Tríduo Pascal

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Evangelho 19° domingo do Tempo Comum – Ano C – 2013 Lc 12, 32-48

Continuação dos comentários ao Evangelho XIX Domingo Tempo Comum Ano C 2013
Necessidade da vigilância
39 Sabei que, se o pai de família soubesse a hora em que viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria arrombar a sua casa.
Este versículo não traz nenhuma dificuldade de interpretação, pois todo ladrão busca uma ocasião fácil para sua ação e não deseja ser percebido. Em face desta prerrogativa, o dono da casa, sabendo a hora em que se daria o roubo, estaria à espreita para impedi-lo. Assim também nós, pervadidos da certeza de que o Juiz Supremo virá, mas não sabendo em que momento, devemos estar vigilantes ininterruptamente para não sermos apanhados de surpresa à sua chegada.
40 Vós, pois, estai preparados porque, na hora que menos pensais, virá o Filho do Homem.
Os servidores vigilantes nos proporcionam o conhecimento do prêmio imerecido que nos aguarda se, tal como o fizeram eles, procedermos também nós, amando sem limites o Senhor, e se em razão desse amor guardarmos sua palavra e observarmos os seus mandamentos. Ao retornar o Salvador, Ele nos servirá. Por outro lado, o mestre vigilante nos incita a sermos cuidadosos em evitar nosso encontro com o Senhor numa circunstância desfavorável, por falta de vigilância. São dois conselhos harmônicos e fundamentais.
O Senhor virá. É absolutamente certa sua vinda. Por isso: “Vós, pois, estai preparados porque, na hora que menos pensais, virá o Filho do Homem”. Poderá ser, portanto, num dia inesperado; numa idade na qual nada havia para temer, quando os grandes planos se multiplicavam, e, quiçá, as inclinações já se lançavam nos prazeres, realizações, negócios...
Nada melhor para obter uma incansável, robusta e contínua vigilância do que recorrermos à Mãe de Misericórdia. E se ainda assim viermos a falhar, Ela nos obterá o perdão de nossas misérias.
A parábola do administrador fiel
Nos versículos finais (41-48), respondendo a uma pergunta de Pedro que desejava saber se a parábola era exclusivamente para eles ou para todos, o Divino Mestre elabora uma outra, a do “administrador fiel e prudente”. Torna-se patente o caráter universal de seu ensinamento e, portanto, o quanto se aplica a qualquer um de nós. Basta considerar de perto a incerteza sobre a hora de nossa morte, para nos darmos conta da enorme importância da virtude da vigilância.
Obrigações de quem tem autoridade sobre outros
Ao fazer uso da imagem do administrador, procura Ele representar aqueles que têm alguma autoridade ou poder sobre outros. A aplicação incidia diretamente sobre Pedro e os Apóstolos, que receberiam em suas mãos a instituição da Igreja, e também abrangeria os pais, tutores, etc.
Nestes versículos, o prisma continua sendo o da vigilância, mas agora com outra nota característica: a da prudente fidelidade. A primeiríssima obrigação do administrador é a de não se apropriar de nenhum dos bens que o senhor lhe confiou e por isso não procurar seu prazer, sua glória e sua vontade, mas sim o puro interesse de seu senhor. Em segundo lugar, deve ser prudente, discernindo com senso de hierarquia como distribuir os trabalhos em proporção aos talentos e às forças de cada um. Ademais, deverá prover às necessidades de todos, oferecendo-lhes os meios, instruções, sustento, etc., para o desempenho das respectivas funções.
Procedendo com esse amor à perfeição, a autoridade, ao encontrar-se com seu senhor, além da bem-aventurança, receberá a administração de todas as suas posses.
O castigo do administrador infiel
Quanto ao administrador infiel, também com traços irreais, o Divino Mestre busca delinear a principal causa de seus delitos: o esquecimento de que possui um senhor e que este retornará, ou então, convencer-se de que seu amo não voltará tão cedo. Daí os maus tratos, a injustiça, o abandonar-se à gula e às desordens. Este também será surpreendido pelo senhor e por ele será castigado com a separação eterna...
A seguir trata da proporcionalidade dos castigos, mostrando como, por justiça, “a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido” (v. 48). É nisto, mais especialmente, que se concentra a resposta oferecida pelo Mestre a São Pedro, cuja substância a quase todos os santos faz temer e tremer. Quantos deles não buscaram uma via penitencial, pela consideração destas divinas palavras!
Sobre esta passagem, comenta o Cardeal Gomá: “Como na outra vida não há igualdade de prêmios, da mesma forma não há igualdade de castigos, diz São Basílio. Serão condenados às chamas todos os que as tiverem merecido, uns, porém, as sofrerão de modo mais intenso do que outros; todos serão roídos pelo verme inextinguível, mas este será mais forte ou mais indolente. Por isso, diz Teofilato, os sábios e doutores, os quais deveriam ter agido de acordo com sua doutrina e dela tirado incentivo para os demais, serão atormentados com maior rigor. Este pensamento deveria nos fazer tremer, se Deus nos favoreceu com dons de privilégio no conhecimento de sua vontade, ou nos concedeu graças extraordinárias, ou nos conferiu poderes para comunicar aos outros a sua vontade” (15).
Que esta Liturgia de hoje nos compenetre a fundo da grande necessidade de sermos diligentes na preparação de nosso encontro com o Senhor, o qual poderá dar-se no momento menos esperado. Que usemos bem de nosso tempo, palavras e ações. Em síntese, que sejamos sempre santos.

1) Santo Agostinho, De moribus Ecclesiae, c. 24.
2) Cf. Suma Teológica II – II q. 47 a .9.
3) São Bernardo, Sermo XI in Psalmum XC, § 1.
4) São Bernardo, ibidem.
5) Consejos y recuerdos, n. 37.
6) Pe. Alonso Rodríguez, Ejercicio de perfección y virtudes cristianas, p. 2ª tr. 4 c. 18.
7) Apud São Tomás de Aquino, Catena Áurea.
8) Idem, ibidem.
9) São Cirilo de Jerusalém, apud São Tomás de Aquino, Catena Áurea.
10) Pe. Juan de Maldonado SI, Comentarios a los cuatro Evangelios, BAC, Madrid, 1951, v. II, pp. 597-598.
11) Idem, ibidem, pp. 597-598.
12) São João Crisóstomo, In Matthaeum hom. 26.
13) Pe. Juan de Maldonado, SI, op. cit. p. 600.
14) Idem, ibidem, p. 603.

15) Isidro Gomá y Tomás, El Evangelio explicado, Ediciones Acervo, Barcelona, 1967, v. II, p. 194.

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