Evangelho
Lc 21, 5-19
“Naquele
tempo, 5 algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era
enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas. Jesus disse: 6 ‘Vós
admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre
pedra. Tudo será destruído’. 7 Mas eles perguntaram: ‘Mestre,
quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas
estão para acontecer?’. 8
Jesus
respondeu: ‘Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão
em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’; e ainda: ‘O tempo está
próximo’. Não sigais essa gente! 9
Quando
ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É
preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o
fim’. 10
E
Jesus continuou: ‘Um povo se levantará contra outro povo, um país
atacará outro país. 11 Haverá grandes terremotos, fomes e pestes
em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais
serão vistos no céu. 12 Antes, porém, que estas coisas aconteçam,
sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos
na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do
meu nome. 13 Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé.
14 Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a
própria defesa; 15 porque Eu vos darei palavras tão acertadas, que
nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. 16 Sereis
entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e
amigos. E eles matarão alguns de vós. 17 Todos vos odiarão por
causa do meu nome. 18 Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da
vossa cabeça. 19 É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!’”
(Lc 21, 5-19).
Comentário ao Evangelho – XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Ao
longo de sua bimilenar História, a Igreja caminhou sempre sob o
signo da perseguição. Entretanto, a cada investida das forças
adversárias, brilha ela com maior esplendor.
O
Sinal dos verdadeiros discípulos
Conta-se
que São Pio X, durante audiência aos membros de um dos colégios
eclesiásticos romanos, perguntou aos jovens estudantes:
–– Quais
são as notas distintivas da verdadeira Igreja de Cristo?
— São
quatro, Santo Padre: Una, Santa, Católica e Apostólica —
respondeu um deles.
–– Não
há mais de quatro? — indagou o Papa.
–– Ela
é também Romana: Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana.
–– Exatamente,
mas não falta mencionar ainda uma característica das mais
evidentes? –– insistiu o Pontífice.
Após
um instante de silêncio, ele próprio respondeu:
— Ela
é também perseguida! Esse é o sinal de sermos verdadeiros
discípulos de Jesus Cristo.
Ódio
contra Cristo e sua Igreja
A
Igreja é perseguida. De fato, sem essa nota não se entende bem a
história da Esposa de Cristo, que já começa sob esse signo na mais
tenra infância do seu Divino Fundador. Que mal poderia fazer a
Herodes aquele Menino, filho de carpinteiro, nascido numa gruta e
deitado numa manjedoura? Nenhum. Mas na ímpia tentativa de tirar-Lhe
a vida, o tetrarca não hesitou em mandar assassinar crianças
inocentes.
Ao
longo da vida pública de Jesus, o ódio contra Ele não fez senão
crescer, e chegou ao paroxismo quando os fariseus tomaram a decisão
de matá-Lo e obtiveram de Pilatos a iníqua sentença de condenação.
De tal forma detestavam o Divino Mestre, que não toleravam sequer
vê-Lo fazer o bem, ou ensinar a doutrina da Salvação.
Nessa
mesma inimizade encontra-se a fonte das investidas sofridas pela
Igreja após a subida de Nosso Senhor ao Céu. Assim, foi movido por
ódio furibundo contra os cristãos que Nero deu início, no ano 64,
à sangrenta perseguição que haveria de durar, com intermitências,
até 313, quando o Imperador Constantino concedeu liberdade à
Igreja, pelo Edito de Milão.1
E ao
longo dos séculos subsequentes, a Esposa de Cristo nunca deixou de
enfrentar os mais variados ataques — por vezes cruentos — e
incessantes oposições, ora abertas, ora solapadas. Mesmo em nossos
dias, este ódio contra aqueles que praticam o bem não deixa de se
manifestar em seus múltiplos aspectos.
