Tríduo Pascal

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Evangelho XXII Domingo do Tempo Comum – Ano C – 2013

 Lc 14, 1.7-14 – Comentário ao Evangelho 22º Domingo do Tempo Comum – Ano C – 2013 
Muito além das normas de cortesia terrena
10 “Mas quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. 11 Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado”.
Bem observa Fillion que, por certo, não quis Jesus dar com esta parábola simplesmente “uma regra de cortesia mundana e de boas maneiras, baseada em motivos egoístas, ou seja, substituir uma vaidade grosseira por um orgulho requintado”.11
Para o Venerável Beda, sob o invólucro da parábola revela-se uma clara admoestação: “Todo aquele que, convidado, venha às bodas de Jesus Cristo e da Igreja, unido pela fé aos membros da Igreja, não se exalte como se fosse superior aos outros, nem se glorie por seus méritos; mas ceda seu lugar àquele que, convidado depois, é mais digno e progrediu mais no fervor dos que seguem a Jesus Cristo, e ocupe com modéstia o último lugar, reconhecendo que os demais são melhores do que ele em tudo quanto se julgava superior”.12
Envoltos, muitas vezes, em linguagem figurada, os ensinamentos do Divino Mestre ultrapassam de longe as meras normas de cortesia terrena, como põe em evidência esse santo monge beneditino: “Porque nem todos os que se exaltam diante dos homens são humilhados, e nem todos os que se humilham em sua presença são por eles exaltados; quem, porém, se extasia por seus méritos, será humilhado pelo Senhor, e quem se humilha por seus benefícios será exaltado por Ele”.13
Quem se humilha, será elevado. O melhor exemplo disso ali estava diante dos fariseus, tratando-os com a suavidade de um cordeiro: Aquele que “sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-Se ainda mais, tornando-Se obediente até a morte, e morte de Cruz. Por isso Deus O exaltou soberanamente e Lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes” (Fl 2, 8-9).
Quem se exalta, será humilhado. Entretanto, aqueles que, ensoberbecidos, disputavam os primeiros lugares e procuravam estender armadilhas a Nosso Senhor, corriam o risco de serem humilhados já nesta vida, ou, pior ainda, na eternidade, pelo justo Juízo de Deus.
Procurar a recompensa no próprio Deus
12 “E disse também a quem O tinha convidado: ‘Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa’”.
Depois de corrigir o orgulho dos fariseus, Nosso Senhor volta-Se para o anfitrião a fim de lhe dar um conselho. Havia este, sem dúvida, convidado apenas aqueles dos quais poderia tirar depois algum proveito. Mesmo o convite a Nosso Senhor teria sido feito, na opinião de Eutimio, com o desejo de apresentar-se como “diferente daqueles fariseus que pareciam querer-Lhe mal”.14 Além do mais, segundo explica o padre Truyols, a presença de Jesus de Nazaré naquela casa prestigiava o anfitrião diante do povo, dado o alto conceito de que gozava então o Divino Mestre.15
Nosso Senhor, entretanto, ensina o dono da casa a não proceder em relação aos outros movido por cálculos pragmáticos e interesseiros. Porque qualquer ação que o homem faça, visando satisfazer apenas seu próprio egoísmo, recebe a recompensa neste mundo, ao obter o aplauso ou a aprovação dos demais, e perde qualquer mérito para a vida eterna.16
Por isso, bem nos aconselha São João Crisóstomo: “Não nos perturbemos, pois, quando não recebermos recompensa pelos nossos benefícios, mas sim quando a recebermos; porque se a recebermos aqui, nada receberemos depois; mas se os homens não nos pagarem, Deus nos pagará”.17
13 “Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14 Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.
Ao incentivar esse chefe dos fariseus a convidar “os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos”, Nosso Senhor o recrimina com toda suavidade por seu egoísmo. Mais do que isso, estabelece o princípio de que, para receber a recompensa no Reino dos Céus, é preciso ser generoso com o próximo nesta terra, sem esperar dele a restituição do benefício feito.18
Praticar o bem visando retribuição, transforma o relacionamento humano em mero negócio regido pelos princípios dos antigos contratos romanos pagãos: “do ut des” (dou para que me dês), ou “do ut facias” (dou para que faças). Com efeito, pergunta o padre Duquesne: “O que é a liberalidade exercida pelos mundanos? Uma liberalidade interesseira: dá-se apenas para receber, dá-se só a quem sabe pagar na mesma moeda. Uma liberalidade costumeira que com frequência leva a murmurar quem a ela se vê obrigado, na qual não entra motivo algum de caridade ou de religião; enfim, uma liberalidade de prazer e ostentação”.19
Pelo contrário, quando fizermos o bem a outro, sem esperar pagamento, o prêmio nos será dado pelo próprio Deus. E Ele nunca Se deixa vencer em generosidade.

Duríssima resultava esta doutrina para aqueles homens materialistas, orgulhosos e oportunistas. Mas tinham diante de si, como exemplo vivo, Aquele que a praticaria até os últimos extremos, ao aceitar como cordeiro os sofrimentos da Paixão e deixar-Se crucificar, sem um lamento, por aquele povo a quem tanto bem fizera e em favor do qual tantos milagres realizara.
Continua.

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