Tríduo Pascal

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Evangelho XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano C 2013 - Lc 21, 5-19

Evangelho Lc 21, 5-19
Naquele tempo, 5 algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas. Jesus disse: 6 ‘Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído’. 7 Mas eles perguntaram: ‘Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?’. 8
Jesus respondeu: ‘Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’; e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! 9
Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim’. 10
E Jesus continuou: ‘Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. 11 Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu. 12 Antes, porém, que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. 13 Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé. 14 Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa; 15 porque Eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. 16 Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós. 17 Todos vos odiarão por causa do meu nome. 18 Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. 19 É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!’” (Lc 21, 5-19).

Comentário ao Evangelho – XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013                                                                           

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Ao longo de sua bimilenar História, a Igreja caminhou sempre sob o signo da perseguição. Entretanto, a cada investida das forças adversárias, brilha ela com maior esplendor.
O Sinal dos verdadeiros discípulos
Conta-se que São Pio X, durante audiência aos membros de um dos colégios eclesiásticos romanos, perguntou aos jovens estudantes:
–– Quais são as notas distintivas da verdadeira Igreja de Cristo?
São quatro, Santo Padre: Una, Santa, Católica e Apostólica — respondeu um deles.
–– Não há mais de quatro? — indagou o Papa.
–– Ela é também Romana: Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana.
–– Exatamente, mas não falta mencionar ainda uma característica das mais evidentes? –– insistiu o Pontífice.
Após um instante de silêncio, ele próprio respondeu:
Ela é também perseguida! Esse é o sinal de sermos verdadeiros discípulos de Jesus Cristo.
Ódio contra Cristo e sua Igreja
A Igreja é perseguida. De fato, sem essa nota não se entende bem a história da Esposa de Cristo, que já começa sob esse signo na mais tenra infância do seu Divino Fundador. Que mal poderia fazer a Herodes aquele Menino, filho de carpinteiro, nascido numa gruta e deitado numa manjedoura? Nenhum. Mas na ímpia tentativa de tirar-Lhe a vida, o tetrarca não hesitou em mandar assassinar crianças inocentes.
Ao longo da vida pública de Jesus, o ódio contra Ele não fez senão crescer, e chegou ao paroxismo quando os fariseus tomaram a decisão de matá-Lo e obtiveram de Pilatos a iníqua sentença de condenação. De tal forma detestavam o Divino Mestre, que não toleravam sequer vê-Lo fazer o bem, ou ensinar a doutrina da Salvação.
Nessa mesma inimizade encontra-se a fonte das investidas sofridas pela Igreja após a subida de Nosso Senhor ao Céu. Assim, foi movido por ódio furibundo contra os cristãos que Nero deu início, no ano 64, à sangrenta perseguição que haveria de durar, com intermitências, até 313, quando o Imperador Constantino concedeu liberdade à Igreja, pelo Edito de Milão.1
E ao longo dos séculos subsequentes, a Esposa de Cristo nunca deixou de enfrentar os mais variados ataques — por vezes cruentos — e incessantes oposições, ora abertas, ora solapadas. Mesmo em nossos dias, este ódio contra aqueles que praticam o bem não deixa de se manifestar em seus múltiplos aspectos.
Os maus não suportam os bons
Se o mundo vos aborrece, sabei que aborreceu primeiro a Mim. Lembrai-vos da palavra que Eu vos disse: ‘O servo não é maior que seu Senhor’. Se Me perseguiram a Mim, também a vós vos perseguirão” (Jo 15, 18.20). Por estas palavras de Jesus, vemos serem a adversidade e a incompreensão inerentes à existência terrena do verdadeiro fiel, pela irreversível incompatibilidade entre a doutrina do mundo e a de Cristo. Pois, desde o tempo dos nossos primeiros pais, há entre a bendita posteridade de Maria Santíssima e a raça da serpente maldita o irreconciliável antagonismo descrito pelo Gênesis: “Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 15).
Os maus não suportam os bons, e para estes, o ódio daqueles indica eleição por parte de Deus, conforme se depreende destas palavras de São Jerônimo a Santo Agostinho: “Sois celebrado por todo o mundo. Os católicos veneram e reconhecem em vós o restaurador da antiga Fé, e — o que é sinal de glória ainda maior — todos os hereges vos detestam e perseguem com o mesmo ódio que a mim, anelando matar-nos com o desejo, já que não podem fazê-lo com as armas”.2
É na fidelidade dos justos diante das perseguições que reluz de modo especial a glória de Deus.
Anúncio do fim do mundo
A liturgia escolhida pela Igreja para este penúltimo Domingo do Tempo Comum significa praticamente o término do Ano Litúrgico C, uma vez que antecede à Solenidade de Cristo Rei. A perspectiva do fim do mundo e do Juízo Final é muito acentuada nos textos, e convida-nos a considerar com mais atenção a justiça, contraponto indispensável da bondade e da misericórdia divinas.
Naquele tempo, 5 algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas”.
Após acerba discussão com os escribas e fariseus, ocorrida justamente no recinto do Templo (cf. Lc 20, 45-47; Mt 23, 13-36; Mc 12, 38-40), dirigia-Se Jesus ao Monte das Oliveiras. No caminho, os discípulos manifestavam seu encanto com a beleza daquela “construção de imensa opulência”, no dizer de Tácito,3 rica em simbologias que elevavam a mente para Deus, como convém a todo edifício religioso.
Ponto de referência máximo do povo judeu, para o Templo se voltavam os corações dos israelitas do mundo inteiro. Extraordinária era sua história, desde o momento em que, erigido por Salomão, uma densa e miraculosa nuvem dele tomara conta: ali ofereciam-se os verdadeiros sacrifícios, eram recebidas insignes graças e os devotos entravam num contato mais intenso com o sobrenatural. Embelezar o Templo era, então, realçar ainda mais o seu significado espiritual.
Entretanto, a julgar pelas palavras ditas a seguir por Nosso Senhor, tudo indica que estavam eles contemplando a Casa de Deus com uma visualização meramente naturalista.
Admiravam o Templo, mas não adoravam Quem o habitava
Jesus disse: 6 ‘Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído’”.
Os Apóstolos tinham diante de si Alguém que valia muito mais do que o Templo: o Criador, o Redentor, a Sabedoria eterna e encarnada. Ao contemplarem com olhos mundanos aquele prédio, manifestavam-se cegos para Deus, porque detinham-se na admiração da criatura sem se elevar até o Criador; compreendiam o símbolo, mas não o Simbolizado. Esta é a razão da contundente advertência de Nosso Senhor.
Pelas mãos de Maria, fora o Menino Jesus apresentado no Templo. Suas muralhas testemunharam as pregações e os inúmeros milagres de Jesus, mas as pedras vivas que o compunham — os sacerdotes e os fiéis — não aceitaram o Messias: “Ele veio para os seus e os seus não O receberam” (Jo 1, 11). Eis por que caiu sobre tão faustoso edifício a terrível condenação: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”.
E essa dura profecia tardaria menos de quarenta anos em realizar-se do modo mais radical possível. “Permitiu a Divina Providência a destruição de toda a cidade e do Templo para que nenhum daqueles que ainda estavam débeis na fé — admirado por subsistirem ainda os ritos de seus sacrifícios — fosse seduzido por suas diversas cerimônias”, comenta São Beda.4
Continua 


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