Continuação dos comentários ao Evangelho 22º Domingo do Tempo Comum – Ano C – 2013 – Lc 14, 1.7-14
Humildade e
admiração
Ao criar os homens com o instinto de sociabilidade, desejava
Deus que eles se apoiassem mutuamente na prática do bem, tornando o convívio
social uma contínua fonte de afervoramento espiritual. Assim, numa sociedade
toda voltada para a prática da virtude, os inferiores admirariam e venerariam
os seus superiores e estes lhes retribuiriam com afeto e ternura. Reinaria
entre todos a união, a harmonia e a paz.
Ora, o pecado original introduziu no homem uma virulenta
tendência à soberba, a qual está na raiz de todos os pecados. Quando essa
inclinação não é combatida, o relacionamento entre os homens decai ao nível de
uma feira de vaidades e de egoísmos, verdadeira cascata de desprezos, como a
que vemos retratada no banquete descrito no Evangelho.
Sutil forma
de orgulho
Para bem entendermos em que consiste a prática da virtude da
humildade, aqui recomendada por Nosso Senhor, são necessários alguns
esclarecimentos, pois não é raro encontrar pessoas que, em nome de uma
despretensão mal entendida, tornam-se medíocres, não fazendo render os talentos
recebidos de Deus.
A humildade consiste em “andar em verdade”,20 escreveu Santa
Teresa de Jesus. Ora, “andamos em verdade” quando nos submetemos a Deus com
espírito de religião, somos-Lhe gratos, reconhecendo a nossa total dependência
do Criador e compreendendo que tudo quanto temos de bom foi-nos dado por Ele.
Pois se de um lado, infelizmente, há em nós defeitos culposos ou meras
limitações da natureza, de outro lado, por certo a Divina Providência a ninguém
deixou desprovido de qualidades e dons, ora maiores, ora menores.
A propósito, ensina-nos São Tomás não haver oposição entre a
humildade e a magnanimidade: “A humildade reprime o apetite, para que ele não
busque grandezas além da reta razão, ao passo que a magnanimidade o estimula
para o que é grande, segundo a reta razão. Fica claro, portanto, que a
magnanimidade não se opõe à humildade, mas, ao contrário, ambas coincidem em
que agem segundo a reta razão”.21 São virtudes complementares.
Não caiamos, portanto, numa sutil forma de orgulho que se
traduz em apresentar-se como o último dos homens, um ser incapaz de realizar
qualquer ação de valor... São Tomás afirma que isso constitui falsa humildade,
cognominada por Santo Agostinho de “grande soberba”, porque, na verdade, com
esse tipo de fingimento, a pessoa pretende obter uma glória superior.22 Além
disso, é também ingratidão em relação aos dons recebidos de Deus. Pelo
contrário, aceitemos com mansidão e ânimo aquilo que realmente somos, analisemo-nos
com toda objetividade e não nos revoltemos perante eventuais adversidades ou
mesmo injustiças, mas saibamos utilizá-las como meio de reparar nossas próprias
faltas.
Conclusão no próximo post
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