Tríduo Pascal

sábado, 1 de junho de 2013

EVANGELHO X DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C - 2013

EVANGELHO – 10º DOMINGO DO TEMPO COMUM Ano C 2013  Lc 7, 11-17


“Naquele tempo, 11 Jesus dirigiu-Se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão.
12 Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava. 13 Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chore!’. 14 Aproximou-Se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse: ‘Jovem, eu te ordeno, levanta-te!’. 15 O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. 16 Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: ‘Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo’.
17 E a notícia do fato espalhou-se pela Judeia inteira e por toda a redondeza” (Lc 7, 11-17).
COMENTÁRIO AO EVANGELHO – 10º DOMINGO DO TEMPO COMUM Lc 7, 11-17
O CHOQUE DAS GRANDES CONVERSÕES
Na História da Igreja é frequente encontrarmos situações nas quais um apóstolo, inspirado por Deus, deseja a conversão de alguma alma afastada da Religião. Entretanto, muitas vezes seu ardor se vê coarctado pela negativa de quem é objeto de seu zelo. Todos os esforços se revelam inúteis, pois a argumentação não logra dobrar uma vontade obstinada.
Afonso Ratisbonne, por exemplo, era um israelita de raça e religião, profundamente enraizado em suas tradições. Seu amigo, o Barão de Bussières, movido por uma moção interior da graça, usou dos mais convincentes recursos da apologética para tentar convertê-lo à Igreja Católica, sem obter sucesso. Aferrado às próprias convicções e mais preocupado em gozar das delícias da vida que o futuro lhe oferecia, Afonso aceitou apenas levar ao pescoço uma medalha de Nossa Senhora das Graças, com a promessa, a contragosto, de recitar todos os dias o Memorare — o “Lembrai-Vos”, a conhecida oração de São Bernardo. “Eu não podia me dar conta” — narraria mais tarde o Barão de Bussières — “da força interior que me impelia, a qual, a despeito de todos os obstáculos e da obstinada indiferença oposta por ele a meus esforços, dava-me uma convicção íntima, inexplicável de que, cedo ou tarde, Deus lhe abriria os olhos”.1
Alguns dias depois, ambos entraram na igreja de Sant’Andrea delle Fratte, em Roma. O Barão dirigiu-se à sacristia, para tratar de um assunto, enquanto o jovem Afonso permaneceu só na igreja, analisando as obras de arte ali existentes. De repente, em um altar lateral, apareceu-lhe a Santíssima Virgem, tal como na medalha, e sem nada dizer operou instantaneamente sua conversão radical: “Ela não me falou, mas eu compreendi tudo!”, 2 exclamava ele, depois, com verdadeiros arroubos de entusiasmo. Com efeito, a fé católica fora-lhe implantada no coração de modo inexplicável; o jovem israelita passou a falar dos mistérios e dos dogmas da Religião como se os conhecesse e os amasse desde sempre. Bastara apenas um olhar de Maria para transformar sua alma!
A ação da graça eficaz
Não nos iludamos, portanto, ao constatar a conversão de uma alma, julgando que ela se deveu à argumentação racional feita por quem se propunha atraí-la, ou a uma exposição teológica que, entremeada de exemplos adequados e desenvolvidos de forma brilhante, arrebatou o ouvinte, levando-o a uma mudança de vida. Se a iniciativa de conceder uma graça eficaz — isto é, aquela que produz seu efeito sempre, de modo infalível — não partir de Deus, podem ser empregados todos os recursos da inteligência humana, as demonstrações mais convincentes ou os silogismos mais irrefutáveis, que não se logrará mover a alma nem um passo sequer na direção do bem. O eminente teólogo dominicano, padre Antonio Royo Marín, explica que, “sem a graça atual ou auxílio sobrenatural de Deus, a alma em graça e, ainda com maior razão, o pobre pecador, não podem fazer absolutamente nada na ordem sobrenatural. O pecador não pode arrepender-se de maneira suficiente para recuperar a graça se Deus não lhe concede previamente a graça atual do arrependimento”.3
De fato, a ação de Deus sobre as almas é muito variada. Não depende ela da lucidez, da lógica ou da capacidade oratória do apóstolo, não depende dos méritos deste, nem de quem a recebe, não depende sequer, como condição absoluta, das orações que outros façam intercedendo por elas, embora a prece em favor do próximo possua grande audiência diante de Deus. A conversão, portanto, obedece a uma iniciativa de Deus, conforme ensina São Tomás: “Que o homem se converta a Deus não pode ocorrer senão sob o impulso do próprio Deus que o converte. [...] A conversão do homem a Deus é, certamente, obra do livre-arbítrio. Por isso, precisamente, manda-lhe que se converta. Mas o livre-arbítrio não pode voltar-se a Deus, se o próprio Deus não o converte a si”.4
Tal impulso divino, que com frequência incide “não só [sobre os] que carecem totalmente de bons méritos, como também [sobre aqueles cujos] méritos maus vão adiante”,5 é-nos ilustrado de forma cogente no Evangelho proposto na Liturgia do 10º Domingo do Tempo Comum.
A COMPASSIVA INICIATIVA DE NOSSO SENHOR
“Naquele tempo, 11 Jesus dirigiu-Se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão”.
Naim era uma pequena cidade da Galileia, situada sobre uma elevação, na encosta do Pequeno Hermon, a doze quilômetros de distância de Nazaré e a 38 quilômetros de Cafarnaum. Seu nome — que significa “a graciosa” — provinha do belo panorama descortinado à sua frente, compreendendo a fértil planície de Esdrelon, as montanhas de Nazaré e o imponente monte Tabor. Como a maioria das cidades da Palestina naquela época, possuía muralhas de defesa para evitar saques e invasões. O acesso ao casario se fazia por uma estrada ascensional que conduzia até a porta da cidade, provavelmente estreita, dificultando a entrada e a saída, em caso de se formarem grandes aglomerações de pessoas.
O providencial encontro de duas multidões
12 “Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava”.
Diante desse quadro, podemos imaginar o impacto causado pela chegada de Nosso Senhor, que subia à cidade seguido de uma grande multidão, ao encontrar-Se com outra comitiva numerosa, constituída pelos habitantes, que descia pela estrada levando para enterrar o filho único de uma viúva.7 Segundo a praxe judaica, quem cruzasse com um cortejo fúnebre deveria parar e acompanhá-lo.8 Jesus, amante e cumpridor das leis, deteve-Se diante do defunto e, devido à estreiteza do caminho, quiçá tenha até mesmo se colocado de lado para permitir a passagem do féretro.
Naqueles tempos, a morte de um filho único constituía para uma viúva a desaparição de seu esteio. A partir desse momento, ela e suas possíveis propriedades ficavam à mercê da rapina geral — abuso denunciado por Jesus mais adiante, em sua censura aos escribas (cf. Lc 20, 47; Mc 12, 40). Com efeito, não faltava quem se regozijasse em tais circunstâncias, porque das viúvas podiam arrancar tudo quanto elas possuíam, sem oposição de ninguém, como aponta São João Crisóstomo: “E o pior era que não enchiam seus ventres dos bens dos ricos, mas da miséria das viúvas, agravando uma pobreza que deveriam socorrer”.9 Situação semelhante nos é apontada pelo próprio Cristo na parábola do juiz iníquo (cf. Lc 18, 1-8), revelando esse crime que não era estranho aos ouvidos do tempo.
Nosso Senhor toma a iniciativa sem prévio pedido
13 “Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chore!’”.
Na maior parte dos milagres realizados pelo Divino Mestre — como, por exemplo, o do servo do centurião, contemplado na Liturgia do domingo anterior —, a iniciativa partia do necessitado que, cheio de fé, pedia auxílio, sendo atendido por Nosso Senhor.
Neste caso, pelo contrário, algo diferente aconteceu: o próprio Jesus toma a iniciativa. Ele, enquanto Deus, considerara aquela família desde toda a eternidade e, através do conhecimento de sua alma humana na visão beatífica, conhecia-a também perfeitamente, bem como a difícil conjuntura em que se encontrava. Contudo, seus olhos materiais e sua ciência experimental só nesse momento a constataram.
A cena de uma mãe desolada, atingida pela perda de quem era seu apoio e sustento, ficando sozinha no mundo, era por demais comovedora. “Sobre aquela cabeça querida, ela havia reunido todos os afetos e todas as esperanças de seu coração. Ela o educava como uma viúva sabe educar um filho único. Podemos afirmar: sua alma e sua vida gravitavam em torno dessa existência. E eis que, de repente, se rompe o fio ao qual estava suspensa a única felicidade que ela podia experimentar sobre a Terra. Eis que a morte arranca aos abraços desesperados de sua mãe o menino amadurecido, no momento em que ele aparecia como uma força e como uma proteção”.10
Por isso, tomou-Se Jesus de dor e compaixão para com a pobre senhora e, dirigindo-Se primeiramente a ela, disse-lhe: “Não chore”. Sem dúvida, tais palavras devem ter tranquilizado o espírito aflito dela, pois o Divino Mestre as fez acompanhar de especiais graças de consolação. A esse propósito, comenta Maldonado: “Devemos crer que Cristo disse essa palavra de consolo de maneira muito diferente do que haviam feito as outras pessoas. Pois não há dúvida de que palavras iguais ou semelhantes lhe diriam todos. Quem há que não diga ‘Não chore’ ao que se lamenta? Mas os outros o diriam de modo humano e com razões humanas. [...] Cristo, pelo contrário, consola-a de maneira que, ou com outras palavras omitidas pelo Evangelista, ou com o tom de voz com o qual disse estas mesmas palavras, deixa-lhe entrever, de alguma forma, a esperança de que seu filho ressuscitaria”. 11 Essa primeira atitude de Nosso Senhor já deve ter causado assombro nos circunstantes, pois manifestava uma compaixão como ninguém tinha na época.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Evangelho 9º Domingo do Tempo Comum — Lc 7, 1-10 — Ano C 2013

