 22 de janeiro de 2012

A pregação do Reino dos Céus - Mt 4, 12-23

Desde então, começou Jesus a pregar: “Fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus”.

São Marcos também nos deixou o mesmo relato nestes termos: “Completou-se o tempo, e aproxima-se o Reino de Deus; fazei penitência, e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). Enquanto um evangelista costuma falar em “Reino dos Céus”, o outro se refere ao “Reino de Deus”. Discutem os autores sobre este particular, mas para nossos objetivos não nos convém discorrer sobre ele e, por isso, tomemos as duas expressões como sinônimas.

Já na famosa conversa noturna com Nicodemos, Jesus fizera menção ao Reino de Deus (cf. Jo 3, 3-5). Agora começa propriamente Sua pregação pública sobre o tema.

É sabido o quanto os judeus esperavam por um reino político-social todo feito de glória para o povo eleito. Essa seria, para eles, a realização do Reino de Deus sobre a Terra. É em Cafarnaum que Jesus começa a retificar esse equívoco nacionalista, o que Ele fará progressivamente por meio de pregações, parábolas e polêmicas, com uma insuperável força didática e de lógica.

Natureza espiritual e caráter universal do Reino

O método processivo para o estabelecimento do Reino anunciado pelo Divino Mestre se chocava com a concepção judaica de uma intervenção intempestiva do Todo-Poderoso, alçando aos píncaros a nação eleita. Figuras como as da semente, do grão de mostarda e do fermento (cf. Mt 13, 24-33) demonstravam o lento passo a passo da evolução do Reino anunciado e trazido por Ele.

Ademais, o verdadeiro Reino é, sobretudo, religioso, sem possuir um fim político segundo o acentuado anseio da opinião pública daqueles tempos. Esse Reino se estabelece em oposição ao de Satanás. “Se Eu, porém, lanço fora os demônios pela virtude do Espírito de Deus, é chegado a vós o Reino de Deus” (Mt 12, 28). Não fará, portanto, uma oposição a César (cf. Mt 22, 21) e, por outro lado, não será nacional, mas universal: “Digo-vos, porém, que virão muitos do Oriente e do Ocidente e se sentarão com Abraão, Isaac e Jacó no Reino dos Céus ...” (Mt 8, 11).
Sobre o versículo em questão, assim se exprime o grande exegeta Fillion:

Podia-se, pois, compreender o Salvador quando Ele fez ecoar através da Galileia o ‘Evangelho do Reino’, já que esta boa nova fora anunciada há muito tempo, e que, recentemente, o Precursor a tinha proclamado com ardente zelo. Mas era preciso corrigir o que havia tomado uma má direção no espírito do povo, aperfeiçoar o que era bom, erguer às esferas superiores o que ainda não fora revelado em toda a sua extensão e, assim, retornar ao magnífico ideal dos profetas e até ultrapassá-lo. É por isso que — rejeitando com vigor as concepções mesquinhas e vulgares da maior parte dos seus compatriotas, desvinculando a noção de Reino de Deus das quimeras da escatologia judaica, protestando especialmente contra a pretensão dos fariseus e dos escribas de dar às esperanças messiânicas um aspecto puramente exterior e político, de maneira a fazer disso o monopólio de sua nação — Jesus insistiu incansavelmente na natureza espiritual e no caráter universal desse Reino” 7.

A penitência abre as portas do Reino dos Céus

O Reino está próximo e, para nele penetrar, é preciso fazer penitência, humilhar-se, purificar-se. É a via segura para se obter a paz com Deus e consigo mesmo. Essa foi a condição colocada por Jesus, e por isso, “não começou — diz o mesmo Crisóstomo — pregando as altas coisas da justiça da nova lei, mas as coisas íntimas da retificação da vontade pela penitência. Por aí se entra no Reino dos Céus: abandonando os maus hábitos, retificando intenções e inclinações erradas, concebendo desejos de viver bem e tendo pesar de haver feito o mal. É então que se pode já vislumbrar o gozo do cumprimento da perfeita justiça: ‘Fazei penitência…’ ‘Aproximou-se o Reino dos Céus…’”

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