“Naquele tempo, 13 alguém, do meio da multidão, disse a
Jesus: ‘Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo’. 14 Jesus
respondeu: ‘Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?’ 15
E disse-lhes: ‘Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque,
mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na
abundância de bens’. 16 E contou-lhes uma parábola: A terra de um homem rico
deu uma grande colheita. 17 Ele pensava consigo mesmo: ‘Que vou fazer? Não
tenho onde guardar minha colheita’. 18 Então resolveu: ‘Já sei o que vou fazer!
Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu
trigo, junto com os meus bens. 19 Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu
tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’ 20 Mas
Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para
quem ficará o que tu acumulaste?’ 21 Assim acontece com quem ajunta tesouros
para si mesmo, mas não é rico diante de Deus” (Lc 12, 13-21).
A tentação da “limbolatria”
Diante
dos prazeres, até legítimos, que a vida nesta Terra pode oferecer, facilmente o
homem se esquece da eternidade para a qual foi criado. I – A vocação trocada
por uma fechadura...
Passado algum tempo, foi-lhe
destinada uma cela cuja porta rangia e batia sem cessar dia e noite, pois não
se fechava bem. Querendo resolver o problema, nosso monge pediu licença ao
superior e fabricou uma magnífica fechadura. Além disso, aproveitou para
consertar a própria porta, ajustando-a melhor ao marco da parede. Afinal,
conseguiu transformá-la numa peça modelar para toda a comunidade.
Encantado com seu próprio
labor, passeava pelos corredores do edifício, admirado por não achar nenhuma
fechadura comparável à dele, tão perfeita e bem acabada. Entretanto, com o
correr dos meses, foi criando dentro de si um apego excessivo pelo acessório,
aparentemente inofensivo.
Certo dia ordenou o abade uma
mudança de celas na comunidade. Acabrunhado pela perspectiva de ver-se obrigado
a repetir o minucioso trabalho em seu novo destino, o monge-ferreiro pediu
permissão para levar consigo a fechadura. Mas, por determinação do superior, ninguém
dispunha de autorização para transladar alguma parte do mobiliário na mudança
de uma cela para outra. Descontente com a deliberação do prior e não estando
disposto a renunciar à sua excelente fechadura, o monge arrancou-a da porta e
decidiu abandonar a vocação religiosa, recebida das mãos de Deus, portando
consigo o objeto de seu apego e embrenhando-se nos caminhos do mundo...
O que está por detrás da
história da fechadura desse monge? É o que nos ensina o Evangelho do 18º
Domingo do Tempo Comum.
O perigo da ganância
O episódio narrado neste
Evangelho se passa quando Jesus e seus discípulos estavam a caminho de
Jerusalém, cidade onde Ele iria consumar sua missão divina. Anteriormente, por
duas vezes, já havia predito a Paixão (cf. Lc 9, 22.44). Contudo, os discípulos
não entendiam o elevado significado de tal anúncio e ainda tinham a esperança
de serem os primeiros no suposto reino messiânico a ser fundado por Cristo
neste mundo (Cf. Lc 9, 45-46). Para corrigir essa visualização humana, Ele os
enviara em missão, dando-lhes poder para expulsar os demônios, e lhes ensinara
o Pai-Nosso, incitando-os à perseverança e confiança na oração (cf. Lc 10-11).
Foi em meio às atividades desse ministério tão sobrenatural que foi feito ao
Mestre este singular pedido.
“Naquele tempo, 13 alguém, do meio da multidão, disse a
Jesus: ‘Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo’”.