Continuação dos comentários ao Evangelho  9º Domingo do Tempo Comum  Lc 7, 1-10 — Ano C 2013
Um milagre, tal como foi pedido
10 Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde.
Santo Ambrósio vê no empregado outro simbolismo do caráter universal da salvação: “No sentido místico, o servo do centurião representa o povo das nações que, retido pelas correntes da escravidão do mundo e enfermo de paixões mortais, devia ser curado pela graça do Senhor”.’7
Este último versículo traz um singular pormenor, próprio aos conhecimentos médicos de São Lucas. Ás vezes, através da oração e do oferecimento de sacrifícios, os sacerdotes do Templo obtinham a recuperação da saúde dos enfermos; porém não conseguiam livrá-los de todas as sequelas da doença. Por tal razão, o Evangelista teve o cuidado de registrar que o empregado ficou totalmente são — “em perfeita saúde” —, sem nenhum vestígio da moléstia, sinal in confundível das curas operadas pelo Divino Médico.
A oração do centurião estava atendida: O Senhor não foi à sua casa, mas a cura do Senhor sim; o Salvador não visitou o enfermo, mas a cura do Senhor o visitou”,18 conclui São Máximo de Turim.
O que havia determinado a realização do pedido? A benevolência pelo próximo, a generosidade, a retidão ou quiçá a humildade, virtudes das quais o centurião deu provas tão robustas? Todos esses fatores foram importantes, apesar de não terem sido essenciais. O elemento indispensável — a fé — foi o único elogiado pelo Mestre: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé!”.
APESAR DE INDIGNOS, JESUS VEM A NÓS
O exemplo do centurião põe em relevo algo simples, cuja imensa eficácia muitas vezes passa despercebida aos nossos olhos: a oração cheia de fé. Sua força impetratória é tal que nos faz participar da própria onipotência divina, como afirma Jesus: “Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o recebereis” (Mt 21, 22).
Portanto, devemos nos compenetrar da necessidade de nos dirigirmos a Nosso Senhor em nossas dificuldades — tanto espirituais, quanto temporais —, com a certeza de que nossa fé moverá sua infinita misericórdia a nos atender. E assim como a gentilidade não foi motivo para o centurião recear ser ouvido por Cristo, nossa confiança em sua ação deve passar por cima das nossas próprias insuficiências, certos de que diante d’Ele não é preciso merecer, mas apenas pedir com fé.
Imortalizada pelo Evangelho e recolhida pela Liturgia da Igreja a fim de predispor convenientemente todos aqueles que vão receber a comunhão eucarística, a prece do centurião atravessou os séculos como modelo de perfeita atitude de alma de um fiel, ao encontrar-se diante do Salvador: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”. Entretanto, há uma substancial diferença entre a oração dirigida a Jesus em Cafarnaum e a que se eleva a Ele em todos os recantos do mundo, junto ao altar: nos lábios do centurião, expressava o desejo de uma alma que, crendo de modo extraordinário no poder d’Ele e julgando-se indigna de recebê-Lo, pedia-Lhe que não fosse à sua casa, curando seu servo à distância. Ao brotar de nosso coração católico, a mesma súplica também confessa a indignidade de receber a Cristo; não obstante, implora, ao mesmo tempo, que Ele venha à nossa alma e, nessa visita, nos diga uma palavra interior que cure nossas misérias e nos restaure inteiramente.
Se Ele, sem ter entrado na casa do oficial, atendeu àquele pedido confiante, que milagres seu Sagrado Coração não anseia fazer por nós, ao vir à nossa alma na Eucaristia? Para tal, Ele nos pede apenas que confiemos de modo incondicional em sua onipotência, cujos efeitos tanto mais se manifestarão em nós quanto maior for nossa fé.

