Conclusão dos comentários ao Evangelho XXVIII Domingo do Tempo
Comum Ano C – 2013 – Lc
17, 11-19
A cena repete-se ao longo da
História
O milagre operado por Nosso Senhor ao curar os dez
leprosos, Ele o continua a realizar a todo instante em favor de
qualquer pecador que, arrependido, venha a suplicar o seu perdão.
Ele exige apenas que seja obedecida a mesma recomendação dada aos
leprosos: apresentar-se ao sacerdote. Esta prescrição legal não
era senão uma pré-figura da absolvição sacramental, instituída
por Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual nossas almas são
purificadas da lepra do pecado.
O Evangelho de hoje sugere-nos uma atualíssima
aplicação. Não temos lepra física, porém, nem sempre podemos
dizer que estamos isentos da lepra espiritual. E em quantas ocasiões
fomos mais beneficiados que os dez leprosos… É preciso, pois, não
agir como os nove ingratos, mas imitar o exemplo do samaritano:
voltar para agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo por nos ter curado
tantas vezes da lepra interior, a começar pela maldição do pecado
original, também por Ele abolida.
A prática da verdadeira
gratidão
No entanto, quão rara é a virtude da gratidão! Muitas
vezes ela se pratica apenas por educação e meras palavras. Todavia,
para ser autêntica, é preciso que ela transborde do coração com
sinceridade. É lamentável, afirma o Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira, que “a virtude da gratidão seja entendida hoje de um
modo contábil. De maneira que, se alguém me faz um benefício, eu
devo responder, contabilisticamente, com uma porção de gratidão
igual ao benefício recebido. Há, portanto, uma espécie de
pagamento: favor se paga mediante afeto, bem como mercadoria se paga
mediante dinheiro. Então, eu recebi um favor e tenho de arrancar de
dentro de minha alma um sentimento de gratidão. Também fico pago,
tenho um alívio, estou quite”.9 Essa é uma forma pagã,
materialista, de conceber a gratidão. Bem diferente é essa virtude
quando impregnada de espírito católico.
“A gratidão é, em primeiro lugar, o reconhecimento
do valor do benefício recebido. Em segundo lugar, é o
reconhecimento de que nós não merecemos aquele benefício. E, em
terceiro lugar, é o desejo de dedicar-nos a quem nos fez o serviço
na proporção do serviço prestado e, mais ainda, da dedicação
demonstrada com relação a nós. Como dizia Santa Teresinha, ‘amor
só com amor se paga’. Ou a pessoa paga dedicação com dedicação
ou não pagou. […] Dentro dessa perspectiva, a gratidão de nossas
almas ao benefício que Nossa Senhora nos fez, consentindo na morte
de seu Divino Filho e aceitando as dores que sofreu para que fôssemos
resgatados, […] deve ser imensa e deve nos levar a querer servi-La
com uma dedicação análoga”.10
Ora, além de dar-nos a vida humana, Deus nos concede o
inestimável tesouro da participação na sua vida divina pelo
Batismo e, mais ainda, nos dá constantemente a possibilidade de
recuperar esse estado quando perdido pelo pecado, bastando para isso
o nosso arrependimento e a Confissão sacramental. Sobretudo dá-Se a
Si mesmo em Corpo, Sangue, Alma e Divindade como alimento espiritual
para nos transformarmos n’Ele, santificando-nos de maneira a nos
garantir uma ressurreição gloriosa e a eternidade feliz. Ele nos
deixou sua Mãe como Medianeira, para cuidar do gênero humano com
todo carinho e desvelo. Os benefícios que Deus nos outorga são,
assim, incomensuráveis! Qual não deve ser, pois, nossa gratidão em
relação a Nosso Senhor e a sua Mãe Santíssima? Abraçar com
entusiasmo e abnegação a santidade e batalhar com sempre crescente
dedicação pela expansão da glória de Deus e da Virgem Puríssima
na Terra, eis o melhor meio de corresponder ao infinito amor do
Sagrado Coração de Jesus, que se derrama sobre nós às torrentes,
do nascer do Sol até o seu ocaso.
1 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma
Teológica. I, q.90, a.3; a.4, ad 1.
2 COLUNGA, OP, Alberto; GARCÍA
CORDERO, OP, Maximiliano. Biblia Comentada. Pentateuco. Madrid: BAC,
1960, v.I, p.688.
3 Cf. LAGRANGE, OP, Marie-Joseph.
Évangile selon Saint Marc. 5.ed. Paris: J. Gabalda, 1929, p.29.
4 COLUNGA; GARCÍA CORDERO, op.
cit., p.685.
5 Cf. SANTO AGOSTINHO. De
Civitate Dei. L.XIV, c.11, n.1 In: Obras. Madrid: BAC, 1958,
v.XVI-XVII, p.951.
6 MALDONADO, SJ, Juan de.
Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San
Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II, p.728.
7 SÃO TOMÁS DE AQUINO, op.
cit., II-II, q.107, a.2.
8 TITO BOSTRENSE, apud SÃO TOMÁS
DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.XVII, v.11-19.
9 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio.
Palestra. São Paulo, 1 jun. 1974.
10 Idem, 27 dez. 1974.
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