Tríduo Pascal

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum Lc 5 1-11 - Ano C 2013

Continuação dos comentários ao Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum Lc 5 1-11  - Ano C  2013
“Avança para águas mais profundas!”
4Quando acabou de falar, disse a Simão: ‘Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”.
Com esta ordem de avançar “para águas mais profundas”, o Redentor indicava a ousadia que deveria caracterizar as metas daqueles pescadores dali em diante, predispondo-os a uma ação mais ampla do que os limitados horizontes lacustres nos quais trabalhavam: o plano divino da salvação dos homens. Em outras palavras, Nosso Senhor pedia corações generosos.
Ora, Simão era pescador veterano, e a prática lhe dizia não haver a menor possibilidade de pescar algo na manhã seguinte a uma noite de trabalho infrutífero. Desse modo, tinha razões válidas e escusas suficientes para não atender à ordem de Jesus e poderia ter argumentado em favor de uma resposta negativa, valendo-se de seus conhecimentos na matéria e alegando ser inconveniente — ou até mesmo inútil — lançar as redes. Entretanto, agiu de modo diferente.
5Simão respondeu: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”.
Longe de ser uma manifestação de falta de fé, a explicação dada por Simão — em um tom de voz que podemos conjecturar cheio de deferência — ratifica sua confiança na palavra do Mestre. Agindo de modo coerente, pratica um ato de perfeita obediência, pois, sendo experimentado, suspende o próprio juízo e cumpre de imediato a ordem recebida. Tal fé e docilidade à determinação divina, atributos imprescindíveis de um genuíno apóstolo, eram a resposta esperada por Jesus para realizar o milagre.
Pesca prodigiosa
6Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. 7Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem.
Como resultado final da pesca, “obteve-se tal quantidade de peixes quanto quis o Senhor do mar e da terra”,3 afirma São Gregório Niceno. Além de representar a messe abundante — para a qual, já prevenia os futuros Apóstolos, eram poucos os operários... , Cristo também lhes mostrava a importância da harmonia e do mútuo auxílio entre eles. Sem a colaboração dos companheiros da segunda barca, teria sido impossível retirar das águas aqueles peixes, assim como para a evangelização do mundo seria necessária a união de forças dos apóstolos, a fim de conduzir ao caminho da salvação cada uma das almas que a Providência lhes confiaria.
A fartura de peixes traz ainda outra marca da tão insuperável didática utilizada por Jesus: peritos na arte pesqueira, os discípulos logo concluíram não ser naturalmente explicável o acontecido, O Mestre já realizara um milagre sobre uma criatura inanimada, transformando a água em vinho nas Bodas de Caná, e agora, demonstrando pela primeira vez seu poder sobre a natureza animal, levava-os a compreender que dominava de modo absoluto todos os seres. Desta maneira, antes de convocar aqueles discípulos a segui-Lo sem reservas, quis Jesus manifestar seu poder sobre a criação através dessa pródiga pesca, para convencê-los de que Ele sempre os proveria em quaisquer necessidades temporais na vida missionária, facilitando-lhes a renúncia às preocupações terrenas.
Não obstante, o mais importante objetivo de Jesus era fazer Simão compreender — e, com ele, os demais discípulos — “que, se durante a noite inteira não havia pegado nada, era inútil todo seu esforço sem Cristo, como o são todos os nossos atos humanos sem a graça divina”,4 explica Maldonado. O Salvador queria deixar consignado o quanto a missão de salvar as almas será continuamente uma pesca milagrosa, na qual o apóstolo figura como mero instrumento. Sua habilidade e diligência serão frustradas se não forem movidas pela voz d’Aquele que disse de Si mesmo: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5).
Continua no próximo post.

3) SÃO GREGÓRIO NICENO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, cV, v.5-7; 8-11.
4) MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.11, p.478.
 

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