1)Cf. SAO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.43, a.4.
2) Idem, a.2.
3) Embora na tradução litúrgica conste “empregado”, o original grego fala em δούγος (douloj), isto é, escravo
4) FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Vida pública. Madrid: Rialp, 2000, v.11, p.127.
5) FILLION, Louis-Claude. Los milagros de Jesucristo. Barcelona/México: Circulo Latino, 2005, p.294.

6) SANTO AMBROSIO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.VII, v.1-10.
7) STÖGER, Alois. El Nuevo Testamento y su mensaje. El Evangelio según San Lucas. Barcelona: Herder, 1970, v.111-i, p.200.
8) FLAVIO JOSEFO. História dos Hebreus. Contra Apio. L.II, c.9.
9) FILLION, Los milagros de Jesucristo, op. cit., p.295.
10) SANTO AGOSTINHO. Enarratio in psalmum XLVI, n.12. In: Obras. Madrid: BAC, 1965, v.XX, p.134.
11) FILLION, Los milagros de Jesucristo, op. cit., p.296.
12) SANTO AGOSTINHO, op. cit., p.134.
13) CANTALAMESSA, OFMCap, Raniero. Echad las redes. Reflexiones sobre los Evangelios. Ciclo C. Valencia: Edicep, 2003, p.220,
14) GOMA Y TOMAS, Isidro. El Evangelio esplicado. Introducción, Infancia y vida oculta de Jesús. Preparación de su ministerio público. Barcelona: Acervo, 1966, v.1, p.5_50. -
15) SAO BEDA, apud SAO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea, op. cit.
16) CANTALAMESSA, op. cit., p.219.
17) SANTO AMBROSIO, apud SAO TOMAS DE AQUINO, Catena Aurea, op. cit.
18) SÃO MÁXIMO DE TURIM. Sermón, 87,3, apud ODEN, Thomas C.; JUST, Arthur A. La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia. Evangelio según San Lucas. Madrid: Ciudad Nueva, 2006, v.111, p.178.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Evangelho 9º Domingo do Tempo Comum — Lc 7, 1-10 — Ano C 2013

Continuação dos comentários ao Evangelho  9º Domingo do Tempo Comum  Lc 7, 1-10 — Ano C 2013
Uma oração simples, mas cheia de fé
7b “Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: Vem!’, ele vem; e ao meu empregado ‘Faze isto!’, e ele o faz”.
Por sua formação militar, o centurião apreciava muito a hierarquia. Por isso, “primeiro recorda que está subordinado e depois que tem outros abaixo de si”,’° pondera Santo Agostinho. Novamente o oficial mostra ter uma clara noção de seu pouco valor pessoal, como também do valor dos outros, consciente de que diante de autoridades superiores qualquer poder de mando se converte em obrigação de obedecer.
São Lucas registra com precisão o modo peculiar de fazer a súplica, usando o termo “ordena”. Acostumado à disciplina, o centurião conhecia o poder de uma ordem, sobretudo no exército romano, cujo rigor prescrevia a pena capital aos insubordinados. Tal intransigência disciplinar havia criado um reflexo em sua alma, levando-o a reagir no campo sobrenatural, ao lhe ser infundida a fé, de acordo com o treinamento militar. Pois, do mesmo modo que uma única ordem era suficiente para mobilizar seus soldados sem a necessidade da presença física do comandante, ele cria bastar uma só palavra do Mestre para tudo se resolver. Comentando essa característica singular do pedido, afirma Fillion: “Sob esta linguagem direta, totalmente militar, havia uma fé e uma humildade admiráveis. O centurião supunha com acerto que Nosso Senhor era o dono de todas as forças da natureza, e podia lhes dar ordens quando quisesse”.’1
A certeza da eficácia da palavra de Jesus é prova de uma vigorosa fé na divindade d’Ele, segundo a interpretação dada por Santo Agostinho ao pedido: “Se eu, que estou subordinado, mando nos que estão debaixo de mim, tu, que não estás subordinado a ninguém, não poderás mandar em tua criatura, uma vez que todas as coisas foram feitas por ti e sem ti nada foi feito?”.’2 Também a simplicidade do oficial ao apresentar o problema a Nosso Senhor é reveladora de uma fé “desinteressada, genuína, absoluta e humilde”.’3 Acreditava depender tudo da vontade do Salvador, bastando transmitir-Lhe seu pedido para obter a realização. Esse insigne ato de fé não ficaria sem prêmio.
A fé de um pagão causa admiração ao Homem-Deus
9 Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia. e disse: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”.
A fé, virtude infundida por Deus na alma, é um dom gratuito que não depende do esforço humano para ser adquirida. Ora, neste versículo Jesus se encanta ao constatar, enquanto homem, a fé que Ele próprio, enquanto Deus, dera àquele pagão. Como explica o Cardeal Gomá y Tomás, “a fé do centurião não foi uma novidade para Ele, que penetra os corações, mas o conhecimento experimental que Lhe trouxe, ‘assim como o astrônomo fica admirado ao ver o eclipse, que já conhecia em teoria’; [tal fato se nota] pela expressão e gesto com que recebeu a confissão do gentio, porque era algo digno de admiração”.’14 Portanto, Ele fica admirado para dar-nos “a entender que nós é que nos devemos admirar”,15 esclarece São Beda.

E, virando-se para a multidão, o Mestre faz uma declaração que certamente deixou a muitos desconcertados: um pagão superara os judeus... por causa de sua fé! De fato, numerosos israelitas haviam presenciado os milagres operados pelo Salvador e ouvido diretamente dos lábios d’Ele um ensinamento novo dotado de potência (cf. Mc 1, 27). Contudo, não houve entre esses quem tivesse fé tão excelente quanto aquele gentio. “O centurião havia entendido por divina inspiração o que Jesus se esforçava, em vão, por fazer entender a seus contemporâneos: que n’Ele estava o próprio Pai, que se manifestava e atuava”,’6 comenta o padre Cantalamessa. Por isso, a afirmação de Cristo nessa passagem anuncia que, por desígnio da Providência, a verdadeira religião havia ultrapassado os limites aos quais estivera restrita, no Antigo Testamento, e que, no novo regime da graça, inaugurado com a Encarnação, ela se estenderia a todos os povos da Terra.

