Conclusão dos comentários ao Evangelho Mt 4, 12-23 – 3º Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, E.P.
Não tinha chegado a hora de Se
manifestar como Filho de Deus
23 Jesus percorria toda a Galiléia,
ensinando nas sinagogas e pregando o Evangelho do Reino de Deus, e curando
todas as enfermidades entre o povo.
Depois
de longas décadas no silêncio oculto de Nazaré, vemos agora o Salvador no pleno
exercício de Sua missão pública, pregando sobre o Reino de Deus, curando os
enfermos e expulsando os demônios. Não sabemos dizer quanto durou essa zelosa
atividade apostólica, mas não seria exagerado supor ter ela se prolongado por
vários meses.
É rica
em conteúdo a apreciação feita pelos Professores da Companhia de Jesus, a
propósito desse versículo 23: “O evangelista resume nestes poucos versículos a
missão de Cristo na Galiléia. Nos capítulos seguintes (5-7) ele nos vai
apresentá-Lo primeiro como o grande doutor anunciado pelos profetas e, depois
(8-9), como taumaturgo que opera toda classe de milagres para confirmar a
verdade de Sua doutrina. Aqui, em geral, nos diz que Jesus percorria os
povoados da Galiléia, sem dúvida acompanhado dos discípulos que acabava de
escolher, ensinando a Boa Nova — é este o significado da palavra Evangelho —, a
qual era a próxima vinda do Reino dos Céus (v. 17). Pregava, como anota o
evangelista, nas sinagogas. [...] Pregava também, como insinua o evangelista e
veremos mais adiante, nos campos e nas praças. Confirmava a verdade de Sua
doutrina com milagres, que eram ao mesmo tempo obras de caridade, curando toda
espécie de enfermidades. Essas curas milagrosas eram uma das características do
Messias anunciada pelos profetas, especialmente por Isaías (35, 5-6)” 10.
A
convicção de Jesus quanto ao Seu papel de Messias jamais poderá ser posta em
dúvida. Sua simples genealogia seria suficiente para demonstrar isso; nem se
fale, então, sobre as revelações feitas por São Gabriel, tanto à Virgem Mãe
quanto a Zacarias, a presença dos pastores no Presépio, a visita dos Reis Magos
e a própria resposta dada a Maria ao reencontrá-Lo no Templo: “Não sabíeis que
é preciso eu cuidar dos interesses de meu Pai?” (Lc 2, 49). Esses fatos
evidenciam quão grande e exata era a compenetração que Ele possuía em relação à
Sua missão.
Porém,
se de um lado a consciência a respeito dos fins — imediato e último — era
claríssima ab initio e nunca cresceu
nem, menos ainda, diminuiu, Sua manifestação aos outros foi progressiva. Aqui
na Galiléia encontramos o Divino Mestre numa fase inicial.
Era não
só prematuro, mas até imprudente, revelar em todo ou em parte Sua divindade. Só
muito mais tarde — por volta de dois anos após o Batismo no Jordão — Pedro
proclamará sua filiação divina, por pura revelação do Pai, e, em seguida, os
apóstolos receberão a ordem de manterem o assunto em sigilo.
A mesma
norma de conduta será imposta aos demônios dos possessos (cf. Lc 4, 33-41,
etc.) e aos próprios enfermos miraculados (cf. Mt 12, 16, etc.). E se assim não
fosse, o resultado seria incontrolável, devido à forte impressionabilidade das
multidões a propósito de um Messias político. Haja vista a reação do povo após
a multiplicação dos pães (cf. Jo 6, 14-15).
No
último ano de Sua vida pública, a manifestação será revestida de um esplendor
exuberante. Mas, neste período da Galiléia, “o Evangelho do Reino de Deus” é
pregado pelo Filho do homem a uma opinião pública com insuficiente fé para
reconhecer a infinita grandeza do Filho de Deus.
1) Cf. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 38, a.1,
ad 2. 2 2) Cf. TERTULLIANO, Quinti Septimii Florentis. Adversius Marcionem, l.
IV, c. 33: PL 2, 471.
3) La Sagrada Escritura — Texto y comentario por Professores
de la Compañía de Jesús. Madrid: BAC, 1961, pp. 49-50.
4) MALDONADO, P. Juan de, S.J. Comentarios a los cuatro
Evangelios. Madrid: BAC, 1950, v. I, p. 223.
5) GOMÁ Y TOMÁS, Dr. D. Isidro. El Evangelio explicado.
Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, v. II, p. 72.
6) Idem, ibidem.
7) FILLION, L CL. Vie de
N.-S. Jésus Christ. Paris
VI: Librairie Letouzey et Ané, 1922, t. II, p. 127.
8) GOMÁ Y TOMÁS, Dr. D. Isidro. Ibidem. Ibidem.
9) In de MALDONADO, P. Juan, S.J.
10 ) La Sagrada Escritura — Texto y comentario por
Professores de la Compañía de Jesús. Madrid: BAC, 1961, p. 54.
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