Os
maus não suportam os bons
“Se
o mundo vos aborrece, sabei que aborreceu primeiro a Mim. Lembrai-vos
da palavra que Eu vos disse: ‘O servo não é maior que seu
Senhor’. Se Me perseguiram a Mim, também a vós vos perseguirão”
(Jo 15, 18.20). Por estas palavras de Jesus, vemos serem a
adversidade e a incompreensão inerentes à existência terrena do
verdadeiro fiel, pela irreversível incompatibilidade entre a
doutrina do mundo e a de Cristo. Pois, desde o tempo dos nossos
primeiros pais, há entre a bendita posteridade de Maria Santíssima
e a raça da serpente maldita o irreconciliável antagonismo descrito
pelo Gênesis: “Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o
calcanhar” (Gn 3, 15).
Os
maus não suportam os bons, e para estes, o ódio daqueles indica
eleição por parte de Deus, conforme se depreende destas palavras de
São Jerônimo a Santo Agostinho: “Sois celebrado por todo o mundo.
Os católicos veneram e reconhecem em vós o restaurador da antiga
Fé, e — o que é sinal de glória ainda maior — todos os hereges
vos detestam e perseguem com o mesmo ódio que a mim, anelando
matar-nos com o desejo, já que não podem fazê-lo com as armas”.2
É
na fidelidade dos justos diante das perseguições que reluz de modo
especial a glória de Deus.
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do fim do mundo
A
liturgia escolhida pela Igreja para este penúltimo Domingo do Tempo
Comum significa praticamente o término do Ano Litúrgico C, uma vez
que antecede à Solenidade de Cristo Rei. A perspectiva do fim do
mundo e do Juízo Final é muito acentuada nos textos, e convida-nos
a considerar com mais atenção a justiça, contraponto indispensável
da bondade e da misericórdia divinas.
“Naquele
tempo, 5 algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era
enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas”.
Após
acerba discussão com os escribas e fariseus, ocorrida justamente no
recinto do Templo (cf. Lc 20, 45-47; Mt 23, 13-36; Mc 12, 38-40),
dirigia-Se Jesus ao Monte das Oliveiras. No caminho, os discípulos
manifestavam seu encanto com a beleza daquela “construção de
imensa opulência”, no dizer de Tácito,3 rica em simbologias que
elevavam a mente para Deus, como convém a todo edifício religioso.
Ponto
de referência máximo do povo judeu, para o Templo se voltavam os
corações dos israelitas do mundo inteiro. Extraordinária era sua
história, desde o momento em que, erigido por Salomão, uma densa e
miraculosa nuvem dele tomara conta: ali ofereciam-se os verdadeiros
sacrifícios, eram recebidas insignes graças e os devotos entravam
num contato mais intenso com o sobrenatural. Embelezar o Templo era,
então, realçar ainda mais o seu significado espiritual.
Entretanto,
a julgar pelas palavras ditas a seguir por Nosso Senhor, tudo indica
que estavam eles contemplando a Casa de Deus com uma visualização
meramente naturalista.
Admiravam
o Templo, mas não adoravam Quem o habitava
“Jesus
disse: 6 ‘Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não
ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído’”.
Os
Apóstolos tinham diante de si Alguém que valia muito mais do que o
Templo: o Criador, o Redentor, a Sabedoria eterna e encarnada. Ao
contemplarem com olhos mundanos aquele prédio, manifestavam-se cegos
para Deus, porque detinham-se na admiração da criatura sem se
elevar até o Criador; compreendiam o símbolo, mas não o
Simbolizado. Esta é a razão da contundente advertência de Nosso
Senhor.
Pelas
mãos de Maria, fora o Menino Jesus apresentado no Templo. Suas
muralhas testemunharam as pregações e os inúmeros milagres de
Jesus, mas as pedras vivas que o compunham — os sacerdotes e os
fiéis — não aceitaram o Messias: “Ele veio para os seus e os
seus não O receberam” (Jo 1, 11). Eis por que caiu sobre tão
faustoso edifício a terrível condenação: “Dias virão em que
não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”.
E
essa dura profecia tardaria menos de quarenta anos em realizar-se do
modo mais radical possível. “Permitiu a Divina Providência a
destruição de toda a cidade e do Templo para que nenhum daqueles
que ainda estavam débeis na fé — admirado por subsistirem ainda
os ritos de seus sacrifícios — fosse seduzido por suas diversas
cerimônias”, comenta São Beda.4
Continua
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