Evangelho Lc 9, 11b - 17 Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo ( Corpus Christi) Ano C 2013

Comentários ao Evangelho Lc 9, 11b - 17 Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo ( Corpus Christi)


Naquele tempo, 11b Jesus acolheu as multidões, falava-lhes sobre o Reino de Deus e curava todos os que precisavam.
12 A tarde vinha chegando. Os doze Apóstolos aproximaram-se de Jesus e disseram: “Despede a multidão, para que possa ir aos povoados e campos vizinhos procurar hospedagem e comida, pois estamos num lugar deserto”. Mas Jesus disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Eles responderam: “Só temos cinco pães e dois peixes. A não ser que fôssemos comprar comida para toda essa gente”.
14 Estavam ali mais ou menos cinco mil homens. Mas Jesus disse aos discípulos: “Mandai o povo sentar-se em grupos de cinquenta”.15 Os discípulos assim fizeram, e todos se sentaram. 16 Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o céu, abençoou-os, partiu-os e os deu aos discípulos para distribuí-los à multidão.
17 Todos comeram e ficaram satisfeitos. E ainda foram recolhidos doze cestos dos pedaços que sobraram (Lc 9, I lb- I 7).
Ao criar o homem com necessidade de se alimentar, quis Deus estabelecer na nutriçõo o sustento da vida natural. Esta situação é imagem da vida da graça, cuja base também é um alimento celeste: a Eucaristia.
A ALIMENTAÇÃO É CONATURAL AO HOMEM
A vida no Paraíso proporcionava ao homem inúmeros gozos e alegrias, pois a harmoniosa disposição de todas as coisas o cumulava de bem-estar. Nossos primeiros pais encontravam-se cercados de muitos privilégios concedidos por Deus, com vistas a que a felicidade da existência terrena os levasse a amá-Lo de maneira mais perfeita. Um desses deleites, quiçá pouco considerado, porém valioso, era a facilidade com que podiam servir-se dos melhores alimentos. Ensina São Tomás de Aquino que, sendo a alimentação parte do mandato divino (cf. Gn 2, 16), o homem pecaria caso não comesse.’ Não era necessário, entretanto, trabalhar para preparar o alimento, pois a própria natureza oferecia as mais deliciosas iguanas, prontas para serem degustadas. Prova disso é que Adão, quando foi posto fora do Éden, escutou de Deus estas duras palavras: “Ganharás o pão com o suor de teu rosto” (Gn 3, 19). 0 castigo revela que antes ele o recebia sem fadiga, embora não saibamos exatamente como isso se passava.
Com o pecado original, o homem perdeu este e tantos outros benefícios, conforme recorda São João Crisóstomo: “Foi como se Deus lhe dissesse: Eu te preparei, ao criar-te, uma existência isenta de dores, de trabalho, de fadigas e inquietudes. Tu gozaste de uma felicidade perfeita e, sem conhecer nenhuma das tristes sujeições do corpo, gozaste em plenitude de todas as delícias da vida. Mas tu não soubeste apreciar este feliz estado, e eis que Eu amaldiçoo a terra. Daqui em diante, se não a trabalhares e não a cultivares, ela já não te dará como antes seus, diversos produtos; Eu inclusive acrescentarei, aos trabalhos e penosos labores, as doenças e contínuas fadigas, de sorte que tu não possuirás coisa alguma senão ao preço de teus suores, e esta tão dura existência será uma contínua lição de humildade e uma lembrança de teu nada”.2
Apesar da severidade da repreensão, Deus agiu com misericórdia e uniu a demência ao rigor, não submetendo a humanidade a uma alimentação mesquinha. Vemos que, ao longo dos séculos, levando em conta essa necessidade do homem, foi Ele unindo as bênçãos concedidas a um povo, a um grupo ou a uma família, à fácil e abundante produção dos alimentos. Por exemplo, ao prometer aos judeus uma terra em sinal de Aliança, ressaltou que nela correria “leite e mel” (cf. Ex 3, 8.17; Dt 6, 3; Nm 13, 27).
O alimento, alegria para o homem
A comida de boa qualidade e farta proporciona alegria ao homem. Isso se verifica quando temos, por exemplo, a possibilidade de ir a um bom restaurante e provar algum prato especialmente saboroso: saímos dali satisfeitos e até generosos. Pitoresca é a atitude de Santo Inácio de Loyola, que costumava convidar comprazido o jovem Benedetto Palmio para participar de suas refeições pelo gosto de vê-lo comer bem, estimulando-o a que o fizesse à vontade e sem se ruborizar.3 Além disso, em qualquer cultura, quando alguém deseja comemorar um acontecimento social importante, como uma formatura ou um casamento, costuma oferecer um banquete, convidando familiares e amigos para festejar em torno da boa mesa. O alimento possui a indispensável função de sustentar a vida e a saúde, é verdade, mas não é este seu papel mais elevado, uma vez que tem a utilidade social de favorecer o convívio dos que participam da mesma refeição. Ele torna possível um particular entendimento entre as pessoas.
O Príncipe de Talleyrand, grande diplomata francês, quando tinha casos importantes a tratar com representantes de outras nações mandava pedir ao rei que lhe cedesse seu cozinheiro pessoal e se munia das melhores especialidades culinárias nacionais, tais como vinhos, champanhes e queijos. E era durante uma festa, ao redor da mesa repleta de iguanas, que resolvia os assuntos mais intrincados da alta diplomacia. Uma espirituosa afirmação feita por ele a Luís XVIII, antes do crucial Congresso de Viena, deixou consignada sua convicção da eficácia desse método: “Sire, eu preciso mais de panelas do que de instruções escritas”.4 A mesa é um meio de facilitar o convívio e amenizar os ânimos, coisa que nem sempre se obtém com meras palavras.
A Santa Igreja, portanto, com muita propriedade, escolheu para a Solenidade de Corpus Christi a narração evangélica na qual o próprio Criador do Céu e da Terra oferece àqueles que O seguiam uma incomparável refeição. E prenunciadora do banquete espiritual de seu Corpo e Sangue, no qual Ele é o Divino Anfitrião e ao mesmo tempo o Alimento. Poderá haver em torno de uma mesa convívio mais íntimo e sublime?
UM  MILAGRE PORTENTOSO PREPARA A EUCARISTIA
O milagre da multiplicação dos pães é o único que está relatado nos quatro Evangelhos, pormenor bastante expressivo para indicar sua importância. O fato se situa no período áureo da vida pública de Nosso Senhor e concorreu, em grande medida, para consagrar em Israel sua fama de Profeta e Taumaturgo. Nessa ocasião Ele partira acompanhado apenas pelos Apóstolos e Se encontrava na retirada região de Betsaida Júlia, a nordeste do Lago de Tiberíades. Havia pouco ocorrera a morte de São João Batista promovida por Herodes, cujas curiosas cogitações agora se voltavam para o Divino Redentor, um Personagem infinitamente maior que o Precursor. Por isso o governante estava à espreita de uma oportunidade para aproximar-se de Jesus, motivado, ao que tudo indica, por levianas ou perversas intenções. A sabedoria d’Aquele que sonda os rins e corações, no entanto, não ignorava a astúcia deste homem, e “com esse rápido afastamento parece ter querido evitar a vizinhança do tetrarca”,5 diz Fillion. Contudo, se o pretensioso Herodes perdeu a ocasião desejada, o mesmo não aconteceu com o povo, que logo ficou sabendo do paradeiro da barca do Mestre e pôs-se a caminho, por terra, para encontrá-Lo.
A recompensa dos que procuram o Reino de Deus
Naquele tempo, 11b Jesus acolheu as multidões, falava-lhes sobre o Reino de Deus e curava todos os que precisavam.
Qual foi a razão que levou a multidão a seguir Nosso Senhor? Como narram os evangelistas, não houve um só doente que, ao aproximar-se d’Ele com fé, pedindo a cura, ficasse sem ser atendido. Isso impressionava a opinião pública, dado que naquele tempo a medicina ainda não atingira grande progresso, o que concorria para tornar os milagres mais impactantes. Ele supria a ineficácia da ciência com um olhar, uma imposição de mãos, um desejo ou um toque que fosse, e curava todos num só instante. Aquela gente estava deslumbrada com os sinais divinos que transpareciam na humanidade de Cristo e dava-se conta do quanto os ensinamentos d’Ele mereciam todo crédito e acatamento e O seguia.
