CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM Lc 11, 1-13 - Ano C - 2013
7
e ele respondendo lá de dentro, disser: Não me incomodes, a porta está agora
fechada, os meus filhos e eu estamos deitados — não me posso levantar para tos
dar.
A situação descrita é constrangedora. Não se sabe de quem se
deve ter mais pena, se do anfitrião ou do pai de família. Reportando-nos aos
costumes de então, não cabe dúvida estar este último numa posição de maior
incômodo, pois todos os seus se encontravam alinhados nos respectivos leitos e,
para chegar à despensa, sem luz elétrica, ele precisaria despertar cada um ou,
eventualmente, pisar sobre este ou aquele... Portanto, era conveniente
levantarem-se todos para executar tal operação. Ora, com um tal diálogo a altas
vozes, não deveria haver um só na posse de seu sono a essas alturas. Faltava,
aos vizinhos já despertos, somente boa vontade. Tratava-se, da parte destes, de
mais um caso típico de mescla de preguiça com egoísmo, aí sim, característica
de todas as épocas. Entretanto, torna-se claríssimo pela parábola que, apesar
de sua má vontade, o pai de família acabou por se levantar, devido à importuna
insistência de seu vizinho, disposto a entregar a este quantos pães quisesse.
8 Digo-vos que, ainda
que ele não se levantasse a dar-lhos por ser seu amigo, certamente pela sua
impertinência se levantará e lhe dará tudo aquilo de que precisar.
Jesus quer nos convencer sobre a importância da perseverança
na oração. Ademais, ensina-nos a não termos timidez ou receio em nossos pedidos
a Deus. Evidentemente, no relacionamento humano, as regras de etiqueta e boa
educação devem ser observadas sempre. Porém, não se pode ter a menor retração
ao entrarmos em conversação com Deus. Neste caso as normas de polidez são
contraproducentes, pois Ele quer a ousadia de nossa parte, Ele deseja ser
importunado por nós e fará por nós muitíssimo mais do que o pai de família fez
por seu vizinho.
De fato, Deus jamais se cansa e nem pode ser incomodado, não
dorme e nem faz esforços para se despertar, e está com as portas sempre abertas
para nos atender, pronto a nos ouvir durante as vinte e quatro horas do dia.
Nunca se irrita e, muito pelo contrário, se alegra com nossa insistência.
Quando nossa obstinação atingir o grau máximo de importunidade, aí teremos
triunfado em nossa oração.
9
Eu digo-vos: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e
abrir-se-vos-á. 10 Porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra;
e ao que bate, se lhe abrirá.
As metáforas contidas nestes versículos confirmam nossa fé no
grande e infalível poder da oração. São o resumo de uma lei sobrenatural, síntese da infinita misericórdia
do Sagrado Coração de Jesus, e infundem em nossas almas a segurança feita de
luz, serenidade e paz.
11
Qual de entre vós é o pai que, se um filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? 12
Ou, se lhe pedir um peixe, em vez de peixe, lhe dará uma serpente? Ou, se lhe
pedir um ovo, porventura dar-lhe-á um escorpião? 13
Se pois vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais
o vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que Lho pedirem.”
Se os pais nesta terra de exílio, imperfeitos como são,
jamais desejam o mal para seus respectivos filhos e sempre procuram dar-lhes do
bom e do melhor, quanto mais Deus, o Bem substancial, no trato com aqueles a quem
criou.
CONCLUSÃO
A liturgia de hoje condensa em poucos versículos um
verdadeiro tratado da oração. Nós devemos rezar sempre. Se Deus nos atende
imediatamente, com alegria saibamos agradecer-Lhe, aproveitando-nos de sua
infinita paternalidade nos submeta à prova da demora, jamais devemos desanimar,
pois o viajante obteve sem tardança e dificuldade alimento e hospedagem de que necessitava, devido à amizade
de seu anfitrião; e este, por sua pertinaz insistência, conseguiu os pães
indispensáveis para atender a seu hóspede.
Enfim, tanto um quanto outro sairiam bem melhor servidos se
pudessem ter recorrido a Maria, Mãe de Misericórdia, Medianeira de todas as
graças.
1) Cf. Z.-C. Jourdain, Somme des
grandeurs de Marie, livre I chapitre 3, I 2) Suma Teológica III, q. 21, a. 4. 3)
Suma Teológica II-II, q. 83, a. 11 4) in Cat. Graec. Patr., apud Catena Áurea,
in Lc XI, 1-4. 5) in Cat. Graec. Patr., apud Catena Áurea, in Lc XI, 1-4. 6) De Oratione, 29,
apud CIC, nº 2.847.
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