2 A tarde vinha chegando. Os doze Apóstolos aproximaram-se de Jesus e disseram: “Despede a multidão, para que possa ir aos povoados e campos vizinhos procurar hospedagem e comida, pois estamos num lugar deserto”.
Nosso Senhor ensinou: “Buscai o Reino de Deus e a sua justiça e o resto vos será dado por acréscimo” (Mt 6, 33). A multidão, em consonância com o conselho divino, acompanhava Jesus naquela circunstância pela convicção de que Ele era um extraordinário Profeta. Estavam desejosos de curas, sim, mas também buscavam a verdade, a doutrina, queriam conhecer mais a Deus e as realidades eternas.
Os Apóstolos, porém, encontravam-se preocupados com as providências materiais. Não atinavam que se o Mestre curava daquela maneira podia também realizar outros milagres e quiçá temessem ser mandados providenciar alimento para tão grande multidão. Por esse motivo propõem logo a Nosso Senhor despedir o povo, numa fuga sutil dessa responsabilidade. Ora, Ele podia perfeitamente matar a fome de todos, porque quem cura um coxo, um cego ou um surdo-mudo é capaz de remediar também outra doença muito mais leve chamada fome. Todavia, como o que Ele tinha em mente era formar os Apóstolos, deu-lhes uma resposta surpreendente.
Nosso Senhor põe os Apóstolos à prova
13 Mas Jesus disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Eles responderam: “Só temos cinco pães e dois peixes. A no ser que fôssemos comprar comida para toda essa gente”. 14a Estavam ali mais ou menos cinco mil homens.
O Salvador ordenou aos Apóstolos, então, que dessem de comer à multidão, para pô-los à prova, pois sabia o que ia fazer (cf. Jo 6, 6). Mas eles, desconfiados, comentavam que, como disse Filipe (cf. Jo 6, 7), mesmo se tivessem duzentas moedas de prata não seria suficiente para comprar pão e distribuir um pedaço para cada um dos que ali estavam: cinco mil homens, além das mulheres e crianças, o que perfazia um número bem maior. E ainda que possuíssem o dinheiro, onde encontrar tamanha quantidade de pão à venda naquela hora tardia? Santo André inclusive sublinha a situação, dizendo que o único vendedor de alimento no meio daquela aglomeração era um menino que carregava cinco pães e dois peixes (cf. Jo 6, 8-9). “Acreditava” — comenta São João Crisóstomo — “que o Autor dos milagres com pouco faria pouco, e com mais faria mais; o que, com toda clareza, não era assim”.6
Sendo Deus, Nosso Senhor tinha domínio absoluto sobre a matéria e podia tirar criaturas do nada, sem necessitar dos cinco pães e dois peixes, uma vez que sua própria vontade era suficiente para produzir o alimento que saciasse a multidão. “Com efeito, era-Lhe fácil fazer surgir indistintamente, de muitos ou de poucos, uma grande quantidade de pães, já que não precisava de matéria-prima”.7 No entanto, Ele pediu aos Apóstolos o que estava ao alcance deles, embora fossem tão só esses parcos víveres. Aprendamos, pelo exemplo que esta passagem nos oferece, a não negar até o pouco que temos quando o pede Jesus, lembrando-nos de que este pouco pode servir de pretexto para que Ele realize grandes maravilhas.
14b Mas Jesus disse aos discípulos: ‘Mandai o povo sentar-se em grupos de cinquenta’. Os discípulos assim fizeram, e todos se sentaram.
Nessa simples recomendação, o Divino Mestre manifesta seu perfeito senso de ordem. Para evitar febricitação ou correria, e para que a distribuição fosse feita com calma e até de modo cerimonioso, dispõe que as pessoas se sentem em grupos. Ademais, segundo observa também São João Crisóstomo, Ele agiu dessa maneira “para mostrar que, antes de comer, deve-se agradecer a Deus”.8
Milagre que é imagem da eucaristia
6 Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o céu, abençoou-os, partiu-os e os deu aos discípulos para distribuí-los à multidão. I7a Todos comeram e ficaram satisfeitos.
Difícil é não relacionar os gestos de Jesus nesta cena com aqueles que mais adiante adotaria para instituir o Sacramento da Eucaristia. Ia Ele, com isso, preparando as multidões para o grande mistério que seria revelado algum tempo depois. A magnitude do milagre é indicada pelas palavras: “todos comeram e ficaram satisfeitos” ou, como escreve São João, “tanto quanto queriam” (6, 11). Podemos supor que cada um dos presentes também obteve, além da medida para matar a fome do momento, uma quantidade excedente para levar para os seus lares. Tão imenso benefício afluía, nas palavras de São Gregório de Nissa, “dos celeiros inesgotáveis do divino poder”.9
7b E ainda foram recolhidos doze cestos dos pedaços que sobraram.
Mais uma vez o texto evangélico deixa transparecer em Nosso Senhor o apreço pela ordem e até pela limpeza, e o quanto Ele é amante da disciplina, não deixando as sobras pelo chão. Foram recolhidos os pedaços restantes que encheram doze cestos. Quis Jesus que o número coincidisse com o dos Apóstolos, para que eles mesmos carregassem os fardos e comprovassem a dimensão do milagre de que antes desconfiaram. “Isso ocorreu com vistas à instrução dos discípulos. [...] Pelo mesmo motivo aconteceu que o número de canastras fosse exatamente igual ao dos discípulos. [...] Não me admira apenas a grande quantidade de pães, como também, e ao lado disso, a exatidão das sobras, de sorte que não fez com que sobrassem nem mais nem menos, mas justamente o que queria”.10
Fica patente o poder de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre a matéria em geral, sobre o alimento e, em concreto, sobre o pão, pelo modo com que Ele o multiplica conforme seus desígnios, não permitindo sequer que os restos sejam menosprezados. Ao instituir a Eucaristia, mais tarde, também não queria que os fragmentos do Pão consagrado fossem tratados sem veneração, como pretendem certos incrédulos que defendem a Presença Real nas espécies eucarísticas só durante o ato litúrgico. Igualmente é digno de nota que Ele, por um princípio simbólico, não permitiu jogar nada fora para nos ensinar que não se deve perder ninguém. Ainda que uma alma esteja trilhando as vias do pecado, é preciso empreender todos os esforços para recuperá-la, pois não é outro o divino anseio: “Daqueles que me destes, Eu não perdi nenhum” (Jo 18, 9).
Ele quis que o milagre se desse com todas essas características para facilitar a compreensão do grande dom que em breve lhes ofereceria: a Sagrada Eucaristia. Tendo demonstrado possuir tamanho poder sobre o pão, tornava patente que, se o desejasse, poderia retirar dele a substância original para dar lugar a seu Corpo, Sangue, Aima e Divindade,11 embora permanecessem os mesmos acidentes — sabor, aparência, textura, odor. Dessa forma, Jesus criava as condições para que as pessoas com fé correspondessem à dádiva inigualável que, desde toda a eternidade, havia preparado.
O IMENSO DOM DA EUCARISTIA
A partir deste episódio que contemplamos aqui pela pena de São Lucas, São João, por sua vez, em seu Evangelho, demonstra na sequência da sua narração que com esse milagre Nosso Senhor tinha em vista a revelação formal da Eucaristia. O milagre da multiplicação dos pães é apenas uma introdução — pálida, mas quão cuidadosa — escolhida pelo Redentor para sublinhar o tema eucarístico e desenvolvê-lo com extraordinária clareza no discurso sobre o Pão da Vida (cf. Jo 6,22-59). Eis a razão de ser lembrado pela Igreja ao comemorar a Solenidade de Corpus Christi.
O significado profundo do milagre está no fato de Deus ter criado o homem com a necessidade digestiva — como aludimos a princípio — porque iria oferecer-Se em alimento. Ele, que poderia ter-nos criado com a subsistência baseada somente no ar, por exemplo, quis que tivéssemos a necessidade de comer, para ficar patente que, assim como na alimentação se encontra a base da vida natural, a essência da vida da graça está na Eucaristia.’2
Um banquete para a alma
A Eucaristia é um sagrado banquete — “o sacrum convivium”,’3 diz a bela antífona composta por São Tomás para o Ofício Divino desta Solenidade —, no qual temos especial convívio com Nosso Senhor Jesus Cristo; um banquete divino porque é oferecido por Deus, realizado com Deus, a propósito de Deus. Incomparavelmente mais que uma champanhe de excelente qualidade, mais que um caviar russo, mais do que qualquer iguaria que se possa conceber, na mesa da Eucaristia é oferecido o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do Salvador. E o próprio Deus dando-Se a nós como alimento de valor infinito, cujo efeito os curtos limites de nossa inteligência não al-cançam. É o mysterium fidei. Se São Tomás afirma que a menor participação na vida da graça supera todo o universo criado,14 que dizer do valor do próprio Criador da graça? A Eucaristia é, por conseguinte, o mais importante de todos os Sacramentos quanto à substância, por consistir no próprio Deus e Autor da graça, enquanto os demais apenas transmitem a graça, a participação criada na vida divina incriada.’5 E por isso, ensina ainda o Doutor Angélico, que todos os outros Sacramentos existem em função da Eucaristia, embora não seja esta a porta dos demais, como o é o Batismo.16 Todas as riquezas da Terra são como poeira perto do Santíssimo Sacramento, manifestação do extraordinário amor de Deus para conosco!
Os efeitos do mais excelso Sacramento
Qual é, então, a união com Nosso Senhor produzida por tão alto dom? Diz o Evangelho: “Assim como o Pai que me enviou vive, e Eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha Carne viverá por mim” (Jo 6, 57). Sempre que estamos na graça de Deus, Ele permanece em nós e nós permanecemos n’Ele, pois por sua divindade é o único Ser que pode inabitar em nós. Essa união se intensifica na hora da Comunhão, quando, além da inabitação da Santíssima Trindade, acrescenta-se a presença do Corpo glorioso, Sangue e Alma de Nosso Senhor Jesus Cristo: “mens impleturgratia”,’7 a alma fica repleta de graça. “Não há Sacramento mais salutar que este para purificar os pe cados, dar novas forças e enriquecer o espírito com a abundância de todos os dons espirituais”,’8 afirma o Doutor Angélico. É um verdadeiro manancial de toda graça, pelo que, em rigor, uma só Comunhão seria suficiente para nos tornar santos!
Esta união é tão alta que custa encontrar um exemplo na natureza que se aproxime dessa realidade sobrenatural. Uma esponja seca logo se embebe ao ser lançada na água, mas a união com Cristo na Eucaristia é muito maior, pois na esponja a água ocupa espaços vazios, na Eucaristia, porém, Ele nos “embebe” por inteiro. Para empregar outra imagem, é como se tirassem todo o nosso sangue por uma das veias e por outra fosse introduzido o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. A fim de exprimir tão sublime realidade, São Cirilo de Alexandria propõe a metáfora da cera: “Assim como a cera derretida acrescentada a outra cera se mistura perfeitamente, constituindo-se uma só, também aquele que recebe o Corpo e o Sangue do Senhor fica unido a Ele tão estreitamente, que Cristo está nele e ele em Cristo”.19 E uma união de tal maneira forte que bem poderíamos chamar de “mútua compenetração”, a qual dura enquanto as espécies eucarísticas permanecem em nós.
Não é sem razão que continua dizendo com agudeza São Tomás, na mesma antífona, que a Eucaristia é “penhor de nossa salvação e ingresso na vida eterna”.20 De fato, para aí chegarmos há uma série de condições, entre as quais a de comungar. Enquanto estamos na Terra, vivemos fora da verdadeira Pátria: o Céu. Deus nos faz passar pelas aflições deste vale de lágrimas porque nos dará tanta glória que, se não tivéssemos experimentado a dor, julgaríamos merecer o prêmio oferecido, o qual, na verdade, está muito acima de nós.
FAÇAMOS CRESCER ESSA SEMENTE!
Quando analisamos uma semente, sabemos que dali pode nascer uma enorme árvore. E a graça é uma semente da glória. Se nesta vida formos fiéis às graças recebidas para nos manter com integridade dentro da prática da virtude e obedientes à Lei de Deus, protegeremos nossa semente e a faremos germinar. Basta colocá-la na terra e tratá-la com esmero que ela se desenvolverá. Pelo contrário, pequenos atos de inveja, de comparação, uma mentira sem importância ou, pior ainda, um pecado mortal, tiram o viço daquele germe e impedem que dele nasça a árvore, ou seja, que desabroche para a glória eterna. Como devemos agir para conservar nossa semente, de tal forma que não só venha a dar uma árvore, mas que seja repleta de frutos? Através da comunhão frequente. A comunhão é penhor de glória futura, é como uma certidão assinada por Deus de que nos serão abertas as portas do Céu. Todos aqueles que se alimentam do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor vão ressuscitar no último dia e obterão a eternidade feliz, pois Ele prometeu: “Quem come minha Carne e bebe meu Sangue terá a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54). Quem vai nos ressuscitar é Ele. E assim como acreditamos que Ele está na hóstia e no vinho consagrados, que é realmente a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnada, que morreu na Cruz para nos redimir e agora está sentado à direita de Deus Pai, também devemos crer com toda a segurança na sua promessa de sermos ressuscitados em corpo glorioso se seguirmos sua recomendação.
Sem embargo, comprovamos, com pesar, como esta dádiva é esquecida e, por vezes, até desprezada, pois a maioria das pessoas não dá suficiente valor à Eucaristia e negligencia a Comunhão, além de abandonar Jesus Hóstia no sacrário. Se soubéssemos, por exemplo, que tomando todos os dias um elixir misterioso nos transformaríamos na pessoa mais rica, mais bela ou mais inteligente do mundo, estaríamos dispostos a qualquer sacrifício para obter tal bebida. Ora, com a Eucaristia não se trata de ficarmos ricos, belos ou inteligentes, mas sim de receber a maior riqueza, beleza ou inteligência que possa haver: a eterna bem-aventurança.
Nosso Senhor adverte para o valor desse dom na parábola do banquete (cf. Mt 22, 2-14), na qual um rei convida seus súditos para participar de uma grande festa. Deus chama todos os homens para o banquete eterno, e este começa aqui na Terra, com a Eucaristia. Podemos comungar sempre que quisermos. O Santíssimo Sacramento permanece à nossa disposição em inúmeras igrejas e muitos ainda fazem o mesmo que os servos maus da parábola, que preferiram tratar de seus negócios e deixaram o rei sozinho. Se tivéssemos a possibilidade de comungar uma única vez durante a vida poderíamos dar toda a nossa existência por muito bem empregada. E Ele Se oferece a nós diariamente... Que insondável misericórdia!
Ação de graças junto com Maria
Diante de tanta sublimidade, como deveria ser nossa acção de graças ao comungar? Deveria ser um êxtase de amor! Feita com todo carinho e devoção, profunda e séria, cheia de piedade, encanto, fogo e entusiasmo, e não um palavrório vazio, entrecortado por distrações, alheio ao tesouro que levamos dentro de nós.
Com que recolhimento e adoração terá comungado Maria Santíssima! O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira compôs uma bela oração dirigida a Nossa Senhora, na qual interpreta a súplica de um fiel que gostaria de receber a Eucaristia com disposições semelhantes às d’Ela: “Minha Mãe, quando Jesus estava em vosso claustro, Vós encontrastes inúmeras coisas para Lhe dizer; vede, entretanto, que misérias eu digo no momento em que O recebo na Sagrada Eucaristia! Por isso eu Vos peço: falai por mim, minha Mãe, e dizei-Lhe tudo quanto eu quereria ser capaz de dizer, mas não o sou. Adorai-O como eu quereria adorá-Lo; dai-Lhe a ação de graças que eu quereria dar-Lhe; apresentai-Lhe atos de reparação pelos meus pecados e pelos do mundo inteiro, com um calor de reparação que, infelizmente, eu não tenho” 21.

Sejamos, a exemplo de Nossa Senhora, muito cuidadosos em nossa ação de graças: compenetrados do quanto temos para agradecer a Jesus, para louvá-Lo e adorá-Lo, sem nos esquecer de pedir perdão por nossas faltas. Que esta Solenidade de Corpus Christi seja a ocasião ideal para afervoramos nosso coração com um amor mais intenso pela Sagrada Eucaristia, pois é neste alimento celeste que encontraremos as forças para enfrentar as dificuldades da vida, até alcançarmos a eternidade feliz. Guiados pelo insuperável exemplo de Maria, tenhamos a firme convicção de que Ele se compraz com a ação de graças de um pecador que se reveste dos méritos d’Ela: “Devemos pedir que Nossa Senhora esteja espiritualmente presente em nossa Comunhão a fim de que preencha, de algum modo, o infinito espaço que nos separa de seu Divino Filho, o qual nos acolherá, satisfeito por havermos recorrido à sua Mãe. Ele então nos dirá: ‘Tu és um filho de Maria, minha Mãe, pede-me o que queres” .22 Além dos pedidos individuais que podemos e devemos fazer, imploremos a graça de realizar com fruto tudo o que estiver ao nosso alcance para a maior glória de Deus e exaltação da Santa Igreja. 
1) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.97, a.3, ad 3.
2) SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilice in Genesim. In Cap. III Genes., hom.XVII, n.9: MG 53, 146.
3) Cf. GARCÍA-VILLOSLADA, SJ, Ricardo. San Ignacio de Loyola. Nueva Biografía. Madrid: BAC, 1986, p.598.
4) CASTELOT, André. Talleyrand ou le cynisme. Paris: Perrin, 1980, p.536.
5) FILLION, Louis-Claude. Nuestro Señor Jesucristo según los Evangelios. Madrid: Edibesa, 2000, p.205.
6) SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XLII, n.2. In: Homilías sobre el Evangelio de San Juan (30-60). Madrid: Ciudad Nueva, 2001, v.11, p.141.
7) Idem, ibidem.
8) Idem, p.141-142.
9) SÃO GREGÓRIO DE NISSA, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.IX, v.10-17.
10) SAO JOAO CRISÓSTOMO. Homilía XLII, n.3. In: Homilías sobre el Evangelio de San Juan (30-60), op. cit., p.143.
11) Cf. SAO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.75, a.4.
12) Cf. Idem, q.79, a.1.
13) SAO TOMAS DE AQUINO. Officium Corporis Christi “Sacerdos”. Vesp. II, antiph. ad Magnificat.
14) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I-II, q.113, a.9, ad 2.
15) Cf. Idem, III, q.65, a.3.
16) Cf. Idem, ibidem.
17) SAO TOMÁS DE AQUINO, Officium Corporis Christi “Sacerdos”, op. cit.
18) Idem, noct.1, lect.2.
19) SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA. In bannis Evangelium. L.PvÇ c.2: MG 73, 365.
20) SAO TOMÁS DE AQUINO. Officium Coiporis Christi “Sacerdos”. Vesp. II, antipli. ad Magnificat
21) CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência. São Paulo, 24 mar. 1984.
22) CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Mane nobiscum Domine. In: Dr Plinio. São Paulo. Ano XIII. N.143 (Fey., 2010); p.17.

Arautos do Evangelho

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Evangelho 9º Domingo do Tempo Comum — Lc 7, 1-10 — Ano C 2013

Comentários ao Evangelho  9º Domingo do Tempo Comum  Lc 7, 1-10 — Ano C 2013
Fé na divindade Jesus
3 O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado.
A fama de Nosso Senhor corria “por todos os lugares da circunvizinhança” (Le 4, 37), escreve o Evangelista, logo após a narração da cura de um possesso em Cafarnaum. E a notícia chegou também aos ouvidos do centurião. Certamente, entre os relatos acerca d’Aquele homem extraordinário, contaram-lhe os numerosos milagres operados em benefício dos enfermos. Foi o suficiente para o oficial encher-se de confiança: aquele Mestre dos judeus poderia restabelecer a saúde de seu empregado! Nesse instante, sem o saber, deu seu primeiro assentimento à graça da fé na divindade de Jesus, crendo de imediato na onipotência d’Ele, como sublinha Santo Ambrósio: “Conjecturou que Cristo dava a saúde aos homens não com poder de homem, mas de Deus”.6
Talvez por considerar-se indigno de ser atendido por um homem célebre entre os próprios judeus — os quais procuravam manifestar de modo categórico sua eleição divina e, como consequência desta, sua superioridade em relação aos gentios —, o centurião pediu aos anciãos da cidade que apresentassem sua súplica a Jesus, em favor de seu servo.
Atraído pelo Deus verdadeiro
4Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: “O oficial merece que lhe faças este favo porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga.
Um oficial romano geralmente era bem abastado, pois, além da remuneração própria ao cargo, cabia-lhe a maior parte dos despojos obtidos na guerra. A largueza de posses do centurião de Cafarnaum é comprovada pelo fato de ter construído uma sinagoga, gesto que propiciou o sentimento de gratidão do povo pelo benfeitor da religião, dada a importância dedicada ao culto por todo israelita.
Os anciãos não hesitaram, então, em interceder por ele junto ao Mestre. No entanto, pelo modo de apresentar o pedido, podemos perceber como os ensinamentos de Nosso Senhor ainda não lhes haviam penetrado a mentalidade, pois dizem que o centurião “merece” o milagre por estimar o povo judeu e ter-lhe feito um benefício. Portanto, estavam convencidos de que Deus favorecia quem, através de atitudes exteriores, se mostrava digno de ser por Ele agraciado, dentro da antiga lei da mera reciprocidade. O milagre se lhes afigurava mais como uma recompensa do que como uma misericórdia divina, e o Salvador lhes mostrará quão equivocada era tal concepção.
De outro lado, vemos quanto esse oficial se mostrava simpático à religião verdadeira, sendo provavelmente “um daqueles pagãos aos quais já não satisfaziam os mitos politeístas, cuja fome religiosa não se saciava com a sabedoria dos filósofos e que, por conseguinte, simpatizava com o monoteísmo judaico e com a moral que dele derivava. Era temente a Deus, professava a fé no Deus único, participava do culto judaico, mas ainda não havia passado definitivamente ao judaísmo. Todavia, buscava a salvação de Deus. Manifestava sua fé no Deus único, seu amor e seu temor a Deus no amor ao povo de Deus e na solicitude pela sinagoga que ele mesmo havia edificado. Seus sentimentos se expressavam em obras”.7
De fato, a abertura dos gentios em relação ao judaísmo era fenômeno frequente nesse período histórico em que diversos povos se encontravam aglutinados sob o jugo de Roma. Tal situação favorecia as relações entre judeus e gentios, trazendo como consequência que um considerável contingente de pagãos vivia à maneira judaica, adotando muitos costumes hebreus, como descreve Flávio Josefo: “Vários outros povos também há muito tempo ficaram tão impressionados pela nossa piedade, que não há cidade grega, nem bárbaros, onde não se deixe de trabalhar no sétimo dia, onde não se acendam lâmpadas e onde não se façam jejuns”.8
Encontrando-se em circunstâncias de tal modo oportunas, boa parte dos judeus não hesitava em fazer proselitismo, seguindo o conselho do velho Tobias: “Se Ele vos dispersou entre os povos que não O conhecem, foi para que publiqueis as suas maravilhas e lhes façais reconhecer que não há outro Deus onipotente senão Ele” (Th 13, 4). No parecer de Fillion, o centurião era um dos chamados “prosélitos da porta”, ou seja, “chegado até o umbral dessa religião superior, na qual não se entrava definitivamente senão com a condição de fazer-se circuncidar e praticar integralmente a Lei de Moisés”.9
Eficácia da mediação e da humildade
Então Jesus pôs-se a caminho com eles.
Nosso Senhor toma a iniciativa de ir até a casa do oficial, expressando desse modo, seu agrado diante de atitude tão confiante. Repete-se, no caso, uma peculiaridade que já havia movido Jesus a realizar outros milagres, como a cura da sogra de Pedro (cf. Lc 4, 38-39), ou o restabelecimento e perdão dos pecados do paralítico descido pela abertura de um teto (cf. Mc 2, 3-5): o Salvador não exige dos enfermos a manifestação do desejo de serem curados, bastando-Lhe a fé dos intercessores.
6b Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno dc que entres em minha casa. 7a Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente a teu encontro”.
O oficial sabia ser proibido na Lei de Moisés que um judeu entrasse nas casas dos pagãos, sob pena de tornar-se impuro quem o fizesse. Preocupado com os ritos de purificação aos quais obrigaria a passar o Mestre, após visitá-lo, e, sobretudo, por julgar que tal condescendência sobrepujava em muito sua indignidade de pagão, enviou-Lhe uma mensagem com o objetivo de poupá-Lo de tal constrangimento.

Cabe-nos aqui analisar essa atitude de humildade: contrastando com o conceito positivo que os anciãos e todo o povo da cidade tinham a respeito de sua pessoa, o centurião dá provas de uma equilibrada apreciação de seus próprios predicados, declarando sua pequenez diante da grandeza de Cristo. Sem dúvida, essa atitude submissa da parte de um personagem cujo poderio inspirava temor causou considerável impressão na multidão.
6) SANTO AMBROSIO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.VII, v.1-10.
7) STÖGER, Alois. El Nuevo Testamento y su mensaje. El Evangelio según San Lucas. Barcelona: Herder, 1970, v.111-i, p.200.
8) FLAVIO JOSEFO. História dos Hebreus. Contra Apio. L.II, c.9.
9) FILLION, Los milagros de Jesucristo, op. cit., p.295.